Gabriel e Felipe

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Tudo de mim pra você

Gabriel estava de pé na janela do chão ao teto, observando o sol se pôr abaixo do horizonte de Baku. A luz dourada se estendia sobre os telhados da cidade, acomodando-se como um cobertor sobre o caos silencioso de suas vidas. Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo. Atrás dele, ele ouviu o tilintar suave de copos e uma risada calorosa. Felipe, vestido com um moletom enorme e aquele sorriso sempre travesso, aproximou-se dele com duas xícaras de café.

"Imaginei que precisaríamos disso antes que você fosse levado para outro universo", Felipe provocou, cutucando gentilmente o braço de Gabriel.

Bortoleto balançou a cabeça, aceitando a xícara. "Eu não estava tão perdido assim," ele respondeu com um sorriso.

"Poderia ter me enganado." O tom de Felipe era suave, mas ele olhou para Gabriel com a mesma intensidade de sempre, seus olhos um universo de calor. Em seus anos juntos, isso sempre surpreendeu Gabriel - dessa forma Felipe conseguia puxá-lo de volta de qualquer abismo com apenas um olhar, uma risada, uma palavra gentil.

Eles eram uma dupla estranha, dois pilotos competidores, muitas vezes consumidos demais pelos ritmos brutais do esporte. No entanto, de alguma forma, em meio a todas as coletivas de imprensa, os horários de voos e aqueles circuitos vertiginosos, eles se encontraram.

Gabriel tomou um gole, fechando os olhos para saborear o calor familiar. "O que eu faria sem sua boca inteligente?"

Felipe riu. "Ah, não fique sentimental comigo agora. Você é quem me mantém na linha, lembra?"

O comentário foi leve, mas Gabriel podia sentir a profundidade por trás dele. Ele sabia que Felipe não estava falando apenas sobre as pequenas coisas. Houve tantos momentos - momentos em que a vida os derrotou, quando o peso da expectativa e do fracasso tornou difícil respirar. Sempre foi nesses momentos que Gabriel encontrou Felipe esperando, sua força silenciosa o aterrando, mesmo quando Gabriel não tinha as palavras.

A mão de Felipe escorregou na dele, apertando gentilmente. "A temporada está quase acabando," ele murmurou, quebrando o silêncio que se estendia entre eles. "Estou animado para vê-lo no grid no próximo ano e triste por estar acabando essa temporada."

Gabriel olhou para ele, surpreso com a tristeza em sua voz. "Não é o fim do mundo", ele respondeu. "Você sabe que voltaremos no ano que vem."

O sorriso de Felipe vacilou por um segundo, seu olhar caindo no chão. "É só que-e se não for o suficiente, sabe? Todos esses anos, todo o trabalho... e alguns dias, não consigo deixar de me perguntar se não fui feito para isso... Sabe, eu quero que você saiba que estou muito feliz por você ter conseguido uma vaga. Mas não consigo parar de pensar no que estou errando pra eles não me escolherem."

"Não." A voz de Gabriel era firme. "Você sempre foi o bastante, Felipe. É o resto do mundo que precisa se atualizar."

As palavras eram simples, mas a verdade nelas era inabalável. A fé de Gabriel nele tinha sido a âncora que manteve Felipe firme em cada alto e baixo, cada vitória e derrota.

*****

Naquela noite, Gabriel acordou com o som fraco de Felipe andando de um lado para o outro no quarto, sua sombra se movendo como um fantasma ao luar.

"Fê?" A voz de Gabriel estava grogue, mas ele se sentou, empurrando os cobertores para o lado.

Felipe parou no meio do caminho, olhando para ele com um pequeno sorriso culpado. "Não queria te acordar."

Gabriel caminhou até ele, envolvendo os braços em volta da cintura do brasileiro, puxando-o para perto. "O que está acontecendo nessa mente linda?"

As mãos de Felipe deslizaram pelas costas de Gabriel, descansando ali enquanto ele olhava para baixo. "Só... pensando," ele sussurrou. "Sobre tudo. Corridas. O futuro. Nós."

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