05.

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"Não tenho intenção de glorificar "H.H.". Ele, sem dúvida, é horrível, abjeto, um exemplo vivo de lepra moral, um misto de ferocidade e jocosidade que talvez revele suprema miséria, mas que não o torna atraente. É enfadonhamente extravagante. Muitas de suas opiniões causais acerca do povo e da paisagem deste país são visíveis. A desesperada honestidade que pulsa através de sua confissão não o absolve dos pecados de uma astúcia diabólica. É um anormal. Não é um gentleman."

— Vladimir Nabokov (Lolita).

JK.

O ar condicionado está frio por todo o hospital, e isso de certa forma me conforta. É prazeroso sentir o arrepio subir ao corpo à medida que a temperatura abaixa.

Depois de deixar Jimin no ponto de ônibus, o caminho até a ala protegida do hospital foi afiado e preciso como um bom bisturi. Eu estava um tanto atrasado, confesso, mas foi por uma boa causa. Nos meus passos bem calculados, nos sorrisos brancos e bem feitos que distribuo, há uma magia por muito não vista pelos outros.

Passar por eles é como dançar por entre véus de seda, inofensivo e macio. Já dentro do elevador, subo até o último andar rumo ao leste do prédio, onde se encontra o meu compromisso.

A cirurgia citada antes por minha mãe, a de um dos homens de meu pai, está no aguardo. O anestesista de sempre está me esperando na parte particular do centro cirúrgico, secreta e imaculada para nossos interesses.

Quando chego no corredor, noto que a única coisa que ilumina o ambiente é uma luz no fim do corredor, bem em cima da porta dupla que leva à sala de cirurgia. Meus passos ecoam no ambiente, e decerto creio que já reconheçam a minha chegada. Uma enfermeira e um técnico de enfermagem estão no aguardo de minha pessoa, e com toda certeza o paciente já está apagado.

Estas não são as melhores condições de se pôr um ser humano. Eu reconheço, mas não impeço.

— Doutor Jeon? Estávamos te esperando. O anestesista já cuidou do cara. Se limpa, o Paik vai pôr seu uniforme cirúrgico quando acabar. — a enfermeira, desconhecida por mim, me avisa.

Sempre são profissionais diferentes a cada operação, o único que continua comigo em todas elas é o anestesista Min. Yoongi entrou no hospital um pouco antes de mim, e apesar de ser quieto e mal visto por alguns, é bom no que faz. Discreto, eficiente e fiel.

Algumas pessoas não confiam porque querem, mas sim porque precisam. Independente do motivo de seguir a mim e aos meus propósitos, tê-lo como um vigia fixo é um cavalo em um tabuleiro de xadrez.

A sala de esfoliação é ligada à sala de cirurgia, e com uma grande pia de inox, comecei a fazer a higienização de minhas mãos e braços. Não é correto ou usual, porém, nada nesta situação é.

Os jatos de água vieram fortes sobre minhas mãos, e cinco minutos às esfregando obsessivamente foram o bastante. Com as mãos viradas para cima, deixo a água escorrer após fechar a torneira com o cotovelo.

— Sério? Não temos tempo para isso, anda. — o Min, pálido e impaciente surgiu na porta que liga ambas as salas. — Deixa que eu seco.

O anestesista já conhecido por mim está com a máscara e uniforme devidos para o ambiente cirúrgico, e parte de mim se inquieta na vontade de mandá-lo voltar antes que se infecte, mas não é como se fosse mudar algo. Não somos os mocinhos.

O homem de cabelos pretos parou em minha frente e, com compressas estéreis, secou meus braços sem me dirigir o olhar. Eu, pelo contrário, vejo de cima todos os traços de seu rosto e cabelos. Seus fios são finos e longos, embora eu só os consiga vê-los agora através da touca. Tão escuros, diferente do meu Jimin.

Doces Óculos; jjk+pjm.Onde histórias criam vida. Descubra agora