Já imaginou fazer parte do eletrizante universo da Fórmula 1, vivendo momentos intensos ao lado dos maiores pilotos do mundo? Neste livro, você terá a chance de mergulhar em histórias únicas e inesquecíveis, onde cada página o leva para os bastidore...
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"Eu não me importo com o futuro, eu me importo com agora."
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O fim de semana em Angra dos Reis parecia ter sido planejado para que, por um breve e precioso momento, pudéssemos fugir do mundo. Sem pressa, sem compromissos, sem o tumulto das vidas que, lá fora, nunca paravam. Tudo o que havia ali era silêncio, a brisa suave do mar e o calor aconchegante de uma casa acolhedora, escondida na costa, onde os reflexos do sol se misturavam ao azul cristalino da água.
O primeiro dia amanheceu em um ritmo que eu já não lembrava mais como se sentia. Acordei com o som das ondas quebrando na praia, um som tão calmo que parecia ter o poder de apagar as lembranças do mundo lá fora. Não havia relógios, nem o relógio mental de que o tempo está sempre correndo. Era como se ali, naquele pedaço de paraíso, o tempo se permitisse descansar.
Ayrton estava ao meu lado, ainda com os olhos fechados, respirando suavemente, como se o sono fosse a coisa mais tranquila que ele poderia fazer. Era raro vê-lo assim, sem a constante pressão das corridas, sem a cobrança que parecia correr ao redor dele o tempo inteiro. Ele virou para mim, com um sorriso leve nos lábios, sem pressa alguma de levantar.
— Bom dia — disse ele com a voz rouca, ainda carregada pelo sono. Ele estendeu a mão e, com um gesto suave, tocou meu rosto. — Você também deve ter sentido isso, né? Aqui, tudo é mais... leve.
Eu sorri e concordei. Levantei-me devagar, sentindo o frescor da manhã invadir a casa através das janelas abertas. O ar estava mais limpo, mais puro. Sem a poluição da cidade, sem as preocupações que nos perseguem o tempo todo.
Saímos para a praia, os pés descalços tocando a areia fria, ainda gelada da noite. A praia estava vazia, com apenas algumas gaivotas voando ao longe e o mar quebrando suavemente nas pedras. O sol começava a se elevar no horizonte, tingindo o céu de tons de laranja e rosa. O cheiro do mar, forte e salgado, parecia limpar todos os pensamentos da minha mente.
Ayrton caminhava ao meu lado, com uma tranquilidade que contrastava com a imagem do homem de público que todos conheciam. Ele me olhou e, sem dizer nada, segurou minha mão, como se quisesse compartilhar aquele momento de silêncio com alguém que realmente entendesse a beleza de estar ali, sem pressa de chegar a lugar algum.
— Vamos até ali — disse ele, apontando para uma pequena enseada, um cantinho escondido entre as pedras, onde o mar estava mais calmo e as águas eram claras. Caminhamos juntos até lá, os pés deixando marcas na areia. A água estava fria, mas refrescante. Ele se virou para mim e, com um sorriso, deu um leve pulo para entrar na água. Eu o segui, rindo com a surpresa do toque gelado, mas logo me adaptei à suavidade das ondas que se enrolavam ao redor de nossos corpos.
Ali, naquele pedaço de mar só nosso, o tempo parecia se arrastar com uma lentidão gostosa. Conversamos sobre tudo e sobre nada, como se a vida de todos os outros não existisse fora daquele lugar. Ele falou sobre suas memórias de infância, sobre o tempo em que costumava se esconder na casa de campo da família, longe dos olhos do público, apenas para poder ser ele mesmo.
Voltamos para a casa logo depois, e o aroma do café começava a invadir o ambiente, misturado com o cheiro de pão caseiro que vinha da cozinha. Ayrton se sentou na mesa do jardim, debaixo de uma sombra gostosa, com um olhar concentrado sobre a cafeteira, como se estivesse prestes a fazer uma grande invenção.
