Capítulo 12

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- Sinto muito, Pleng. Ambos agora estão em paz. - Fiquei parada enquanto tio Pu e Frank prestavam suas homenagens no funeral.

Eu não conseguia ouvir nada, era como se uma brisa suave estivesse passando. Meu coração estava em pedaços. As duas pessoas que eu mais amava haviam morrido, deixando-me sozinha. O mundo estava desmoronando. Não para os outros, mas para mim.

Uma Glock 17 - 9 mm, foi a arma que meu pai usou para se matar. Seu funeral contava com poucos convidados. Era estranho pensar que, enquanto ele estava vivo, tantas pessoas o visitavam o tempo todo como se tivesse muitos amigos e familiares. Mas, assim que ele desapareceu deste mundo, levando consigo a reputação de falência, essas pessoas também desapareceram. Somente eu, sua filha, estive presente durante todo o funeral, do início ao fim. Eu estava sozinha até no dia da cremação.  O pai de Frank me disse que minha família estava falida. Não tínhamos mais nada, nem mesmo a nossa casa. Existe um ponto mais baixo do que esse?

Será que estou sonhando? Alguém, por favor, me acorde?

•••

- Pleng... por favor, coma alguma coisa.

Eu não falei com ninguém nos últimos dias porque estava em choque. Queria que minha vida fosse como um filme, onde eu pudesse apertar um botão e mudar tudo, apagar todas as memórias ruins e me libertar dessas dores. Mas, eu era mais forte do que imaginava. Eu lembrava de tudo. Todos me deixaram para enfrentar este mundo sozinha.

- Não estou com fome.

- Você precisa comer. Se algo acontecer com você...

- Seria ótimo. - Respondi para Wanviva sem nem olhar para ela. - Se algo acontecesse comigo, seria ótimo.

- Não fale assim. Se algo acontecer com você, eu não vou suportar. - As lágrimas de Wanviva escorriam por seu rosto enquanto ela segurava um prato de comida. Olhei para ela e também chorei. Mas, por mais que eu chorasse, nada voltaria a ser como era antes.

Minha vida havia mudado. Ainda tinha um pouco de dinheiro no banco que tio Pu transferiu para minha conta a pedido de meu pai. "Não conte a ninguém que você tem esse dinheiro. Use-o com sabedoria." Foi o que ele me disse. Meu pai não era uma pessoa completamente egoísta, ele me deixou algum dinheiro para que eu pudesse sobreviver já que minha casa foi confiscada junto com os outros bens. Tudo o que me restava eram algumas roupas e um violão. Na verdade, eu queria ter ficado com o meu piano, mas ele era grande demais. Minha vida mudou. De uma princesa, passei a ser uma plebeia. Eu não tinha mais família; tinha uma tia, irmã da minha mãe, mas não éramos próximas; então, acabei me mudando para a casa da família de Wanviva. Minha governanta era a única família que me restava.

- Pleng, você tem que ser forte. Logo você vai melhorar.

- Claro, é fácil para você dizer isso. Seus pais não morreram no mesmo dia que os meus. - A garota olhou para o chão, sentindo-se culpada. Eu via tudo de forma negativa e joguei toda a minha decepção na cara de Wanviva, que não tinha culpa de nada.

- Desculpa.

Ao ouvir a garota se desculpando por algo que não era sua culpa, mordi os lábios. Droga... eu só queria ficar sozinha e ela me fazia sentir ainda mais culpada.

- Quero dormir. - Me joguei no colchão no sobrado alugado que dividia com ela; não tinha ar-condicionado, mas eu não me importava. Meu coração estava tão fraco. Wanviva lidava com meu humor instável todos os dias. A garota nunca reclamava ou demonstrava qualquer sinal de estar chateada comigo. Ela simplesmente me apoiava mental e emocionalmente.

- Você vai superar isso. Eu estarei bem aqui ao seu lado. - A garota me abraçou e encostou o rosto nas minhas costas enquanto eu me deitava na cama. Ela não disse mais nada.

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