Após os dias intensos na vinícola, todos finalmente partiram. A decisão de ir embora fora quase um alívio coletivo.
Dona Cida, com o olhar cansado, ajeitava uma das malas com uma expressão pensativa e preocupada.
Flávia e Vittorio, mantendo a compostura, deram ordens aos empregados e evitaram maiores despedidas.
As amigas de Chiara, Letícia e Jeane, sussurravam entre si, tentando entreter as crianças que, por mais que se divertissem na propriedade, também sentiam o peso da atmosfera carregada entre os adultos.
Chiara, no entanto, parecia alheia a tudo, presa em seus próprios pensamentos enquanto o carro se afastava da vinícola.
Ana mantinha-se em silêncio, mas sua presença era quase palpável para Chiara. Durante o trajeto, seus olhares se encontraram várias vezes pelo retrovisor, enquanto Fernando dirigia e Chiara seguia quieta ao seu lado.
Pelo espelho, elas trocaram mensagens silenciosas pelo olhar, com uma saudade antecipada, temendo o que viria a seguir. Cada quilômetro percorrido aumentava a tensão, como se a partida os levasse, na verdade, para um confronto inevitável.
...
Quando chegaram ao hotel, as coisas começaram a ganhar uma dimensão ainda mais complexa. Ao entrar, cada um carregava uma carga emocional única.
Dona Cida fez o check-in rapidamente, segurando firme a mão de Ana, como se tentasse protegê-la da tempestade que se aproximava.
Vittorio, mal contendo o desconforto, conversava em voz baixa com Flávia, trocando olhares preocupados que Chiara percebeu sem esforço. Era quase como se estivesse ouvindo o que eles diziam, mesmo sem palavra alguma.
Fernando, por sua vez, entrou no lobby com um rosto impassível, mas os olhos revelavam outra história. Ele estava alerta, observando cada detalhe ao redor, mas seus pensamentos o levavam diretamente a Chiara. Naquele momento, tudo sobre ela parecia uma ferida exposta. Ele lembrava-se da voz dela em seu sotaque carregado, do modo altivo com que ela lidava com o mundo, da suavidade de sua pele, do calor de seu corpo. Cada detalhe dela parecia criado com uma precisão divina, como uma obra de arte fora de seu alcance. Ela era a própria personificação de tudo o que ele sempre desejou: riqueza, refinamento e aquela beleza inatingível, própria de um mundo ao qual ele sempre quis pertencer, mas que agora parecia escapar de suas mãos.
Ele lembrava-se dos momentos a sós, das conversas em que ela abaixava a voz para um tom rouco, que ele sempre achou irresistível. Aquilo o deixava em chamas e, ao mesmo tempo, consciente de sua própria inadequação. Como poderia ele, Fernando, que crescera tão longe daquele universo, ser alguém para uma mulher como ela?
Sentado no bar do hotel, ele encheu o copo e o segurou com força, tentando evitar que o tremor de suas mãos fosse visível. Naquele instante, seus pensamentos se tornaram mais amargos. "E Ana..." A imagem da irmã surgiu em sua mente, nítida e incômoda. Sua presença recente havia desencadeado uma sensação de inquietação, de insegurança que ele mal queria admitir. Ana, com seu jeito descomplicado, atraía todos ao redor, mas ele começava a perceber que a afinidade dela com Chiara ia além da compreensão.
Lembranças dos olhares trocados entre as duas o assombraram. Chiara, que sempre fora distante e fria com todos, parecia se derreter em sorrisos ao lado de Ana. Ele tentou ignorar os flashes das risadas delas, das brincadeiras na piscina, do jeito que Ana a chamava por “Alessandra,” como se compartilhassem um segredo.
"Será que fui cego o tempo todo?" Ele mal acreditava no que via, mas o peso da desconfiança crescia em seu peito. Ele se levantou com determinação, tomando uma decisão que até mesmo ele não compreendia bem. Seus passos firmes ressoaram pelo corredor até pararem diante da suíte de Chiara.
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A noiva do meu irmão
FanfictionChiara Civello é herdeira de uma tradicional família italiana, sufocada pelas rígidas expectativas que sempre pesaram sobre seus ombros. Criada para ser perfeita, a pianista talentosa está noiva de Fernando, um homem ambicioso aprovado por sua famíl...