A noiva do meu irmão

A música brasileira está me chamando

Conforme os meses passaram, Ana começou a perder a esperança de que Chiara fosse lhe procurar. No fundo do coração, ela esperava que o contato de Chiara chegaria em algum momento, mas a realidade de sua ausência se tornava cada vez mais difícil de suportar. Ela não imaginava que demoraria tanto; as lembranças de Chiara se tornavam mais distantes, e a possibilidade de que a italiana houvesse seguido um novo caminho, conhecido outra pessoa ou, talvez, percebido que Ana não era a pessoa certa para ela, começou a pesar em sua mente.

Enquanto isso, seus amigos a incentivavam a abrir seu coração novamente. Em meio a conversas animadas e risadas, muitos sugeriam que ela conhecesse outras pessoas, tentasse fazer novas conexões. Ana, relutante, estava cada vez mais cercada por essa pressão amistosa. Era um convite constante para sair, conhecer novos rostos, até que aceitou ir a uma festa organizada por um grupo de artistas.

A atmosfera estava cheia de energia, música e dança, mas, mesmo ali, Ana se sentia um pouco desconectada. As risadas ecoavam em torno dela, e os olhares a convidavam a se deixar levar. Foi então que conheceu Letícia, uma atriz linda, com um sorriso radiante e muito senso de humor. Letícia parecia perceber a vulnerabilidade de Ana, seu coração quebrado, e se mostrava disposta a ajudar a curá-lo.

Com algumas bebidas a mais na cabeça e a saudade de Chiara gritando em seu peito, Ana se deixou levar pela conversa leve e divertida que fluía entre as duas. As risadas se transformaram em toques sutis, e logo Ana se viu perdida nos beijos de Letícia, como se cada carícia fosse um escape temporário da dor que a acompanhava.

Os lábios de Letícia eram quentes e acolhedores, trazendo uma sensação de conforto que Ana não sabia que precisava. Enquanto se entregava àquele momento, sua cabeça ficava assombrada pelas memórias de Chiara, fazendo com que cada beijo parecesse um erro e um lembrete da mulher que ocupava seus pensamentos. Era uma confusão emocional, um caminho que ela nunca havia planejado percorrer, mas que agora parecia ser sua única opção para lidar com a solidão.

Ana sabia que se deixar levar por aquela nova conexão poderia não ser justo, nem consigo mesma, nem com Chiara. Contudo, no calor da festa, com a música tocando e a animação ao redor, ela se permitiu viver aquele momento, mesmo que seu coração estivesse clamando por outra.

Naquela noite, enquanto Ana se entregava aos beijos de Letícia, Chiara se preparava para mais uma apresentação no Tim's Jazz Bar. A atmosfera do local estava viva, com o murmúrio da conversa animada dos clientes e o aroma de bebidas misturando-se ao perfume do jazz que flutuava no ar. No entanto, para Chiara, tudo isso parecia distante.

Tim, seu velho amigo e dono do bar, estava por trás do balcão, polindo copos e observando-a com uma expressão de preocupação. Ele se aproximou dela, seus olhos cheios de admiração e um toque de frustração.

— Chiara, você merece mais do que isso. Deveria estar tocando nas maiores casas de show do mundo, ao lado de grandes artistas e orquestras. Isso aqui — ele gesticulou em direção ao bar — é para novatos. Pessoas que precisam rodar o chapéu entre as mesas para comprar novos instrumentos.

Ela apenas sorriu de forma melancólica, sabendo que as palavras de Tim eram verdadeiras, mas hoje esse discurso soava como eco em sua mente. A admiração que os outros tinham por ela parecia um fardo a mais, um lembrete constante de que não estava onde deveria estar. Chiara se sentia como uma sombra de si mesma, envolta em inseguranças que a impediam de brilhar.

Enquanto subia ao palco, uma onda de ansiedade a atingiu. O que deveria ser um momento de alegria se transformou em um exercício de resistência. A música que sempre a preenchia agora parecia um eco distante, como se sentisse a falta de Ana em cada nota que tocava. Era como se a distância entre elas se manifestasse, tornando seu piano uma extensão de sua saudade.