final alternativo

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Fiquei três meses internado no cti em coma induzido. Não sentia nada. Não havia dor alguma. A única dor era a do meu coração e a falta que Harry me fazia.

Apesar de tudo, me mantinha semi-consciente; conseguia ouvir o que diziam enquanto estava "acordado".
No primeiro dia, após a cirurgia, minha mãe conversava com o médico.

- Como ele está, doutor?

- Fisicamente, está bem. A cirurgia foi muito trabalhosa, mas sem complicações. Ele teve muita sorte de não ter ficado paraplégico. Rompeu vários ossos, mas todos no centro, dando-nos a possibilidade de reconstrução.

- Ah, que bom, doutor... - quase conseguia ver seus olhos brilharem de esperança.

- Mas, em termos psicológicos - ele faz uma pausa - temo que a situação esteja realmente crítica.

- O que devo fazer? - ela pergunta, aflita.

- Eu sugeriria uma clínica de reabilitação para pessoas na mesma situação que ele. Conheço uma muito boa. Será como um refúgio para ele.

- Muito obrigada - minha mãe agradece. Suponho que não seja só pela dica, mas sim por tudo.

três meses após a saída do hospital...

- Filho, vamos acordar? - minha mãe me chama, gentilmente. - Hoje é o dia de tirar o resto do gesso.

- Ok.

Desde o acidente, não sinto vontade nem necessidade de comer, tomar banho nem falar nada que não seja uma resposta monossilábica às perguntas feitas para mim.

Não vejo razão de continuar vivo. Mas não tentarei me matar de novo. Se não morri daquela vez - e nem das outras que tentei -, acho que não morro mais.

Me sentei na cama e olhei para frente. Hoje, depois de tirar o gesso, vou para a clínica. Passarei seis longos e horríveis meses naquele lugar.

[...]

Acabo de chegar à clínica e, aparentemente, não é tão ruim. É um lugar muito bonito, cheio de árvores, natureza e... bem, malucos. Vejo pessoas sentadas em bancos em estado vegetativo, outros falando com o nada, alguns girando de forma psicótica.

Olho para minha mãe e ela me retribui o olhar, mas de forma diferente. Ela está esperançosa e, podemos dizer que, até um pouco animada.

Vamos ao meu quarto. Ele é significativamente grande, mas bem menor que o meu em minha casa.

Colocamos minhas malas em um canto do cômodo. Em seguida, vou até a cama e me sento nela, sem dizer nada.
Minha mãe conversa com uma enfermeira por alguns instantes e, depois disso, vem se despedir.

- Filho, eles disseram que ligar sempre pode atrapalhar o seu tratamento... por isso, ligaremos todos os sábados, às sete da noite.

Eu faço sinal de positivo com a cabeça.

- Eu te amo. Sempre vou amar - Ela diz enquanto me abraça.

Eu levanto os cantos de minha boca, formando um sorriso extremamente artificial.

Ela pega sua bolsa, se vira e vai embora, me deixando completamente sozinho naquele lugar maluco - literalmente.

Mês 1:

Não falo nenhuma palavra sequer. Não confio em ninguém. Temos umas cinco sessões em grupo por dia e isso me irrita. Alguém me tira daqui?

Mês dois:

Conheci uns caras que passaram por uma situação parecida com a minha. Eles não são retardados igual aos outros. São até legais.

Mês três:

Green is My Colour | L.s. AU Crazy LouisOnde histórias criam vida. Descubra agora