— Eu sou péssimo nisso — ele disse, rindo para mim enquanto tentava fazer o café. — Mas, bem, a vida é feita dessas pequenas coisas. Vamos ver o que sai.
Eu o observei com carinho, seu rosto sério enquanto mexia no café, mas logo o sorriso maroto voltava ao seu rosto. O cheiro do pão quente e das frutas frescas completava o cenário, trazendo uma sensação de aconchego que era difícil de encontrar no ritmo frenético da vida lá fora.
Tomamos café juntos, comendo fatias de melancia e manga. Ele brincava com as palavras, fazendo piadas bobas que me faziam rir sem querer. Conversávamos sobre coisas simples, como o tempo, o calor, o mar, e até sobre como ele sempre esquece de colocar açúcar no café e acaba fazendo uma mistura sem graça. Mas aquilo era o suficiente para tornar o momento mágico. Não era a correria das vitórias, nem a pressão das responsabilidades. Era apenas ele, ali, tentando fazer algo simples, e eu, ao seu lado, apreciando.
A tarde passou sem que percebêssemos. Preparar o piquenique foi outro momento de pura descontração. Ele fez questão de cortar as frutas, sorrindo enquanto tentava escolher os melhores pedaços de abacaxi e melão. A comida era simples, mas tinha um gosto especial, talvez pela companhia, talvez pelo local. A sombra das árvores grandes nos oferecia uma proteção natural contra o sol forte, e o som das folhas balançando ao vento parecia criar uma trilha sonora única.
Comemos deitados na grama, deitados ao lado de uma toalha colorida, falando sobre tudo e sobre nada. Ele me alimentava com pedacinhos de manga, sempre perguntando se eu queria mais. Olhei para ele e vi a suavidade no seu olhar, a maneira como ele olhava para as pequenas coisas com tanta atenção, como se cada momento fosse uma preciosidade a ser guardada.
Quando o sol começou a se despedir, colorindo o céu com uma paleta de cores quentes e douradas, nós nos enrolamos em cobertores na varanda da casa. O vento suave da tarde trazia uma sensação de paz, e juntos ficamos ali, observando o horizonte até a última luz desaparecer.
Ayrton me contou sobre como, na sua infância, costumava olhar para o céu em busca de respostas. Ele me disse que as estrelas sempre lhe pareciam algo além de tudo o que ele podia tocar, um lembrete de que a vida é maior que qualquer conquista.
— Eu ficava olhando para o céu e me perguntava o que é que eu realmente queria da vida. Às vezes, quando as coisas ficam difíceis, eu volto para esse lugar. Para as estrelas, para o mar. Porque é ali que eu me encontro.
À noite, o jantar foi um deleite. Ele, sempre charmoso, preparou uma refeição simples, mas feita com tanto carinho que não havia como não se apaixonar por aquele momento. Eu estava completamente envolvida em tudo o que ele fazia, da forma como ele movimentava as mãos, a forma como ele olhava para mim com a mesma suavidade com que olhava para as estrelas.
Depois da refeição, caminhamos de volta até a praia. A noite já estava instalada, mas o céu ainda estava claro o suficiente para ver as constelações. Paramos na beira da água, e ele me abraçou, segurando minha mão com delicadeza. Então, com um sorriso suave, ele se aproximou e beijou minha testa.
— Momentos como esse são preciosos — ele disse baixinho. — Às vezes, a felicidade não está nas grandes vitórias, mas nas coisas simples. No silêncio da noite, nas ondas quebrando na praia. No fato de estarmos aqui, agora, juntos.
Eu sorri, sentindo que, naquele momento, o tempo havia parado. Não havia nada mais importante naquele instante do que estar ali, com ele, naquele lugar.
Aquele fim de semana em Angra dos Reis se tornaria uma das lembranças mais eternas da minha vida. A tranquilidade do lugar, a suavidade do seu jeito e a simplicidade do amor compartilhado naquele refúgio, longe de tudo o que nos sobrecarregava. Não havia nada mais perfeito que aquele silêncio, aquela paz, aqueles momentos.