Era tarde da noite quando Killer deixou o escritório de Nightmare, cheirando a álcool e com o HP críticamente baixo. Ele deu alguns passos trêmulos pelo corredor antes de tropeçar nos próprios pés e cair. Não queria ser visto daquela maneira, fraco e patético. Por isso teletransportou-se para seu quarto e lá ficou até que o relógio batesse uma e meia da tarde.
A primeira coisa que Cross pensou quando o viu fazer o desjejum às duas e quinze era que ele estava de ressaca, e após observá-lo por algum tempo confirmou suas suspeitas. E aquela com certeza era uma ressaca das brabas.
— Cross. — Killer resmungou enquanto bebia seu café direto da jarra. — Você perdeu alguma coisa na minha cara?
Killer estava mais passivo-agressivo do que de costume, de uma forma estranhamente deprimente, no entanto. Cross se fez de desentendido.
— Não. Nem reparei que você estava aí.
Cross era péssimo em se fazer de desentendido. Killer revirou os olhos e terminou de beber sua jarra de café.
— Mas reparei que você está estranho. Mais que o normal. — Cross continuou, recostando-se no batente da porta. — Você está bem?
— Melhor impossível. — Respondeu, nervoso. — Só estou cansado.
Cross cruzou os braços, estreitando os olhos.
— Cansado de quê?
— De você me fazendo perguntas idiotas. — Rebateu e bateu a jarra na pia antes de sair irritado pelo corredor.
Apesar de intrigado, Cross resolveu deixá-lo em paz pra variar. Todos têm dias ruins, afinal, e Killer era um cara errático naturalmente. Sim, em breve ele voltaria ao seu normal. Era o que ele pensava, pelo menos.
Deu de ombros e foi para seu quarto. O sol brilhava lindamente do lado de fora, não que Cross pudesse realmente vê-lo. As janelas de mogno permaneciam fechadas durante todo o dia e eram sempre cobertas por grossas cortinas de veludo. Ele, hesitante, puxou um pouco as cortinas. Um pequeno feixe de luz do sol entrou, fazendo reluzir algumas partículas de poeira que flutuavam no ar.
Lembrou de Dream.
Ainda faltava cerca de uma semana antes de se encontrarem novamente — na lua cheia —, e Cross já começava a ficar impaciente. Cogitou por um momento a ideia de enviar-lhe cartas, mas logo chegou à conclusão que seria muito arriscado. Se jogou na cama, entediado, e pegou a capa de Dream que escondia debaixo do travesseiro.
Seu pensamento voltou-se para a próxima lua cheia. Cada encontro parecia mais arriscado que o anterior, mas o desejo de vê-lo era maior que o medo de perder tudo. Sabia que estava jogando um jogo perigoso, apostando tudo em um relacionamento com o que deveria ser o seu maior inimigo. "Merda de destino.", pensou.
Virou-se na cama, tentando afastar esses pensamentos. Era tarde demais pra pensar nas consequências, tudo que importava agora era vê-lo novamente.
Sete dias. Sete longos dias.
Levantou-se num pulo, precisava de algum modo tirar aquilo da cabeça. Deixou a capa sobre a cama, trancou a porta e saiu para o jardim. O ar fresco da tarde ajudava a clarear sua mente.
Do lado de fora, Cross quase esquecia-se das preocupações. Lembrava-se vagamente de caminhar sob o sol em seu próprio universo, anos antes, e por apenas alguns segundos sentiu que realmente estava em casa.
Claro que ele não estava, e o devaneio foi rápidamente interrompido pelo farfalhar das folhas em um pequeno arbusto que chamou sua atenção.
Cross franziu o cenho, logo percebendo a aura de positividade que emanava da moita.
— Dream? — Sussurrou, e a moita deu alguns passinhos rápidos em sua direção.
— Psiu. — A moita sussurrou de volta. — Cross, sou eu.
