capítulo XV- Igual a eles.

0 0 0
                                    

    Marceline acordou em uma cama, o que era estranho, achava que tinha morrido de verdade... ela havia parado de respirar? Não conseguia lembrar. Se sentia fraca, dolorida, cheia de machucados, suas roupas não eram suas...

    Olhou e pensou que precisava sair dalí, nem sabia onde estava mas não conhecia ninguém, coisa boa não era. Ela apenas pegou sua bolsa com os pertences de Anthony e saiu pela janela. Correu o máximo que pode, o que não foi muito.

    Estava tão fraca, não deveria ter chegado a um quilômetro da casa quando caiu perto de uma árvore e não conseguiu se levantar. Resolveu sentar e respirar um pouco(contra sua vontade). Só lembrava dos antepassados de Anthony tentando matá-la e de apanhar para eles... sentia que debaixo daquelas roupas de frio que não eram dela, estavam vários hematomas.

    Falando em suas roupas... ela estava com uma blusa masculina de época, uma calça de época também, ambas bem mais quentes do que o usual. Não sabia de quem eram mas iam ter que servir.

    Percebeu que perdeu sua espada de fogo... deveria ter deixado na casa... DROGA! Ela olhou a bolsa, se tinha algo de útil e viu o caderno de Anthony. Resolveu folhea-lo, não tinha nada melhor pra fazer mesmo.

    "Hoje faz um mês que meus pais e meus irmãos sumiram. Eu resolvi escrever nesse caderno pra me sentir melhor com... não sei, não sei o que eu estou sentindo, honestamente.

    Sinto falta deles, mas não pouca. Não é saudade, eu queria eles aqui. É horrível esse sentimento de alguém ser tirado de você sem motivo, quer dizer, eu nem sei o que aconteceu com eles... eles só sumiram e eu não sei se vão voltar.

    Rezo para todas as almas para guiá-los para casa. Dorothy também não ajuda, quer que eu me anime, não me fala o que aconteceu nem nada, diz que eles só sumiram. Eu não sei, talvez eu só precise esperar mais um pouco, eles vão voltar... eu sei que vão. Não quero saber o que seria da minha vida sem as pirraças do Wallace, o sorriso da Vi, a alegria de Lucy, a inocência do Jack e o amor dos meus pais.

    Eu só tenho 15 anos. Preciso de alguém pra cuidar de mim ainda, não consegui fazer o básico. Eu tentei, mas não consigo... acho que vou morrer de fome ou de tristeza. Ou não, eles voltarão logo."

    Isso deixou Marcy pensativa, 15 anos sem ninguém pra cuidar dele, tinha tudo e simplesmente não tinha mais. Folheou mais algumas folhas, eram só algumas reclamações ou surtos, mas uma lhe chamou atenção.

"Meu nome é Anthony Lewis, e essa é minha última carta."(não era, mas Marcy prosseguiu a leitura)"eu não aguento mais... já fazem 3 meses que minha família desapareceu e eu não consigo parar de pensar que foi culpa minha. Eu matei alguém, matei a saudade. Mas não porque os vi pela última vez como normalmente se mata a saudade, eu a matei de fome, cessei a esperança de ver eles de novo.

    Eu sou muito novo para cuidar da minha irmã, sou muito novo para ser assassino. Mas já me tornei um, não só a saudade, mas minha família. Do que me vale viver sem ela? Não tem ninguém que me ama aqui, eu não amo ninguém aqui, eu tô sozinho. Eu quero ficar com eles mais uma vez, quero deixar tudo nessa carta e me encontrar com eles. Eu preciso disso, preciso deles mais uma vez.

    Eu não quero ser responsável por matar a Dorothy de fome por não ser qualificado o suficiente pra fazer nada. Eu tentei. Eu dei meu melhor e não foi o suficiente, eu não sou o suficiente. Eu nunca fui o suficiente... por isso eles se foram. Eu mudei pra pior... eles não quiseram me ver assim. Eu também não quero. Eu não mereço, ninguém merece.

    Eu quero levar meu corpo ao lago. Meu único lugar de paz, onde passei meu último dia feliz ao lado de Vivian, Wallace e meu pai. Eu quero isso de novo, mas dessa vez sem puxar o ar quando sair da água e sim me tornar um só com ela. Eu quero ser útil para alguma coisa e terminar o ciclo da natureza, a perfeição que é seu anel. E assim farei."

jardim das almas Onde histórias criam vida. Descubra agora