O Perigo e a Perdição - Karine Teles

Paz

A sala estava mergulhada em um silêncio reconfortante. Depois de semanas de tensão e incertezas, Karine e Isadora finalmente podiam respirar. O peso das ameaças, das perseguições, parecia ter sido suspenso, pelo menos por enquanto. O sofá onde estavam parecia um refúgio, e a proximidade entre elas era como um escudo contra o mundo lá fora. 

— Você acha que isso realmente acabou? — Isadora perguntou, sua voz suave, mas cheia de dúvida. Ela olhava para Karine com aqueles olhos que sempre pareciam carregar uma centelha de esperança, mesmo nos momentos mais difíceis. 

Karine soltou um suspiro longo, puxando-a para mais perto. 

— Não acho que acabou. — Sua voz era honesta, mas não severa. — Mas acho que começamos algo, e isso é o mais importante. O resto a gente enfrenta juntas. 

O calor daquele momento era algo que Karine não sabia que precisava tanto. Passara a vida inteira fugindo de vínculos, acreditando que a solidão era uma armadura contra a dor. Mas ali, ao lado de Isadora, percebeu que o amor podia ser um porto seguro e, ao mesmo tempo, uma força transformadora. 

— Karine, eu gosto de você. — Isadora disse, sua voz saindo hesitante, como se estivesse desvendando algo que guardava há muito tempo. — Na verdade, eu te amo. Quero confiar e quero que confie em mim também. 

Karine ficou em silêncio por um momento. As palavras pareciam ressoar dentro dela, preenchendo espaços que antes estavam vazios. Era uma confissão que ela nunca soube se merecia ouvir, mas que, naquele instante, parecia fazer todo o sentido. 

— Você tem ideia do que isso significa para mim?

— Eu passei tanto tempo achando que não era digna de amor, que nunca conseguiria construir algo com alguém. Mas você... você mudou isso. 

Isadora sorriu, um sorriso genuíno que iluminou todo o ambiente. 

— E você me fez acreditar que é possível confiar.

Ela pegou a mão de Karine e a apertou suavemente.

— Quero começar isso do jeito certo, sem medos, sem reservas. 

Karine não conseguiu conter o impulso de beijá-la. Foi um beijo profundo, cheio de significado, como se fosse uma promessa silenciosa. Quando se afastaram, ambas estavam com os olhos brilhando, e Karine sentiu que, pela primeira vez, tinha algo real pelo qual lutar. 

A noite seguiu com uma tranquilidade que parecia quase surreal. Elas ficaram abraçadas no sofá, conversando sobre coisas simples, como o futuro e pequenas mudanças que queriam fazer na casa. Cada palavra trocada era um lembrete de que, apesar de todo o caos recente, ainda havia espaço para recomeços. 

— Sabe o que eu percebi hoje? — Karine perguntou, enquanto Isadora descansava a cabeça em seu ombro. 

— O quê? — Isadora respondeu, sonolenta, mas atenta. 

— Que o amor não é algo que te prende. Ele te liberta. — Karine disse, quase para si mesma. 

Isadora levantou a cabeça e olhou para ela com ternura. 

— Eu sempre acreditei nisso, mas acho que você me ajudou a provar que é verdade. 

Elas ficaram em silêncio novamente, mas não era um silêncio vazio. Era confortável, cheio de significados não ditos. O mundo lá fora ainda era incerto, mas dentro daquela casa, naquele momento, tudo parecia certo. 

Mais tarde, antes de dormirem, Karine segurou o rosto de Isadora com delicadeza e disse: 

— Eu quero que você saiba que, não importa o que aconteça, eu estou aqui. Por você, por nós. 

Isadora sorriu, com uma lágrima escapando pelo canto do olho. 

— Eu sei. E eu também estou aqui, Karine. Sempre. 

Quando finalmente adormeceram, Karine sentiu algo que não sentia há anos: paz.

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