— Não sabia que tinha carta de motorista — Satoru comentou quando estavam no meio da estrada, Suguru tinha acabado de ultrapassar três caminhões e continuava acelerando — Você dirige bem.
— Não tenho carta, é caro e eu não teria dinheiro suficiente para pagar todas as multas que teria caso tivesse um carro — foi o que ele respondeu, e o que fez Satoru pular em seu banco — Mas não se preocupe com isso, meu pai me ensinou a dirigir desde pequeno, certo que uma porsche é algo diferente de uma caminhonete antiga do interior, mas você não vai morrer hoje.
— Se você conseguiu passar das aulas de antropologia do velhote e ainda ganhou a confiança dele eu realmente não me importo nem um pouco em confiar minha vida a você — talvez agora que sabia que aquele maluco não tinha carta de motorista, nenhum conhecimento sobre carros automáticos e nem sobre as estradas urbanas, estivesse com um pouco de medo, mas era besteira aquela altura do campeonato — Estamos indo para longe? Como você vai nesse lugar sem carro?
— Vinte minutos de trem não destroem a vida de alguém, Satoru Gojo — ironizou, e viu que o outro ficou levemente incomodado — Desculpa, é que eu não consigo imaginar você passando perrengue de pegar ônibus e metrô para chegar na faculdade, e muito menos fazendo viagens que não sejam de avião e helicóptero.
Parte de Satoru sentia vontade de dar uma resposta como "eu já fiz isso" ou "não sou como você pensa", mas naquele jogo esquisito que jogava com Suguru, percebeu que a sinceridade estava sendo a única maneira de se conhecerem, e ele não queria abrir mão de algo que até então estava sendo tão bom.
— Os meus pais são... Pessoas muito obcecadas com riquezas e com nosso status na sociedade, então acaba sendo muito difícil tentar ir contra a vontade deles quando se trata de garantir que eu viva a mesma realidade das pessoas ao meu redor. Se alguma amiga da minha mãe comentasse que me viu esperando um ônibus ou algo parecido, a mulher iria ouvir pelas próximas horas do dia dela como somos ricos o suficiente para comprar uma empresa de ônibus e usá-los para lazer — riu da situação, mesmo sabendo que era um pouco trágico — Eles só não percebem que não importa quanto dinheiro tenhamos, você precisa ter algo a mais para chegar ao mesmo patamar da alta sociedade.
Sua mãe na verdade sabia muito bem daquilo, e por isso insistia tanto que o garoto corresse atrás de uma namorada, mas não uma garota qualquer. A meses ela vinha fazendo uma pesquisa extensa sobre solteiras com sobrenomes cobiçados, garotas tão ricas que poderiam viver uma vida inteira sem fazer nada e ainda sim não teriam grandes problemas.
— Pessoas ricas são as mais idiotas que eu já conheci em toda minha vida, e eu conheci muitos idiotas ao longo de toda minha vida, mas nada como idiotas que se acham parte da elite da sociedade porque tem uma grande empresa, quer dizer... Me desculpe por falar assim, mas se seus pais soubessem o quanto o agronegócio lucra por ano, teriam vergonha de sair se exibindo assim — Suguru fez uma manobra que forçou Satoru a se segurar firmemente — Com medo?
— Com certeza, agora eu definitivamente entendi porque você não tem carta de motorista.
— Existem certos sacrifícios que precisamos fazer pelo bem da sociedade, e ás vezes eu aceito eles — ele ria da própria falta de habilidade no volante enquanto manobrava pela estrada com cuidado, tentando não matar Satoru de ansiedade — Chegamos.
Entretido na conversa, Satoru não tinha percebido que tinham entrado em um pequeno vilarejo, com casinhas pequenas e iguais, e pararam em frente a maior delas, com um parquinho na frente e crianças correndo de um lado para o outro.
— O que viemos fazer aqui? — não era uma pergunta séria ou algo do tipo, ele apenas estava surpreso por ter ido parar naquele tipo de lugar. Suguru não parecia ser o tipo de pessoa que se dava bem com aquele tipo de ambiente.

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Deu pra passar? - Satosugu
Fanfiction"Ninguém liga pra antropologia" Essa foi a principal alegação de Satoru Gojo por dois meses de aula, até ele descobrir que muita gente liga pra Antropologia, e que a matéria de fato iria reprová-lo. E bom... Faculdade não parecia ser uma coisa tão s...