"Não tenho intenção de glorificar "H.H.". Ele, sem dúvida, é horrível, abjeto, um exemplo vivo de lepra moral, um misto de ferocidade e jocosidade que talvez revele suprema miséria, mas que não o torna atraente. É enfadonhamente extravagante. Muitas de suas opiniões causais acerca do povo e da paisagem deste país são visíveis. A desesperada honestidade que pulsa através de sua confissão não o absolve dos pecados de uma astúcia diabólica. É um anormal. Não é um gentleman."
— Vladimir Nabokov (Lolita).
JK.
O ar condicionado está frio por todo o hospital, e isso de certa forma me conforta. É prazeroso sentir o arrepio subir ao corpo à medida que a temperatura abaixa.
Depois de deixar Jimin no ponto de ônibus, o caminho até a ala protegida do hospital foi afiado e preciso como um bom bisturi. Eu estava um tanto atrasado, confesso, mas foi por uma boa causa. Nos meus passos bem calculados, nos sorrisos brancos e bem feitos que distribuo, há uma magia por muito não vista pelos outros.
Passar por eles é como dançar por entre véus de seda, inofensivo e macio. Já dentro do elevador, subo até o último andar rumo ao leste do prédio, onde se encontra o meu compromisso.
A cirurgia citada antes por minha mãe, a de um dos homens de meu pai, está no aguardo. O anestesista de sempre está me esperando na parte particular do centro cirúrgico, secreta e imaculada para nossos interesses.
Quando chego no corredor, noto que a única coisa que ilumina o ambiente é uma luz no fim do corredor, bem em cima da porta dupla que leva à sala de cirurgia. Meus passos ecoam no ambiente, e decerto creio que já reconheçam a minha chegada. Uma enfermeira e um técnico de enfermagem estão no aguardo de minha pessoa, e com toda certeza o paciente já está apagado.
Estas não são as melhores condições de se pôr um ser humano. Eu reconheço, mas não impeço.
— Doutor Jeon? Estávamos te esperando. O anestesista já cuidou do cara. Se limpa, o Paik vai pôr seu uniforme cirúrgico quando acabar. — a enfermeira, desconhecida por mim, me avisa.
Sempre são profissionais diferentes a cada operação, o único que continua comigo em todas elas é o anestesista Min. Yoongi entrou no hospital um pouco antes de mim, e apesar de ser quieto e mal visto por alguns, é bom no que faz. Discreto, eficiente e fiel.
Algumas pessoas não confiam porque querem, mas sim porque precisam. Independente do motivo de seguir a mim e aos meus propósitos, tê-lo como um vigia fixo é um cavalo em um tabuleiro de xadrez.
A sala de esfoliação é ligada à sala de cirurgia, e com uma grande pia de inox, comecei a fazer a higienização de minhas mãos e braços. Não é correto ou usual, porém, nada nesta situação é.
Os jatos de água vieram fortes sobre minhas mãos, e cinco minutos às esfregando obsessivamente foram o bastante. Com as mãos viradas para cima, deixo a água escorrer após fechar a torneira com o cotovelo.
— Sério? Não temos tempo para isso, anda. — o Min, pálido e impaciente surgiu na porta que liga ambas as salas. — Deixa que eu seco.
O anestesista já conhecido por mim está com a máscara e uniforme devidos para o ambiente cirúrgico, e parte de mim se inquieta na vontade de mandá-lo voltar antes que se infecte, mas não é como se fosse mudar algo. Não somos os mocinhos.
O homem de cabelos pretos parou em minha frente e, com compressas estéreis, secou meus braços sem me dirigir o olhar. Eu, pelo contrário, vejo de cima todos os traços de seu rosto e cabelos. Seus fios são finos e longos, embora eu só os consiga vê-los agora através da touca. Tão escuros, diferente do meu Jimin.
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Doces Óculos; jjk+pjm.
FanficJungkook vivia em um mundo de facilidades. Cresceu em uma boa família, sempre teve amor vindo de seus pais e, como todo jovem rico que se preze, cursou uma boa faculdade, tornando-se assim cirurgião geral. Ele nunca teve um motivo real para se ver r...