Capítulo 22

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Na manhã seguinte a vida seguiu normalmente, como se nada tivesse acontecido, até porque, nada aconteceu. Wanviva e eu só nos cheiramos durante a noite e isso é normal, certo? Amigas se cheiram o tempo todo.

- Você. - Wanviva falou após dar um gole em seu café. - Você é sonsa ou se faz de sonsa?

Desviei meu olhar da televisão e a encarei, incrédula. Ela deu mais um gole em seu café, me encarando seriamente.

- Que tipo de pergunta é essa?

- Sonsa. - Wanviva deixou a xícara de café sobre a mesa, pegou sua bolsa e caminhou em direção à porta. Eu a segui.

- O que eu fiz? Você tá brava?

- Nada... você não fez nada. - Wanviva fez beicinho e saiu. Antes de seguir, ela voltou-se para mim uma última vez. - Sonsa.

- Oh! - Eu exclamei surpresa, porque além de dizer isso, ela mordeu meu braço. - Por que você está me chamando de sonsa?

- Porque você é! Ontem à noite... se fosse qualquer outra pessoa, teria... - Wanviva suspirou. - É melhor eu ir trabalhar.

- Que horas você volta?

- Não vou falar.

- Wan... eu te amo.

- Sonsa. Chegarei tarde. Tenho uma cirurgia e pode acabar tarde. Por que?

- Posso te buscar no hospital? - Seu rosto se iluminou de felicidade e surpresa.

- Por que quer me buscar?

- Quero voltar para casa com você, como fazíamos antigamente, lembra? E também... voltar de bicicleta tarde da noite é perigoso.

- Você se preocupa mesmo comigo, hein.

- É claro que me preocupo. Eu só tenho você neste mundo, Wan.

•••

À noite, fui para o hotel. Todas as músicas e apresentações soaram doces e agradáveis, mais do que da última vez porque, quando meus dedos tocavam as teclas do piano, eu tinha a sensação de estar tocando a pele de Wanviva. O som da música era tão bom quanto os gemidos dela. Eu estava louca de saudade.

Fui chamada de volta para a realidade ao ouvir uma nota estranha. Quando olhei para cima, encontrei um homem parado atrás de mim, tocando notas de oitava. Quem era ele?

Continuei tocando, porque esse era o meu trabalho. O homem parecia se divertir tirando sarro de mim; e a doce canção agora se transformara em uma competição acirrada. As pessoas começaram a prestar mais atenção, com entusiasmo e usaram seus celulares para filmar. Quando a última nota desapareceu, o lobby caiu em completo silêncio até eclodirem os fortes aplausos.

O homem que interferiu na minha música sorriu e fez uma reverência para multidão. Parecia tão familiar.

- Sinto muito. Eu não pude deixar de brincar com você.

- Quem é você? - Perguntei com um tom hostil, porque ainda estava chateada com o estranho
atrás de mim. Ele percebeu que eu não estava sorrindo e rapidamente se apresentou.

- Sou Earth. - Ele apontou para si mesmo, como se esperasse alguma reação minha mas, eu
ainda estava atordoada e não tinha certeza do que dizer.

- Pleng. - Ek interrompeu nós dois. Ele olhou para mim e para o homem. - Olá, Earth. Eu vi os dois tocando juntos e foi incrível. - Ek parecia conhecê-lo.

Eu ainda estava chateada por ele ter me interrompido. Eu estava tão imersa na minha música, tocando-a como se fosse um artista pintado em uma tela mas, de repente, alguém começou a pintar comigo sem pedir licença.

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