Anika narrando...
Talvez eu tivesse dito tudo aquilo no calor do momento ou por estar na defensiva, mas falei exatamente o que sinto. Não me permiti chorar nem desabar na frente deles.
Não quero, nem gosto, que me vejam assim: fraca. Descobrir que os meus queridos pais não são, na verdade, meus pais biológicos foi demais para mim. E, apesar disso, não menti em nada do que disse à Andrea. Por mais que eles tenham escondido isso de mim, sou grata por terem me amado e cuidado de mim.
Entro no carro e dou partida em direção à minha casa. Faço um esforço tremendo para segurar as lágrimas, mas elas insistem em cair sem minha permissão. Estou exausta. Sinto como se vivesse presa em um ciclo interminável, um problema que nunca chega ao fim. Estou cansada e farta de tudo isso.
E o pior é que nem sei ao certo por que me sinto assim. Há algo errado, eu sinto. Na verdade, há muitos problemas. Mas tem um, em especial, que não consigo identificar. Preciso confiar nos meus instintos. Não estou falando da morte da senhora Evelyn ou da discussão com a Andrea. Só preciso de descanso.
Depois de um tempo, estaciono o carro na garagem. Antes de descer, envio uma mensagem para Denzel. Já está tarde, e ele deve estar dormindo. Mas ele pediu para avisá-lo assim que eu chegasse. Assim que termino de enviar a mensagem, meu telefone toca. Sorrio, imaginando que seja ele, mas, para minha surpresa, é o Lucas.
Ele está fora desde a morte da senhora Evelyn. Nem sequer compareceu ao funeral, pois a mãe dele passou mal ao receber a notícia e precisou ser internada. Desde então, ele tem cuidado dela.
Atendo a ligação, mas estranho que ele me ligue tão tarde.
Ligação
Eu: Oi, Lucas. Como você está?
Lucas: Estou bem. E você?
Eu: Também estou bem. E sua mãe, como está? – Pego minha bolsa com uma das mãos e desço do carro, trancando a porta.
Lucas: Está melhorando. Ela ainda não sabe sobre o assassinato e a investigação, e eu prefiro que continue assim, pelo menos por enquanto.
Eu: Faz muito bem em não contar agora. Vai ser muito difícil para ela. – Reviro a bolsa procurando a chave de casa e abro a porta.
Lucas: Bom... soube da prisão da Andrea e... – Ele não termina, porque o interrompo.
Eu: Podemos falar sobre isso amanhã, por favor? Não tenho cabeça para esse assunto agora.
Lucas: Tudo bem, falamos amanhã. Liguei só para avisar que voltarei na próxima semana com minha mãe.
Eu: Hum... Está bem. – Assim que deixo a bolsa no sofá, vou até a cozinha e noto um retrato meu com a senhora Evelyn está no chão, partido. Estranho, porque tenho certeza de que não deixei esse retrato ali. – Lucas, podemos conversar amanhã? Estou muito cansada.
Lucas: Está bem. Descanse. Conversaremos amanhã.
Eu: Você também. Obrigada. – Desligo o celular e começo a recolher os pedaços de vidro no chão. Ainda assim, não consigo afastar a certeza de que não deixei o retrato na cozinha e no chão, partido.
Depois de organizar tudo, me preparo para subir as escadas, mas lembro que deixei a bolsa na sala. Quando volto para buscá-la, meu coração gela: há um homem parado no meio da minha sala.
Eu: – Que... quem é você?! – Dou dois passos para trás, meu coração martelando no peito, pronta para correr até a porta.
O silêncio dele é ensurdecedor, uma resposta que não vem. Mas não espero por ela. Assim que ele dá um passo na minha direção, disparo em desespero, correndo pela minha vida.
Meus dedos tremem enquanto agarro a chave sobre o balcão. Estou prestes a girá-la na fechadura quando sinto uma mão forte me puxar com violência. Antes que eu possa gritar, um pano é pressionado contra meu rosto, abafando minha respiração.
Debato-me com todas as forças, mas é inútil. Ele é mais forte, e o pano traz consigo um cheiro adocicado e enjoativo que me faz perder o controle. Meus movimentos ficam lentos, meus músculos cedem.
Meus olhos pesam como chumbo, e o mundo começa a desaparecer. Antes que a escuridão me leve por completo, ouço sua voz grave e baixa sussurrar:
– Shhh... vai ficar tudo bem, meu amor.
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Um amor Inexplicável
RomanceAnika uma mulher de negócios, séria, calma, calculista, e desconfiada de tudo e de todos. Ela perdeu seus pais aos 11 anos de idade e uma de suas melhores amiga aos 18 anos de idade, magoada pelo seu passado e pelo o amor de sua vida, decide se fo...