Sete Pecados

Avareza

Confiro o horário imaginando quando o Ohm vai sair, ele faz isso todas as noites, normalmente um pouco depois que chegarmos, fica alguns minutos fora e quando volta vamos embora, mas hoje está demorando, já estamos há quase uma hora sentados nesse sofá e nada, o problema é que não tenho uma boa desculpa para me afastar e estou lutando contra o tempo aqui, apesar do Chimon não ter dito nada eu sei o que está pensando e ele está certo, eu perdi o foco, deixei o Ohm me envolver e passei uma semana na cama com ele ao invés de procurar respostas.

O Ohm se move chamando a minha atenção, quando olho pra ele percebo que está irritado com alguma coisa, sigo o seu olhar e encontro uma pessoa nos observando enquanto conversa com outra, fico imaginando se a Film contou para a Namtan que eu estive no seu trabalho, acredito que sim, afinal elas são do grupo da avareza, dinheiro e compras devem chamar atenção. As duas olham para nós sorrindo e fica meio óbvio que estão falando sobre mim ou sobre nós. Quase consigo sentir a tensão do Ohm vendo a Namtan segurando a Film pela cintura e a beijando ainda olhando para mim, o limite dele é quando ela levanta a mão e faz um sinal me chamando até elas, apesar de tentador não é pra isso que estou aqui e só se eu fosse louco faria isso na frente do Ohm, então eu as ignoro e viro o meu corpo todo na sua direção segurando a sua mão e abrindo os seus dedos que estão fechados fazendo tanta pressão que as unhas estão marcando a pele.

— Você dança?

Ele se surpreende com a minha pergunta, mas não responde, então ainda segurando a sua mão eu levanto e o levo comigo para o meio da pista.

Como alguém pode prometer tanta luxúria apenas com um olhar?

Sem dizer nada o Ohm coloca a mão no meu peito e desliza ela devagar até chegar no meu pescoço, a sua outra mão envolve a minha cintura e me puxa fazendo eu dar um passo para frente colando o meu corpo no seu, percebo que as pessoas a nossa volta se afastaram, elas sempre fazem isso, é como se o Ohm tivesse um campo de força em volta dele que mantém as pessoas longe. A sua mão direita sobe do meu pescoço até se enroscar no meu cabelo, então ele começa a se mover no ritmo sensual da música e me beija, já fizemos isso na frente de todos no primeiro dia quando eu o escolhi, mesmo assim eu me surpreendo, porque ele não parece gostar muito de se expôr, muito menos de me expôr, mas acho que a forma que ele está me segurando, me beijando e me guiando nessa dança tem um significado, acho ele está mostrando aos outros que eu sou dele e de mais ninguém.

Quando a música acaba nos afastamos um pouco e o Ohm me leva novamente para o sofá, as pessoas que pararam para assistir continuam nos encarando, inclusive aquela Namtan que não parece intimidada, pelo seu sorriso acho que ela viu isso como um desafio.

A porta do elevador abre e finalmente aquele Phuwin aparece, o Ohm acena pra mim e vai até ele, queria saber o que os dois fazem todos os dias, eles não parecem amigos íntimos, não parecem nem se gostar, mas todos os dias o Phuwin leva o Ohm como se tivessem um encontro marcado.

— Dança comigo?

Continuo olhando para o Ohm que agora está furioso vendo a porta do elevador se fechar, então olho para a Namtan.

— Acho que essa não é uma boa ideia, eu estou com o Ohm.

— Ele não está aqui agora, mas eu estou.

Ela segura a minha mão e anda para trás, apesar de saber do risco vou com ela, chegamos onde eu estava com o Ohm há alguns minutos atrás e ela me abraça, tento parecer educado ao me afastar me mantendo fora do seu alcance, mas isso não a impede de vir até mim e me abraçar novamente se movendo com a música. Vai ser estranho me afastar de novo, então apenas a acompanho sem a tocar.

— Você não é daqui.

Não foi bem uma pergunta, mas eu aceno concordando.

— O que um garoto de outra cidade faz aqui nesse clube?

Ela vira de costas segurando as minhas mãos, coloca na sua cintura e continua dançando.

— Me falaram daqui, eu quis conhecer.

— Gosta?

A pergunta vem acompanhada da sua mão no meu pescoço, ela olha por cima do ombro com um sorriso provocante.

— Ainda não tenho certeza.

— Talvez esteja na hora de experimentar algo novo. Quem sabe escolher alguém que sabe valorizar o que você tem a oferecer.

O seu corpo gira ficando se frente para o meu mais uma vez e as suas mãos passeiam pelo meu peito, ombro e descem pelo meu braço até chegar na minha mão, então ela levanta o meu pulso e olha para o relógio do Chimon.

— Soube que você comprou um relógio pro Ohm...

Então é disso que se trata, o relógio que eu comprei com a Film.

Ela vira de costas novamente e segura a minha mão na sua barriga, sinto a pressão do seu corpo contra o meu enquanto ela rebola de um lado para o outro e tento me concentrar na conversa, seria muito vergonhoso ter uma ereção só porque uma das mulheres mais bonitas que eu já vi na vida está...

Me assusto quando alguém toca o meu ombro esquerdo e olho para trás, aquela Jane sorri e me puxa fazendo eu virar para ela, nesse momento a porta do elevador abre com um apito assustador e eu vejo o Ohm me encarando furioso, todos vêem, quando a porta começa a fechar eu tento ir até ele, mas as duas mulheres que ainda estão me segurando me impedem, a Jane é quem fala primeiro.

— Você não precisa ir, pode ficar conosco, ele pode ter feito parecer assim, mas não é o seu dono.

A Namtan vira o meu rosto na sua direção.

— Você pode escolher qualquer um de nós, pode escolher todos nós. Você quer?

Ela volta a dançar e todos observam sem disfarçar, apesar de sentir cada célula do meu corpo tentando me impulsionar para o elevador eu sei que essa brincadeira uma hora teria que chegar ao fim, estou com o Ohm há uma semana e não consegui nada, em mais uma semana ele pode me dispensar e isso vai acabar com as poucas chances de descobrir o que aconteceu com a Love, por mais que eu queira ir atrás dele eu sei que é aqui que eu tenho que estar, então eu ignoro o meu desejo, tento sorrir e começo a dançar com as meninas, se vou conseguir algumas respostas vou ter que começar por aqui.