A a voz, a melodia e a letra da música de Chiara ainda reverberavam em Ana.
Toda aquela solidão que a mulher carregava... ela era capaz de compreender. Também se sentia assim.
A voz da mulher, o jeito que ela segurava e tocava o violão, a melancolia em sua música... Seria incapaz de esquecer aquela cena. Sabia que sempre se lembraria daquele momento. Vinha revivendo em sua mente tudo que acontecera. A conexão de Chiara com sua obra, o destino fazendo de tudo para que cruzassem seus caminhos. Era muito pra assimilar e ela mal havia conseguido dormir após tudo aquilo.
Estava mesmo louca pela noiva do seu irmão. Não era uma simples atração: ela sentia que Chiara era a mulher da sua vida. E como é que poderia lidar com isso? Não podia abrir mão do amor.
Não se importava com Fernando. Era apenas uma questão de estar ali por Chiara e torcer para que ela tomasse alguma decisão. Mas sabia que esperar que ela abrisse mão do casamento e da aprovação da própria família era talvez uma expectativa impossível de se cumprir.
Assim que o dia amanheceu, ela tomou um banho e organizou as malas para se encontrar com todos no saguão do hotel. Estavam partindo para a vinícola Civello.
...
O sol da Toscana iluminava suavemente a paisagem quando o carro passou pelos portões da vinícola. As colinas ondulantes, salpicadas de vinhedos, se estendiam como um tapete verde sob o céu claro. Ao longe, a mansão de pedra do pai de Chiara emergia, imponente e cheia de história. Era o cenário perfeito para o início das festividades do noivado, com seus ares de tradição e riqueza familiar.
Ao descerem do carro, foram recebidos com um brunch preparado pelos empregados, uma mesa farta de frutas frescas, queijos locais, pães artesanais e vinhos da propriedade. As taças tilintavam ao som de conversas leves e risadas contidas, enquanto o aroma do vinho tinto se misturava ao calor acolhedor da tarde.
Após o brunch, os convidados começaram a circular pela propriedade, explorando os vinhedos, aproveitando a tarde. Dona Cida, mãe de Ana, comentou que tiraria um cochilo, enquanto os demais se dispersavam.
No silêncio confortável, Chiara se dirigiu à cozinha, aproveitando o breve intervalo em que todos estavam dispersos pela propriedade. Os empregados haviam limpado o brunch e agora o espaço cheirava a café fresco.
Chiara passou a mão pelos cabelos, ainda desconcertada com os olhares de desapontamento dos familiares quando recusou os pedidos de seus pais para tocar piano. Ela sentia que, mais uma vez, todos viam nela apenas a pianista, e não a mulher que carregava o peso das expectativas sem nunca ser realmente compreendida.
Enquanto se servia de café, o som leve de passos a fez levantar os olhos. Ana Carolina entrou na cozinha, encostando-se casualmente no batente da porta. Ela a observava, como se quisesse falar, mas ainda decidindo as palavras.
— Vi como você ficou desconfortável quando falaram do piano.
Seu tom era suave, mas carregava uma curiosidade evidente.
Chiara suspirou, passando as mãos nervosamente pelos cabelos.
— Você não está nada bem, né? — Ana perguntou, encostando-se casualmente à bancada.
Chiara respirou fundo, evitando o olhar de Ana por um momento antes de finalmente responder.
— Eles sempre fazem isso... querem que eu toque como se fosse uma obrigação. Não é mais sobre a música. É sobre... satisfazer expectativas.
Sua voz carregava um amargor contido.
Ana assentiu, compreendendo mais do que Chiara imaginava. Por um instante, o silêncio se instalou novamente entre elas, mas algo parecia borbulhar debaixo da superfície.
Então Ana, sentindo que era o momento certo, pegou o celular e mostrou os vídeos de seu processo criativo.
— Eu já te disse que pinto, mas nunca te mostrei meu trabalho de verdade.
Chiara olhou a tela e reconheceu imediatamente o estilo. Suas pupilas dilataram ao perceber o que estava diante de seus olhos. "Esses quadros...", ela começou, a voz falhando levemente. "Você é a pintora dos quadros que escolhi para o hotel?"
— Sim, eu não tinha certeza de como te contar... queria que fosse natural.
A italiana ficou em silêncio, processando a surpresa. O quadro "Paixão", que havia colocado em seu quarto, agora tinha um significado completamente novo.
Depois de um momento, algo a ocorreu.
— Naná... — ela começou, hesitante. — Você disse que ela era a única pessoa que via seus quadros. Foi ela quem fez esses vídeos, não foi?
— Sim, foi ela. Naná sempre me filmava enquanto eu pintava. Era uma forma de nos conectarmos... na época.
Chiara sentiu uma mistura estranha de sentimentos – admiração, proximidade, mas também algo a mais que ela não queria admitir.
— E como é a relação de vocês agora?
— Ainda somos amigas. Na verdade, ela é minha empresária. Foi ela quem conseguiu vender meus quadros para aquela galeria na Europa... onde você os descobriu, provavelmente.
— Então, se não fosse por ela, eu nunca teria conhecido o seu trabalho... — murmurou, quase para si mesma.
Ana deu um passo mais perto, a voz calma e honesta.
— É, de certa forma, ela fez isso acontecer. Mas o que estamos vivendo agora... é só entre nós.
Chiara desviou o olhar, o estômago se enchendo de borboletas.
O que sentia ia muito além de uma simples conexão de amigas.
— É muita coisa para processar — confessou, seus olhos finalmente encontrando os de Ana. — Eu só sei que... essas obras, sua arte, me tocaram...
Ana sorriu, um calor pairando entre elas.
— Sob o sol da Toscana! O nome do filme! — o grito de Fernando ecoou, interrompendo bruscamente o clima, fazendo Chiara tremer de susto.
Ana revirou os olhos e elas se dispersaram, cada uma para um lado, tentando disfarçar o que quer que estivesse acontecendo.
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A noiva do meu irmão
FanfictionChiara Civello é herdeira de uma tradicional família italiana, sufocada pelas rígidas expectativas que sempre pesaram sobre seus ombros. Criada para ser perfeita, a pianista talentosa está noiva de Fernando, um homem ambicioso aprovado por sua famíl...