Seria onça ou menina?

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Em meio a uma manhã na feira, comprando e transportando os insumos pra cozinha do restaurante, infindáveis reuniões com Joanna e Caio sobre os imprevistos das últimas duas noites nos Alkemius SP e RJ – que até mesmo nos problemas estavam sincronizados – e mais uma quantidade desumada de demandas para resolver, eu mal tive tempo para respirar.

Passei cada minuto dessas vinte quatro horas inteiramente imerso em trabalho, trabalho, trabalho, e em momento nenhum reservei um tempo para descansar da noite que tive. Faz parte.

Talvez seja coincidência, válvula de escape, mecanismo de defesa... não sei, o que eu sei é que nada é por um acaso. Nada nesse mundo.

— Vocês deviam ter me comunicado antes. Joanna, eu já avisei que detesto ser deixado de fora desse tipo de situação, poxa. — estávamos em ligação, os três manda-chuvas da rede Alkemius, enquanto eu rascunhava um e-mail nada simpático para o nosso fornecedor de bebidas que nos deixou na mão em pleno final de semana.

— Ai, Alex... cê tava tão over the moon com a inauguração do Alkemius BA, eu ia odiar acabar com a tua festa. — explicou a morena, que mesmo em teleconferência com o chefe não escondia que estava mesmo entretida com outra coisa além da pauta discuta em reunião.

— Eu me encarreguei de buscar as cervejas, chefe. Peguei tua caminhonete emprestada... aliás, que belezura de 4x4, hein?! Enfim, fiz o carregamento com dois sobrinhos meus e deu pra gente se virar. E eu nunca vi um povo pra gostar de estourar champanhe do nada, viu? Parece até que a vida é boa.

— É boa pra eles. — retruquei, notando que pesei a mão no descontentamento expressado na mensagem que escrevia, então passei a apagar todo o resto.

— Hoje você tá um docinho de coco... — a alfinetada da Joanna tirou meus olhos da tela, direcionando agora para a câmera na intenção de encara-la como era possível. Sorri em puro cinismo.

— Obrigada por notar, minha linda. É só pra você. — curvei os lábios e mandei um beijo estalado pra ela, que revirou os olhos em um falso desdém.

— O RH vai ouvir sobre essa reunião, espero que saibam. — declaração vinda do Caio, que desviava os olhos da gente e procurava incansavelmente por cada canto dessa internet o contato de uma nova distribuidora de bebidas, já que a reserva tinha ido pelo cano, e a principal...

— Seguinte, gente: da próxima vez, não me importa as circunstâncias, quero ser incluído no newsletter com as notícias urgentes do meu restaurante, tá bem? Mesmo que isso vá acabar com minha noite ou desencadear uma urticária na Maristela. — meu corpo acabou se inclinando para frente de forma involuntária, e meus ombros rapidamente reclamaram daquela posição, mas eu persisti.

— Maaaaasss... fico feliz que vocês se viraram sem mim. O pai tá orgulhoso, tá? Meus primogênitos estão crescendo rápido demais pro meu gosto.

A brincadeira fez com que os três alinhassem um sorrisinho no rosto, que muito acontece no presencial quando nós  nos importunamos mais do que trabalhamos, mas era raro de se ver remotamente, já que a gente reserva isso para probleminhas e problemões.

Brigada, papai. — tom da Joanna saiu carregado de más intenções, pingando malícia e uma indecência muito caracteristica dela, o que rendeu também uma careta hilária do Caio, que em algum momento levaria a gente pra salinha escura do RH.

— Mas por falar em Maristela, onde está a nossa primeira dama? Postei uma foto no close do insta mais cedo e ela não disse nada sobre o meu decote... achei suspeito. Ela tá bem?

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