"Livro 5 da Série Barcelona"
Assim como em toda empresa, a Azenez não foge do padrão das regras clássicas: sem relacionamento entre os funcionários.
Matteo, o herdeiro e rebelde que adora quebrar regras desde criança, passou por cima dessa regra esp...
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Eu sempre achei que tinha paciência suficiente para aguentar qualquer coisa — horas de reunião intermináveis, relatórios atrasados, até mesmo o Allan reaparecendo na minha vida com histórias que só poderiam sair de um filme ruim. Mas, agora, aqui, trancado nessa maldita van, eu percebo que estava errado. Não faz nem uma hora e meia desde que saímos de Milão rumo a Siena, e tudo o que consigo pensar é em abrir a porta e me jogar para fora.
Valentina está sentada ao meu lado. Tão perto que o perfume dela, o mesmo que ela sempre usava, invade minha cabeça e me tortura a cada segundo. Se eu fechar os olhos por muito tempo, vou me lembrar de todas as vezes que ficamos exatamente assim, lado a lado, mas em um contexto completamente diferente. Há poucas semanas, minha cabeça estaria encostada no ombro dela, e Cinthia estaria revirando os olhos e mandando a gente disfarçar melhor. "Vocês são um desastre nisso", ela sempre dizia, e nós apenas ríamos, porque, no fundo, não nos importávamos. Mas hoje... Hoje tudo está diferente.
Valentina não fala comigo desde que entrou na van. Não que eu esteja tentando puxar conversa. Na verdade, estou fazendo o máximo para manter os olhos na janela, fingindo um interesse repentino na paisagem monótona da estrada. A ironia é que, mesmo tentando evitar qualquer contato visual, cada movimento dela, cada vez que ela ajeita o cabelo ou muda de posição, me tira completamente do eixo. É como se o universo estivesse testando minha sanidade.
E claro, Cinthia, minha adorável melhor amiga, tornou tudo ainda mais fácil. Quando entramos na van e ela se acomodou no banco traseiro, não houve sequer uma tentativa de disfarçar. "Eu só achei que aqui atrás seria mais confortável", ela disse com aquele sorriso travesso, claramente se divertindo com a nossa situação. Valentina lançou um olhar de puro tédio para Cinthia, e eu, bem, só consegui encará-la incrédulo por alguns segundos. Não era possível que aquilo estava acontecendo.
Agora estamos aqui, presos nesse espaço apertado, com o silêncio se tornando insuportavelmente pesado. Cinthia está distraída no celular, provavelmente fingindo que não percebe o desconforto. Valentina mantém o olhar fixo no tablet dela, passando os slides da apresentação que vai fazer em Siena, mas a tensão no ar é palpável.
Eu sei que não deveria estar tão afetado. Nós dois sabíamos que era melhor assim, por mais que doesse. Manter distância, manter o foco. Mas, droga, não é tão simples. Não é simples esquecer a forma como ela ria das minhas piadas ruins, ou como parecia que tudo fazia sentido quando estávamos juntos. E agora, cada segundo nessa viagem parece um lembrete cruel de tudo isso.
Mudei de posição pela terceira vez em cinco minutos, tentando encontrar um jeito de não sentir o calor da perna dela encostando na minha. É um esforço inútil. A van não foi feita para oferecer espaço suficiente para fugir de problemas pessoais. Cinthia que o diga.
Suspirei e olhei para frente, tentando calcular quanto tempo ainda faltava para chegarmos. Se 90 minutos já foram uma tortura, eu não sei como vou sobreviver ao resto da viagem sem perder completamente o controle.