"É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação".
— Friedrich Nietzsche.
JK.
É impressionante como a roda desse maldito mundo é capaz de girar.
Quando eu era mais novo, insistia em dizer aos meus pais que queria um gatinho de presente em meu aniversário, mas eles nunca me deram. Eu insisti várias vezes, mas nunca recebi o bichinho esperado.
Quando vi que não iriam me dar o animal, fui à rua e busquei um bichano eu mesmo. Seu pelinho era alaranjado e seus olhos eram verdes, e ele vivia encolhido em minhas mãos, temendo apanhar mas nunca fugindo, assustado demais para dormir em minha cama, mas também muito grato pela comida para ir embora. Assim era a minha relação com meu bichinho. Eu nunca consegui o acariciar, no entanto, mas me contentava em saber que sua segurança dependia de mim.
Lembro-me até hoje do dia em que o trouxe escondido para a minha casa pela primeira vez. O céu estava desabando em água, e o animal encolhido no bolso da minha capa de chuva não miava. Por sorte, meu pai estava viajando a trabalho e minha mãe não havia chegado do hospital ainda, o que garantiu o casarão inteiro para minha pequena façanha.
— Vamos, gatinho. — disse ao chegar em meu quarto, ignorando o rastro molhado atrás de mim. — Mia pra mim.
Eu coloquei o animal sobre o tapete largo e azulado que ficava sob minha cama, uma espécie de carpete felpudo. Minha mãe que decorava o meu quarto, e eu não ligava pra essas merdas caso significasse ter a mais velha sorrindo.
Eu fiquei abaixado perto do filhote trêmulo, mas nada dele miar. Cara, para uma criança de sete anos, eu fiquei muito puto. Os gatos miam, não é? Se bebês humanos choram, por que bebês gatos não fazem o mesmo?
Será que os gatos não miam se estiverem com frio? Os bebês também param de chorar se sentirem frio?
Essa interrogação ficou na minha cabeça enquanto encarava o filhote, mas nunca foi respondida. Nunca mergulhei um recém nascido em gelo para saber a resposta.
— Mia pra mim! Miau!
Eu gritei com o gato, e se antes ele estava se esfregando no tecido para se aquecer, após o meu grito o animal correu para baixo da cama com um miado histérico, temendo me olhar até mesmo por baixo da madeira.
Ele se assustou, mas só assim para ele miar pra mim. Eu não consegui fazer de outro jeito. Eu não sabia como.
Acho que comecei a gostar do som de miados naquele dia. Infelizmente, foi o único som que ouvi saindo da boca do Doçura. Não me estranhem, quem batizou o animal não fui eu, mas sim minha vizinha estrangeira, Bia.
Ela era loira também, igual ao Doçura. Se eu a visse hoje, tenho certeza que a estrangularia pelo o que fez. Foi tudo culpa dela.
"Qual o nome dele?". Essa foi a pergunta que a maldita me fez quando nos conhecemos. Em um dia como todos os outros, eu estava sozinho em casa e aproveitei para brincar com meu gato no quintal, já que em outros momentos ele precisava ficar trancado em meu quarto.
Eu não saía muito do portão para fora, mas por algum motivo eu saí naquela tarde.
— Ele não tem nome. — respondi à menina que notei ser minha vizinha.
— Chama ele de Doçura! Ele parece um marshmallow assado. — disse rindo.
A risada dela parecia com o miado do Doçura; eu gostava do som. Enquanto meu gato se negava a miar para mim, ouvir a risada dela foi uma boa distração.
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Doces Óculos; jjk+pjm.
FanfictionJungkook vivia em um mundo de facilidades. Cresceu em uma boa família, sempre teve amor vindo de seus pais e, como todo jovem rico que se preze, cursou uma boa faculdade, tornando-se assim cirurgião geral. Ele nunca teve um motivo real para se ver r...