Um crime? Whisky com guaraná?

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Ana Carolina estava finalmente sozinha em seu quarto, digerindo a enxurrada de emoções que a atingira ao descobrir que a rede de hotéis Civello fora a compradora de seus quadros. Depois de um banho, ela se jogou na cama, ainda surpresa e um pouco inquieta. Nunca tinha pensado que suas pinturas, aquelas telas abstratas de acrílico cobertas com resina, um reflexo de suas emoções mais profundas, estariam expostas em um lugar tão prestigiado. A luz que atravessava suas peças mudava a cada ângulo, criando uma impressão visual única, mas, mesmo assim, Ana nunca soube ao certo se considerava aquilo "arte" de verdade. Havia sempre aquela dúvida: era expressão ou apenas decoração?

Ela se lembrou do momento no saguão, quando se deparou com uma de suas obras na parede, o vermelho sangue dominando boa parte da tela. A sensação de estar "nua" diante dos outros, exposta por trás do pseudônimo que criara para esconder seu verdadeiro eu, a deixou desconfortável. Era como se suas emoções mais íntimas estivessem reveladas ali, sem permissão. Até agora, ninguém além de Naná — sua ex-namorada e empresária — havia visto tanto de si. E ainda assim, seu trabalho estava ganhando um espaço que ela nunca imaginou.

Suspirando, Ana levantou-se da cama. Não tinha muito tempo para se perder em pensamentos. O jantar com sua família estava logo ali, e, por mais que detestasse esses eventos, não tinha escapatória. Escolheu um conjunto de linho preto, formal e sóbrio, mas que ainda deixava espaço para a sua identidade. Colocou anéis finos nos dedos e bagunçou levemente os cachos que caíam pelos ombros. Ao se olhar no espelho, a imagem refletida era de alguém que estava se preparando para enfrentar algo muito mais complicado do que apenas uma refeição em família.

Descendo ao saguão do hotel, Ana passou rapidamente pelo quadro pendurado, forçando-se a ignorar o incômodo crescente que aquilo causava. Não queria pensar em como aquela obra chegou ali ou no fato de que, ironicamente, estava exposta para sua própria família. Ao entrar no restaurante, seus olhos logo encontraram a mesa central, onde sua mãe, Dona Cida, já conversava animadamente com Fernando e os pais dele.

Dona Cida, sempre alerta e com um sorriso maternal, foi a primeira a notá-la. Seus olhos brilharam com aquela mistura de alívio e leve reprovação, tão característica das mães.

— Finalmente! Pensei que tinha se perdido, filha — disse Dona Cida, em tom carinhoso, mas com uma leve bronca escondida nas palavras.

Ana respondeu com um sorriso de canto, disfarçando a falta de entusiasmo. — Só aproveitei um pouco as ruas de Roma, mãe.

Sentando-se à mesa, ela sentiu o olhar atento de Fernando sobre ela. Seu irmão mais velho, sempre tão sério, parecia avaliá-la em silêncio, como se estivesse tentando entender seus pensamentos. Ele a observava como quem espera uma resposta, mesmo quando não há perguntas.

— Roma é incrível, não? — Fernando disse casualmente, buscando iniciar uma conversa leve. — Tenho certeza de que vai se encantar ainda mais depois do jantar.

Ana respondeu com um sorriso vago, sem realmente entrar no jogo. Ela conhecia bem Fernando. Ele era o tipo que gostava de manter tudo sob controle, de evitar conflitos, e tentava, de sua maneira, incluí-la no mundo formal e quase artificial em que vivia. Mas ela, com seu espírito livre, nunca se encaixava ali.

O garçom se aproximou com o cardápio, mas Ana recusou polidamente. Não estava interessada em comida. O que precisava naquele momento era de um drink forte para ajudá-la a suportar as horas que viriam.

Ela pediu um whisky e esperou, enquanto observava o ambiente ao redor, sentindo-se uma estranha, não apenas naquele restaurante, mas em tudo aquilo.

— Só faltou um guaraná — Ana comentou, sua voz casual, enquanto girava o copo com o whisky. A resposta veio rápida, em forma de um olhar de reprovação de Fernando.

A noiva do meu irmãoWhere stories live. Discover now