Capítulo 4

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- FICA QUIETA, GAROTA! EU NÃO AGUENTO MAIS!

Vilma grita comigo e eu tento me calar.

Eu chorava muito. Estava com fome e sede.

Como toda vez, as mesmas sequências de fatos acontecem.

Vilma diz que se eu ficar quieta ela me alimentará e sai trancando a porta do quarto.

Eu espero alguns segundos para verificar se ela não vai mais voltar e caminho em direção à cama, me encolhendo logo em seguida, tentando chorar o mais baixo possível, e é quando eu me lembro do filme que assisti escondida, quando consegui entrar no quarto da diretora do orfanato.

Ele retratava a história de uma menina como eu, nova, e maltratada, então como uma forma de se livrar de tudo, ela se jogou da janela mais alta da casa e uma luz branca aparecia e ela encontrava a paz.

Era isso que eu também queria... Queria viver em um mundo mais feliz.

Sendo assim, corro para a janela do meu quarto e - com muito esforço - a abro.

Fiquei surpresa por ela não estar fechada, como era de costume.

Talvez aquilo fosse um sinal. Eu estava no caminho certo.

Me sento na beirada e me jogo.

Mas a janela não é alta o suficiente. Caio no chão e sinto uma dor imensa.

Até que alguém aparece. Um homem, ou um adolescente, não dava para ver direito.

- Oh Meu Deus! O que aconteceu? Por favor... Diga que está viva... Diga que está bem - virou meu corpo para cima já que eu estava de bruços.

Olho no seu rosto, mas está escuro. Não consigo ver nada.

[...]

- Essa não. Droga! Vem. Vou te tirar daqui. Vou te salvar. - me pega no colo e começa a caminhar.

E é quando eu sinto seu cheiro. Doce e agradável, mas sem deixar de ser masculino. Inalo profundamente tentando memorizar aquele perfume.

Eu começo a desmaiar e um outro homem grita com o que está me segurando nos braços e antes que eu apague por completo, posso ver o brilho nos seus olhos ao me encarar.

Eles são azuis.

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Acordo atordoada e sento na cama.

Aqueles olhos.

Foi a primeira vez que eles apareceram no meu sonho. Eu nunca havia sonhado com eles.

Passo a mão na cabeça tentado me recuperar.

Aquele olhar...

Balanço a cabeça tentando espantar qualquer pensamento sem noção que venha a me aparecer e noto que ainda está escuro.

Eu demorei a pegar no sono, depois do encontro com Mercedes. Fiquei assustada com o que ela me disse, e por isso, não consegui dormir direito.

Olho para as camas no quarto e percebo que todas estão ocupadas, menos uma.

A de Anna.

Abaixo a cabeça me sentindo culpada, mas me nego a chorar.

Eu vou ter que deixá-la aqui. Sozinha. Sem proteção.

Coloco a cabeça apoiada em minhas mãos.

Onde será que ela está? O que será que ela está fazendo?

Prostituta Por Obrigação - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora