━━ 𝐀 𝐒𝐄𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐃𝐑𝐀𝐆𝐀𝐎| John, o garoto capaz de se transformar em um dragão negro, e Lucerys Velaryon , herdeiro de um legado manchado por sangue, enfrentam um destino incerto. Unidos por amor e divididos por escolhas, eles precisam...
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LUCERYS
Acordei sobressaltado no meio da madrugada, o peito arfando como se um grito preso tivesse ficado na metade do caminho entre o sonho e a vigília. Algo me arrancara daquele vazio nebuloso onde o subconsciente vagueia, como se uma presença invisível houvesse me puxado para a superfície. A princípio, não identifiquei o que era — apenas o silêncio do quarto, denso e esmagador, carregado por uma quietude que parecia antinatural. A penumbra dominava o ambiente, envolvendo os móveis em sombras alongadas que se fundiam às paredes como espectros antigos.
A luz pálida da lua infiltrava-se pela janela entreaberta, criando um contraste fantasmagórico com o brilho moribundo da vela sobre a escrivaninha. Sua chama tremulava, pequena e frágil, como uma vida prestes a se extinguir, lutando contra o vazio escuro que ameaçava consumi-la. O ar carregava um leve cheiro de cera derretida e da madeira do assoalho frio, impregnado com o resquício de noites passadas.
A janela estava aberta apenas o suficiente para deixar entrar o frio cortante da madrugada. Uma brisa sutil agitava as cortinas, que se moviam de forma quase etérea, como se dançassem ao ritmo de algo invisível. Eu permaneci imóvel por um instante, os sentidos despertando lentamente, enquanto tentava discernir o que havia me despertado. Tudo parecia normal, mas havia uma tensão no ar, um peso invisível que fazia minha pele formigar.
Foi então que senti. Primeiro, foi apenas uma intuição, uma leveza quase imperceptível no ar, como se o espaço ao meu redor tivesse mudado de forma sutil. Depois, veio o som. Um movimento leve atrás de mim, tão discreto que poderia ter sido descartado como fruto da imaginação, não fosse o arrepio gelado que percorreu minha espinha. Havia algo ali. Ou melhor, alguém. Meu corpo reagiu antes mesmo que minha mente processasse o que estava acontecendo, como se o instinto primitivo tivesse assumido o controle.
A respiração. Baixa, controlada, mas inconfundível. Não era minha. Não era o tipo de ruído que o vento ou o estalar da madeira antiga poderia imitar. Era humana, deliberada, e próxima o suficiente para fazer meu coração acelerar como um tambor descompassado.
Num reflexo rápido, minha mão deslizou para debaixo do travesseiro, encontrando o cabo familiar da adaga que sempre mantinha ali. A sensação fria do metal trouxe um conforto perverso, uma lembrança silenciosa de que eu não estava totalmente indefeso. A lâmina não era grande, mas era afiada o suficiente para abrir pele, cortar tendões e, se necessário, tirar uma vida.
Era um hábito que Daemon havia me ensinado, uma lição repetida tantas vezes que agora fazia parte de mim. "Nunca durma desarmado," ele costumava dizer, com um sorriso enviesado que não combinava com o tom sério de sua voz. "Uma lâmina pequena e bem posicionada pode ser a diferença entre viver e morrer. Sempre tenha algo afiado o bastante para matar."
Virei-me de um salto, a lâmina refletindo a luz pálida da lua, brilhando como uma promessa silenciosa de violência. O movimento foi rápido, instintivo, quase brutal. O ar pareceu se partir ao meu redor enquanto a adaga avançava, parando a poucos centímetros de um rosto que, no mesmo instante, congelou o sangue em minhas veias e, ao mesmo tempo, trouxe um estranho alívio.
— John? — A palavra escapou dos meus lábios em um sussurro, entrecortada pela surpresa e pela incredulidade. Minha mão ainda tremia levemente, os dedos cerrados no cabo da arma, incapazes de soltar.
Ele não recuou. Ficou parado, imóvel, como se esperasse que eu o atacasse, os olhos fixos nos meus, cheios de algo que não consegui decifrar de imediato. Não era medo, nem raiva, mas algo mais profundo, quase desesperado.
Minha mente começou a girar, um turbilhão de pensamentos colidindo entre si. O que ele estava fazendo ali, no meio da noite, dentro do meu quarto? E como havia entrado sem que ninguém percebesse? Se os guardas o vissem... se descobrissem sua presença...
