Capítulo 17

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Sou acordada pela doce voz envelhecida de Nanci.

Mal percebi a hora em que peguei no sono. Com tantos aritos no dia anterior, passei o resto do dia como um zumbi. Comia apenas para matar a fome e tentava entender até onde isso tudo vai parar.

Adam, depois da visita da minha família, saiu e só voltou à noite. Percebi que tinha retornado quando Nanci me apresentou meu quarto e o vi entrando no dele (que, a propósito, é ao lado do meu). Nanci disse que esse seria meu quarto daqui em diante. Tudo o que tento entender é se Adam foi honesto com ela e contou toda a verdade sobre o casamento ou, se não, qual desculpa ele deu para justificar sua esposa dormir em outro quarto.

Que seja! Não está no contrato que eu resolva os problemas dele. Bem… pelo fato de estar noiva dele, isso já diz o contrário.

Olho para a janela, e uma fresta de luz fere meus olhos.

— Foi um dia e tanto ontem — diz Nanci, sua voz doce me tirando do transe.

— Sim, foi. — Respondo, me deparando com a senhora segurando um grande embrulho de tecido branco nas mãos. — O que é isso? — pergunto, sentando-me na cama.

— Seu vestido de noiva, meu bem.

Merda. Isso é hoje.

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Me olho no espelho. O vestido é lindo.

Penso no dia em que fui pedida em casamento por Leo. Será que usaria um vestido assim? Mesmo sabendo que isso é uma farsa, não consigo deixar de me sentir como em um conto de fadas. Toda garota sonharia com o dia de seu casamento e, já que nunca viverei isso, tinha que aproveitar essa chance. Já sabia que esse tal de amor não serve para mim, e não havia por que continuar tentando.

O vestido é lindo demais. Seu corpete simples e ajustado ao corpo, com uma leve camada de tecido branco caindo até o chão, dava um ar delicado. Não é um vestido tradicional de noiva; parece mais um vestido de festa que passaria facilmente como um vestido de casamento.

Optei por deixar meu cabelo solto e despojado. Sempre amei meu cabelo. Seria um crime transformá-lo em um ninho de penteados cheio de grampos como as noivas tradicionais. Afinal, eu não sou uma noiva tradicional.

Me distraio com pensamentos que me atormentam há tanto tempo que chego a temer o futuro. Quando meu pai soube que estava noiva de Leonardo, mal se importou. Quase não quis saber sobre o assunto e me desprezou até... ontem. Mas com Adam, ele ficou irado. Por quê? Nada me tira da cabeça que isso tem a ver com Benjamin também. Quando ainda morava com Ben, ouvia-o cochichar ao telefone. Às vezes ele sumia e só voltava três dias depois, sempre com a mesma desculpa: "Estou a trabalho". Quando eu perguntava mais, ele mudava de assunto e corria para o escritório ao lado do quarto.

Queria estar errada sobre ele, mas, ao ver sua atitude ontem, não sei mais quem é o meu irmão mais velho. E nada me tira da cabeça que Adam também é cúmplice dele. Por que tanta rivalidade entre os dois nas últimas semanas? Pelo que soube, eram amigos de longa data, como Ben dizia: “Desde o colégio.”

Nunca vi Adam andando com meu irmão, nem mesmo quando Ben trazia os amigos para nossa casa. Nunca ouvi ele pronunciar o nome de Adam Woods, como se Adam não fizesse parte de sua vida. Não quero ficar mais triste por essa situação. Quero começar uma nova vida… novamente. Já estou de saco cheio de começar de novo. Algum dia, espero que minha vida faça sentido.

— Você fica bem de branco. — Não preciso me virar para saber que é Adam. Sua voz única não se compara a nenhuma outra.

— Eu sei. — Não consigo parar de pensar. Minha mente é um turbilhão de pensamentos involuntários. Ouvir sua voz me causa desconforto por não entender o que está acontecendo entre ele e minha família. Parece que algo esteve à minha frente o tempo todo, mas não vi.

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