Capítulo 26

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Wanviva me ignorou totalmente na manhã seguinte. Ela saiu para trabalhar e não voltou para casa naquela noite. Liguei para seu celular e ela não atendeu, então, liguei para o hospital e soube que ela estaria de plantão. Mentira. Ela quis dormir lá para evitar ficar perto de mim. Eu a rejeitei por medo de perder sua amizade e agora, havia perdido sua amizade e também o seu amor. Só me restava beber.

- Você bebendo? - Ek me perguntou, surpreso. Fui para o hotel mais cedo e parei no bar. Ele estava lá afogando as mágoas por Wanviva e eu também. Quão irônica a vida é? - O que aconteceu? Você parece estressada... brigou com a Wan?

O encarei paralisada e ele me lançou um olhar desconfiado e divertido. Eu só queria beber um ou dois copos em paz e ele estava lá me enchendo de perguntas.

- É normal que amigas briguem, afinal, vocês passam muito tempo juntas.

- Acho que preciso encontrar um novo lugar para morar.

- Foi tão ruim assim?

- Nunca é bom brigar com a dona da casa.

- Me conta o que aconteceu.

- Coisas de mulheres.

- Vocês são muito amigas, logo irão fazer as pazes. E Wan te procurou por 13 anos... ela não vai te deixar sair da vida dela outra vez.

- Você fala como se soubesse de muita coisa.

- E eu sei. Eu estive ao lado dela durante todo esse tempo enquanto ela sentia as emoções que você causou com sua partida. É até estranho falar sobre isso, porque eu só estive presente nos momentos ruins e você, nos momentos bons.

- Como foram esses anos?

- Por que não pergunta à ela?

- Porque estou perguntando a você. Você tem um ponto de vista diferente, de qualquer forma.

- Wanviva nunca sorriu desde que você partiu aquele dia. - Ek contava os detalhes do que aconteceu há 13 anos, quando saí da casa e da vida de Wanviva de madrugada. Eu ouvia tudo atentamente, entre um gole e outro, me sentindo mais relaxada por conta do álcool. - Ela chorava o tempo e culpava os pais. Para ser sincero, eu nunca entendi porque ela culpava eles. Ela tentou te encontrar através de outras pessoas, inclusive, entrou em contato com um parente seu... Frank, o nome dele.

- Eu sei. - Ri amargamente. - Na verdade, percebi que Frank tentou usar a situação para se reaproximar de Wanviva, então, caí fora e nunca mais falei com ele.

- Hum. - Ek continuou. - Wan levava os estudos muito a sério, assim como tudo o que ela se comprometeu a fazer por você. Ela conseguiu uma bolsa de estudos após se formar na escola e saiu da casa dos pais para morar no alojamento da faculdade; ela não falava com eles e não pedia ajuda pra nada. Eu estava sempre por perto, sendo um bom amigo para ela, ajudando no que fosse preciso.

- Você foi bem paciente. - Comentei. Pelo que ele me contava, era nítido que ele estava cultivando uma árvore no deserto. Wan deixava ele ficar por perto, mas não dava abertura pra ele se aproximar.

- Eu fui... se fosse outra pessoa, com certeza já estaríamos namorando há muito tempo. Me incomodava o espaço que havia entre nós mas, decidi persistir e esperar. Depois que ela se formou em medicina, começou a trabalhar e a juntar dinheiro para comprar as coisas que você gostava.

- Por que ela fez isso?

- Porque, na cabeça dela, isso a faria chegar até você. - Ek riu. - Ela economizou 200 mil baht e gastou tudo comprando um violão que você queria. Ela disse que iria guardá-lo para você usar quando voltasse. Depois, ela economizou até conseguir comprar um piano elétrico para você tocar suas músicas e quando ela tinha algum tempo livre, ia até uma loja que vendia composições para tentar encontrar você. Ela estudava e trabalhava muito, mas sempre arranjava tempo para te procurar.

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