Cross olhou para os lados e, quando teve certeza de que não havia ninguém, correu até a moita, de onde Dream deu um salto para fora das folhas e o envolveu em um abraço apertado.
— Dream, o que diabos você está fazendo aqui? Você é doido?! — Murmurou, afastando-se um pouco do abraço. Quase sentia raiva, mas um simples olhar de Dream frustrava qualquer tentativa de zangar-se com ele.
— Eu senti sua falta. — Respondeu, com um sorriso divertido. — Ah, e também, vim buscar a capa que você me roubou.
Cross bufou.
— Eu não roubei nada. Foi um acidente, estava escuro!
Dream deu uma risada alegre e remexeu em uma bolsa de couro que levava na cintura, de onde tirou um casaco branco cuidadosamente dobrado.
— Vou fingir que acredito. — Respondeu, estendendo o casaco para Cross. — Agora, minha capa.
Cross lançou um olhar capenga para o casaco. Preferia mil vezes a capa amarela de Dream, que guardava debaixo do travesseiro.
— Não quer ficar com ele?
— Boa tentativa, mas não! Minha capa, por favor. Você já está com ela há três semanas.
Com um suspiro, Cross pegou o casaco e teletransportou-se, reaparecendo segundos depois com a capa de lã no lugar nele. Ele a entregou, relutantemente.
— Eu gostava dela. — Resmungou, assistindo enquanto Dream a vestia.
O guardião sorriu, ficando na ponta dos pés para dar-lhe um beijo no rosto, e Cross o abraçou, retribuindo o carinho. Ficaram assim um tempo, abraçados no meio do jardim vazio, até que eventualmente se separaram.
Cross suspirou.
— Você precisa ir, Dream. Alguém pode nos ver.
Dream ficou em silêncio por um momento, e então respirou fundo.
— Na verdade, tem mais uma coisa que eu queria te falar... — Murmurou, apreensivo.
Cross estreitou os olhos.
— Certo... o que é?
Dream parou por um momento, tentando escolher as palavras apropriadas.
— Cross, nós precisamos ir embora daqui. — Ele acariciou as mãos do guarda enquanto falava. — Eu quero que você fuja comigo.
Instintivamente, Cross recolheu as mãos e se afastou num movimento brusco.
— O quê?!
Dream baixou o olhar.
— Eu... eu não acho que aqui seja seguro pra nós, então pensei que-
— Não. — Interrompeu — Isso está fora de cogitação.
O guardião o encarou confuso, como se esperasse uma reação diferente. Um silêncio desconfortável se fez presente no jardim.
— Cross, eu... nós podemos ficar juntos. Por favor... pense sobre isso. Podemos viajar de universo em universo, ajudando as pessoas, isso não seria maravilhoso?
Cross balançou a cabeça, perecendo nervoso.
— Eu não sou um traidor, Dream.
— Mas-!
— Não! Você não entende?! Nightmare me deu abrigo, amigos, propósito! Eu devo TUDO ao seu irmão! Todos nós devemos! Ele apareceu quando eu não tinha nada! Onde VOCÊ estava, Dream!?
O pequeno guardião o olhou tristemente, e Cross percebeu que seus olhos estavam marejados.
— Eu estava em uma prisão...
Murmurou, e desapareceu em um teletransporte antes que Cross tivesse a chance de dizer qualquer coisa.
O guarda permaneceu parado em meio ao jardim por alguns momentos, refletindo sobre o que havia acabado de acontecer. Quando se virou, reparou que Killer o estava encarando de longe.
![](https://img.wattpad.com/cover/321139062-288-k279880.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
°• We Fell in Love in Summer •° - Cream
De TodoCross, de X-TALE, foi um destruidor de mundos e causador de diversas mortes. Alguns o vêem como um assassino impiedoso, capaz de derrubar exercícios e nações inteiras apenas para engranceder o próprio ego. Ele se vê apenas como um guarda real, que t...