Capítulo 1

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Elle Martins

Anos antes...

- FICA QUIETA, GAROTA! EU NÃO AGUENTO MAIS!

A dona Vilma gritou comigo e eu tentei me calar.

Eu chorava muito. Estava com fome e sede.

Fazia mais de 2 dias que eles não deixavam eu me alimentar. Isso era desumano. Eu era uma criancinha!

Comecei a soluçar sem parar, mas ainda assim era mais silencioso que o choro.

- Garota esperta. Se continuar quietinha, pode ser que eu não te deixe sem comer pelo resto da noite. Reze para que eu seja piedosa.

Então ela saiu e trancou a porta do quarto com a chave.

Esperei alguns segundos e me levantei do chão já correndo para a cama. Me encolhi lá e voltei a chorar o mais baixo possível.

Naquela época, eu tinha 6 anos. Ainda não sabia o porquê de tanto sofrimento.

Eu era inocente e obediente, mas mesmo assim procurava um meio de ser feliz - o que, nas minhas condições, era, tecnicamente, impossível -.

Uma vez eu assisti um filme junto com Dona Vilma - escondida, lógico - que contava a história de uma menina que era como eu: Infeliz.

Ela era maltratada, violentada e sem vida, por isso se jogou da janela mais alta da casa na qual ela vivia. Depois disso, uma luz branca aparecia e ela finalmente encontrava a paz... A verdadeira felicidade.

Era isso que eu também queria. Eu queria viver em um mundo mais feliz. Então, naquela mesma noite, eu corri para a janela do meu quarto e - com muito esforço - a abri.

Fiquei surpresa por ela não estar fechada, como era de costume.

Talvez aquilo fosse um sinal. Eu estava no caminho certo...

Então me sentei na beirada, olhei para o chão e me joguei.

Eu não senti medo nem senti vontade de desistir. Eu simplesmente fui e me deixei levar. Era exatamente aquilo que eu queria. Eu queris ver a luz branca.

Pena que a janela não era tão alta quanto eu precisava. A luz branca não veio. Então eu caí no chão e senti uma dor imensa.

Na verdade, tudo doía. Eu não conseguia nem se quer me levantar.

Até que alguém apareceu.

Era um homem - reconheci pela voz -, mas eu não sabia quem era. Nunca nem havia o visto.

- Não, não, não.. O que aconteceu? Por favor... Diga que está viva... Diga que está bem - virou meu corpo para cima já que eu estava de bruços.

Eu acho que tentei falar algo. Talvez tenha feito algum ruído, por que ele pediu para eu repetir.

- Ta... Do-doendo.. - tentei dizer.

- Onde?

- Todo canto. Não consigo me me-mexer.

- Essa não! Droga! Vem. Vou te tirar daqui. Vou te salvar. - me pegou no colo e começou a caminhar, me fazendo sentir seu corpo quente.
Engraçado como eu sentia minhas pernas ficando frias e minha mente se distanciando.
Respirei fundo me preparando para dormir, porque de repente eu estava com sono, e quando fiz isso, consegui sentir seu cheiro. E era tão gostoso. Parecia que eu estava sendo abraçada por um monte de algodão doce.

Não sei bem o motivo, mas inalei novamente tentando sentir seu perfume para poder memorizá-lo.

E aí eu tossi. Minha cabeça começou a pesar e os meus olhos começaram a se fechar automaticamente.

Prostituta Por Obrigação - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora