21|Between Truth and the Abyss

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Os dias se arrastavam a bordo do navio de Dante como uma tormenta silenciosa. O capitão mantinha uma postura implacável à frente da tripulação, mas os olhares curiosos e sussurrados dos homens sobre a situação entre ele e Aurora se tornaram quase insuportáveis. Ela evitava o convés quando ele estava por perto, e Dante fingia não se importar, mas cada silêncio, cada ausência dela ao seu lado, corroía algo profundo dentro dele. Ela parara de dividir o mesmo quarto e, mais que isso, parecia intocável, como se estivesse a quilômetros de distância, mesmo estando apenas alguns metros abaixo do convés.

Numa noite de céu claro, Dante encontrava-se sozinho no convés, o mar tranquilo refletindo a luz das estrelas, mas dentro dele o caos era completo. Ele acendeu um charuto, buscando refúgio no silêncio da noite, até ouvir passos suaves atrás de si. Sem se virar, ele soube que era Aurora — o perfume dela, ainda que tênue, cortava o ar como uma lembrança persistente.

Porém, ela não parou. Passou por ele, como um fantasma, e subiu até a borda, onde ficou observando o horizonte, o cabelo sendo levemente bagunçado pelo vento. Dante sentiu-se impelido a dizer algo, mas o orgulho e o receio de afastá-la ainda mais o paralisavam. Ele observou enquanto ela se afastava de novo, descendo a escada em direção aos aposentos.

Foi quando, naquela noite, teve uma ideia.

Na manhã seguinte, ao som de risos e murmúrios curiosos, Aurora foi surpreendida por um chamado vindo do convés principal. "Senhorita Aurora! O capitão tem uma surpresa!" gritou um dos marujos, com um sorriso suspeito.

Confusa, ela subiu, sem imaginar o que a aguardava. Ao chegar ao convés, viu que a tripulação se afastava para os lados, formando um corredor em direção à popa, onde Dante esperava com uma expressão séria. Ao lado dele, uma pequena mesa havia sido montada, coberta com frutas exóticas, flores marinhas e, no centro, uma pequena caixa de madeira entalhada com cuidado, reluzindo sob o sol.

Dante respirou fundo quando os olhares se encontraram. "Aurora," ele começou, a voz soando hesitante, mas firme. "Eu sei que... você provavelmente preferia que não estivesse mais aqui. Que estivesse longe de mim." Ele lançou um olhar sobre a tripulação, que assistia à cena com expectativa. "Mas antes que tome qualquer decisão sobre nós, sobre mim, quero que aceite isso." Ele apontou para a caixa.

Com um olhar desconfiado e o coração acelerado, Aurora deu alguns passos à frente, parando diante da caixa. Ao abri-la, ficou em silêncio. Lá dentro, entrelaçadas em tecido fino, havia várias folhas de papel, algumas já amareladas, cheias de anotações e marcas.

"São os mapas das rotas que usamos nas últimas semanas, e rotas alternativas para escapar dos conflitos com outros navios... e, entre eles, o caminho de volta à costa mais próxima," ele disse, cruzando os braços, a expressão séria. "Se é isso o que quer, se quer partir... vou deixar que vá. Mas também quero que saiba que minha tripulação a conduzirá em segurança."

Ela o encarou, tentando decifrar cada traço no rosto dele. Havia sinceridade em seus olhos, mas também algo que ela nunca vira antes: vulnerabilidade.

Dante respirou fundo, buscando coragem. "Mas... se decidir ficar... quero lhe mostrar outra coisa." Ele estendeu a mão, indicando que ela se aproximasse da borda do navio. Ao olhar para o mar, ela viu pequenos barcos e redes — a tripulação havia criado um improvisado festival marinho, e vários pescadores da tripulação sorriam e acenavam com bandeiras feitas de tecidos coloridos.

"Se ficar," ele murmurou, "prometo que vou mudar, vou me tornar alguém que... alguém que você possa respeitar, talvez um dia até gostar. Eu só preciso que me dê uma chance."

Aurora ficou em silêncio, os olhos marejados, encarando o horizonte, o mar, e, por fim, Dante, que aguardava sua resposta com uma esperança contida.

Eu olhei para os mapas na caixa, a promessa de liberdade ao alcance das mãos. Era só segui-los, deixar esse navio, os olhares da tripulação e o peso da presença de Dante para trás. A escolha estava ali, simples... e no entanto, o mar à minha frente parecia menos vasto que o abismo dentro de mim.

Nas Garras do CapitãoOnde histórias criam vida. Descubra agora