E então, o pensamento que me fez gelar: Drogon.
Se Drogon tivesse desaparecido, a confusão seria inevitável. Não haveria desculpas, não haveria explicações. Apenas caos, punições e uma cadeia de eventos que eu não sabia se conseguiria conter. E John... John não seria apenas punido; ele seria destruído.
Engoli em seco, abaixando lentamente a adaga, mas meu coração ainda batia acelerado, como se quisesse pular do peito.
— O que está fazendo aqui? — repeti, a voz baixa, mas carregada de uma urgência que ele não parecia compartilhar.
Ele permaneceu em silêncio por um instante, os ombros tensos, como se carregassem um peso invisível que não podia ser partilhado. Quando finalmente respondeu, sua voz era rouca, quase um murmúrio, mas cheia de uma intensidade que me fez esquecer o mundo lá fora.
— Eu precisava sentir você. — A resposta veio simples, quase banal, mas carregada de uma intensidade que fez o ar ao meu redor parecer mais pesado. A voz dele, rouca e embargada, parecia arranhada por algo que ele não podia ou não queria nomear.
As palavras ecoaram no silêncio do quarto, cortando como uma lâmina invisível. Havia algo cru na maneira como ele as pronunciou, uma honestidade que era ao mesmo tempo desarmante e avassaladora. Não era uma declaração; era um desabafo. Como se ele tivesse guardado aquilo por tanto tempo que agora, ao deixar escapar, não houvesse mais como recuar.
Eu senti algo dentro de mim se contrair, como se aquelas palavras tivessem atingido um lugar que eu desconhecia. Um lugar profundo, onde as barreiras que eu ergui por tanto tempo não podiam alcançá-lo. O peso do olhar de John se cravou em mim, tão firme que foi impossível desviar. Seus olhos carregavam um misto de dor e necessidade que me fez perder o fôlego por um instante.
— John... — comecei a dizer, mas a palavra morreu na minha garganta, incapaz de se transformar em algo que pudesse aliviar aquela tensão.
Ele não se moveu imediatamente, mas quando sua mão deslizou pela minha bochecha, o toque foi tão delicado que parecia contradizer toda a urgência em sua voz. Era como se ele temesse me quebrar, como se precisasse daquela conexão mais do que eu poderia compreender. E, por um momento, eu não soube o que fazer — lutar contra aquilo ou ceder.
Quando finalmente consegui espaço para me afastar, o peso daquela proximidade ainda me envolvendo como um cobertor sufocante, algo me fez congelar. Meu ombro estava úmido. A princípio, não entendi; meus sentidos ainda estavam em alerta, tentando processar tudo ao meu redor. Mas então inclinei a cabeça, e o vi.
Lágrimas. Escorriam por seu rosto em silêncio, marcando trilhas brilhantes em sua pele à luz prateada da lua. Cada gota parecia carregar uma fração de uma dor que ele não conseguia colocar em palavras. Sua expressão não era de derrota, mas de algo muito mais complexo, algo que eu não conseguia decifrar. Seus olhos, avermelhados, brilhavam com uma intensidade que me fez prender a respiração. Era como se carregassem uma tempestade inteira contida em um espaço tão pequeno.
— O que...? — Minha voz saiu hesitante, quase um sussurro, enquanto as palavras lutavam para escapar. Mas antes que eu pudesse terminar, ele ergueu a mão, seus dedos tremendo levemente, e cobriu minha boca.
O gesto foi firme, mas sem agressividade. Havia algo de desesperado naquele movimento, algo que implorava por silêncio, por compreensão.
— Não fale. — A urgência em sua voz foi como um comando, mas não era apenas isso. Era um pedido. Um clamor por algo que eu não sabia como oferecer.
Fiquei imóvel, o coração batendo rápido demais, enquanto o encarava. Seus olhos não desviaram dos meus, e foi ali que percebi: o que quer que estivesse acontecendo, não era algo que ele pudesse explicar. Não era algo que eu pudesse entender apenas com palavras.
Havia algo nele, uma dor tão profunda e inconfessável que parecia rasgá-lo de dentro para fora. Uma dor que não permitia ser compartilhada, apenas suportada em silêncio. E naquele instante, enquanto o encarava, senti o frio não do Castelo ao meu redor, mas do vazio que ele carregava consigo. Pela primeira vez, temi — não pelo que estava lá fora, além das paredes do castelo, mas pelo que ele escondia dentro de si.