17- O Primeiro Passo

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As duas mulheres seguiram pela estrada de terra conversando e rindo, mesmo que minutos atrás estivessem gritando uma com a outra. Jon e Kely estavam logo atrás, relembrando os momentos mais marcantes do jogo. O clima leve do bosque contrastava com a ansiedade que aquela quadra causava nos jogadores e pessoas que foram assistir. O som familiar dos pássaros os lembrava que agora estavam mais perto de sua escola.

Pedras ornamentais deram lugar à terra quando os quatro chegaram a um portão de madeira envernizada, extensão do muro de pedras empilhadas, onde pequenas flores brancas cresciam nas frestas. Na base do muro, flores deixavam a construção mais simpática.

As mulheres convidaram os jovens a entrar.

— Bem-vindos à nossa casa — disse Chikec, esboçando um sorriso.

Mais à frente, via-se uma cabana de teto baixo, com uma varanda. Onde a casa ficava, o nível do solo ficava um pouco acima. A cabana de madeira tinha dois andares, e as janelas pareciam desproporcionalmente maiores, mas traziam um charme. A janela do andar de cima estava aberta, e o irmão mais novo estava empoleirado no peitoril, lendo alguns papéis. Assim que ele os viu, entrou rapidamente e correu. À esquerda da casinha, havia um jardim ainda não finalizado, algumas plantas começando a mostrar botões.

Meiski foi direta.

— Garota, vem comigo. Garoto, fica aqui — deu a palavra final, apontando para eles.

Kely ficou relutante, então Jonathan colocou a mão em seu ombro e seus lábios puxaram para os lados. Não adiantou muito, mas ela retribuiu o sorriso e seguiu em frente, com passos cautelosos.

Ela passou pela portinha e deu uma olhada em volta. Havia duas poltronas brancas com panos verdes decorativos em cima, uma do lado da outra, e um banco na varanda. As poltronas tinham um padrão de pequenas folhas verdes, que vistas de longe se confundiam com manchinhas sem nenhum significado. Havia também uma mesinha baixa e quadrada, onde um prato vazio cheio de farelos descansava.

Dentro da casa cheirava tão bem quanto fora, e estava mais quente. Um sofá coberto por almofadas estava à direita do cômodo, onde estantes e prateleiras abrigavam mais plantinhas. Do outro lado estava a cozinha, simples, sendo composta por uma versão bastante rústica de um forno a lenha, uma pia e um balcão que servia de mesa, onde um homem-morcego que Kely nunca tinha visto se apoiava, bebendo algo em um copo. Quando ele olhou para ela, enrijeceu-se, e suas pálpebras se afastaram. Meiski logo foi ao encontro dele, encostando seu rosto no dele. Eles trocaram algumas palavras.

— Por que tem uma humana em nossa casa?

— Negociações, não vamos demorar.

Ele começou a encarar Kely descaradamente. Ela sentiu-se na obrigação de dizer alguma coisa.

— Boa tarde — havia lembrado a tempo de que deveria dizer "boa tarde" e não "bom dia", e não estava no humor de ser corrigida.

Ele continuou encarando.

— É, sim, está mesmo — Ele respondeu. Kely se perguntou se havia algo errado com sua pedra tradutora.

— Saudação humana — Meiski explicou para ele — venha por aqui — Ela disse à humana, seguindo pelo corredor no fim do cômodo, de onde vinha um longo tapete estreito. O homem-morcego começou a mexer nos utensílios de barro e a garota deixou a sala.

No fim do corredor, havia outro fogão à lenha, mas bem menor. Meiski pegou um papel na caixa ao lado e o enrolou, abriu a portinhola do fogão, acendeu o papel com o fogo que havia ali, queimando em um grande pedaço de tora, fechou a portinha e entrou na sala ao lado. As paredes eram cobertas por estantes cheias de papelada e arquivos, com exceção da parede da janela, de onde já não vinha tanta luz. Se já estava começando a escurecer, deveria estar tarde e logo estaria na hora do toque de recolher.

Kely e o FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora