A conversa ao redor da mesa, em certo ponto, voltou-se para o passado de Chiara, após um comentário orgulhoso de Vittorio, o pai dela.
— Chiara sempre foi brilhante na música, desde pequena, um prodígio, na verdade. — Ele disse com a voz cheia de orgulho. — Os críticos costumavam dizer que ela tinha uma sensibilidade única, que sua música transcendia o comum.
Flávia sorriu com nostalgia, completando a fala do marido.
— Quando ela tocava piano, as pessoas simplesmente paravam para ouvir. Até os críticos elogiavam! Ela era vista como uma artista que iria dominar o futuro da música clássica, uma revelação.
Fernando ouvia com um sorriso satisfeito. Já Ana observava Chiara atentamente, notando a forma como ela se mantinha em silêncio enquanto os outros falavam sobre ela.
Flávia continuou, animada.
— Lembro-me de um concerto em que um crítico a comparou a uma jovem Martha Argerich! Era algo grandioso, dizer que ela tinha a mesma intensidade emocional e técnica impecável.
Enquanto os pais falavam dela com orgulho, Chiara parecia cada vez mais distante, desconfortável. Ela sorria com educação, mas havia algo nos seus olhos que mostrava que aquela narrativa não a tocava.
Ana, observando cada reação, decidiu fazer a pergunta que estava na sua mente, sem muita cerimônia.
— E o que você acha de tudo isso, Chiara? — perguntou, sua voz baixa e firme. O silêncio se instalou rapidamente. Todos os olhos se voltaram para a pianista, que se mexeu na cadeira, sentindo o peso da pergunta.
Havia um tom desafiador, mas também uma curiosidade genuína no olhar de Ana. Era como se ela estivesse tentando chegar à verdade que ninguém ali parecia enxergar.
Ela respirou fundo antes de responder, olhando primeiro para seus pais, depois para Fernando e, por fim, para Ana.
— Eu... — começou, a voz hesitante, mas honesta. — Acho que todos esses elogios, todas essas comparações... foram como uma espécie de prisão para mim.
A surpresa tomou conta da mesa. Flávia franziu a testa, sem entender.
— Prisão, Chiara? Como assim?
A filha deu um sorriso triste, jogando os ombros para trás como se estivesse se preparando para soltar um fardo.
— Desde muito nova, as pessoas decidiram quem eu deveria ser. Eu amava música, e ainda amo, mas todo aquele universo de recitais, concertos e críticos me sufocava. — Sua voz ficou mais firme à medida que falava, e seus olhos se fixaram em Ana, que escutava atentamente. — A verdade é que, por muito tempo, eu toquei para impressionar, para cumprir o papel que esperavam de mim.
Houve um silêncio constrangedor na mesa. Flávia olhou para o marido com desconforto, como se não esperasse ouvir isso. Fernando também ficou visivelmente desconcertado, sem saber como reagir.
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A noiva do meu irmão
FanfictionChiara Civello é herdeira de uma tradicional família italiana, sufocada pelas rígidas expectativas que sempre pesaram sobre seus ombros. Criada para ser perfeita, a pianista talentosa está noiva de Fernando, um homem ambicioso aprovado por sua famíl...