°•《Capítulo 15》•°

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Não faziam nem dois dias desde a briga e Cross já estava surtando. Andava de um lado para o outro em seu próprio quarto, ansioso, sem saber o que fazer. Os pensamentos corriam desordenados por sua mente nervosa, alguns desaparecendo tão rápido que ele mal podia compreendê-los. Ele não queria perder Dream, não por um motivo como esse. Não depois de tanto tempo esperando que alguém como ele aparecesse. Não. Não mesmo.

Como ele podia ser tão imprudente? Cross não pode deixar de sentir raiva. Dream deveria ser mais inteligente, pensava ele. Não se pode fugir de alguém como Nightmare e, mesmo que pudessem, por que sequer fazer isso? Encontrar-se a cada 31 dias, como ele próprio havia sugerido, estava funcionando. Poderiam ficar juntos, em paz, e ele não precisaria incomodar Nightmare com isso. Seriam discretos. Ele ainda poderia trabalhar para Nightmare, isso não o tornava um traidor. 

Ou tornava?

Sentiu uma dor incômoda no lado esquerdo da cabeça. Enxaqueca. Há quanto tempo não tinha uma dessas? Já nem se lembrava mais. Esfregou os olhos, cansado, e resolveu que lidaria com todo esse problema mais tarde. Saiu do quarto e desceu as escadas indo em direção a cozinha, precisava urgentemente de um café bem forte.

Não era incomum encontrar Horror na cozinha. Ele estava sempre por lá, comendo alguma coisa ou simplesmente verificando a dispensa a cada meia hora. Dessa vez não era diferente. O cheiro delicioso de pão recém saído do forno preenchia a cozinha, e por um momento Cross se sentiu um pouco mais tranquilo. 

Horror notou a presença de Cross.

— Pão.

Afirmou, simplesmente, enquanto tirava do forno uma forma com um dourado e fumegante pão doce.

Cross foi até a cafeteira, enchendo uma caneca com a bebida amarga e sentando-se à mesa.

— Parece bom.

Comentou, dando um gole no café.

— É.

Respondeu Horror, se sentando junto ao guarda na mesa. Pegou uma faca de serrinha e cortou um pedaço grande do pão, dando uma mordida com vontade.

— Ashashashs-!

Horror chiou enquanto tentava puxar o ar para esfriar a boca. O pão estava muito quente, mas ele continuou comendo mesmo assim.

— Ashashahf-!

Cross ficou olhando para ele, com o cenho franzido.

— Por que você não espera o pão esfriar?

Horror deu de ombros e deu outra mordida no pão.

Ficaram por alguns minutos ali, tomando café sem dizer nada. Horror terminou seu pedaço de pão e recostou na cadeira, cruzando os braços por um momento.

— Então... o Killer e você estão de mal ou o quê?

Perguntou, tentando puxar assunto. Um revirar de olhos depois, Cross respondeu:

— Foi só uma discussão.

— Sobre?

— Nada.

— Mentira.

Cross cruzou as pernas e se ajeitou na cadeira, começando a se irritar. Era incrível a habilidade que Horror tinha de passar de respostas monossilábicas para inconvenientemente questionador.

Houve uma pausa.

— É por causa de você e do Dream?

Um momento constrangedor de silêncio pairou sobre eles depois de Cross engasgar com o café. Horror franziu o cenho e afastou o pão, protegendo-o do ataque de tosse.

— Porra, todo mundo sabe?!

—Só eu. — Horror pensou por um momento. — E Killer.

Cross esfregou o rosto. Era tudo que ele precisava, mais uma boca pra se preocupar em manter fechada. "Poderia ser pior", pensou ele. Ao menos, na maior parte do tempo, aquela boca estava mais ocupada comendo do que falando.

— Como você soube?

Perguntou, meio exaltado. Horror deu de ombros.

— Eu estava ali perto do jardim catando jabuticaba e ouvi você e Dream conversando. Depois o Killer apareceu puto da vida e... bom, eu só liguei os pontos.

Disse calmamente, dando mais uma mordida no pão quente.

— Ashashashs-!

Cross esfregou o rosto, impaciente.

— Assopra o pão, Horror. Assopra.

Mas era tarde demais, ele já havia enviado na boca a última fatia do pão quente.

— Ashashashs-!

Com um suspiro, Cross virou o resto do café num gole só e bateu a xícara na mesa.

— O meu QI abaixa um ponto toda vez que eu tento entender o raciocínio das pessoas com quem eu convivo.

Horror o encara por alguns momentos, em silêncio. Seu único olho vermelho, que mal piscava, o deixava um pouco incomodado. Tinha um olhar analítico e ao mesmo tempo bizarro.

— Você é muito complicado.

Cross franze o cenho.

— O quê?

— Complicado.

— Eu ouvi. Só não entendi o que você quis dizer.

Ajeitando-se na cadeira, Horror entrelaça os dedos sobre a mesa e pensa por alguns segundos antes de responder.

— Você enxerga muito problema onde não existe. Complica coisas simples.

Por um momento, Cross parece meio ofendido. Ele balança a cabeça:

— Não coloco não.

Horror faz outra pausa, olhando brevemente para o nada enquanto pensava.

— Qual o problema com o Dream?

Cross suspira e cruza os braços, hesitando em responder, mas de todo modo não adiantava mais esconder nada de Horror.

— Ele quer que eu fuja com ele.

— Você gosta dele mesmo?

— É.

Com uma expressão muito calma, Horror  concorda lentamente com a cabeça e dá de ombros.

— Então foge, ué.

Um bilhão de respostas revoltadas e descrentes passaram pela cabeça de Cross naquele momento.

— O quê?! Não é-!! Mas você não-! E se-!

Horror pisca para ele calmamente.

— Não é nem muito difícil, na verdade. Tem um monte de universos alternativos de X-Tale por aí, existem vários outros “Cross” de outras linhas do tempo. Você pode simplesmente pegar um que seja mais parecido com você e colocar ele aqui. Nightmare nunca ia notar a diferença porque não tem nenhuma. Fim do problema.

Um longo silêncio paira sobre eles.

— Horror, essa foi a coisa mais idiota que já saiu da sua boca. Nunca daria certo.

Ele dá de ombros.

— Eu faço isso quase todo fim de semana. Pago cinquentinha pra um Horror aleatório ficar aqui quando tô afim de dar um tempo da cara de vocês.

Cross nega com a cabeça, rindo de nervoso.

— Não, isso é ridículo. Eu perceberia.

Horror dá uma risada baixa e levanta os braços, se espreguiçando na cadeira.

— Eu faço isso há dois anos.

Sem saber mais o que dizer, Cross esfrega novamente o rosto com a mão, olhando incrédulo para a parede.

— Eu joguei baralho com um Horror falso pelos últimos dois anos?

Horror ri e concorda com a cabeça.

— É, eu odeio baralho.

Cross se levanta da mesa, caminhando lentamente até a porta e saindo com uma expressão de pura derrota.

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⏰ Última atualização: Feb 04 ⏰

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