Levantei-me sem dormir nada. A verdade é que tinha passado a noite toda a chorar.
Senti bater à porta e gritei para entrar.
-Oi linda. Precisas de ajuda?- perguntou Sam.
-Não Sam, está tudo bem.- menti eu.
-Ei, a mim não precisas de me mentir. Anda, eu vou fingir que acredito em ti e vou ajudar-te a disfarçar essas olheiras e esses olhos inchados.- disse Sam puxando-me, como já era habitual, para a casa de banho.
Ajudou-me a maquilhar e deu-me a roupa para vestir.
Depois descemos as escadas e tomámos o pequeno almoço. A mãe de Sam disse:
-Querida, se precisares de alguma coisa nós estamos aqui.
-Eu sei, obrigado.- disse eu.- Senhor Fox, quando posso ir buscar...O corpo do meu irmão?
-À tarde já podes querida.- disse o pai de Sam.
-Obrigado.- disse eu.- Eu vou sair para apanhar ar. Preciso de preparar as coisas todas para o funeral. Não devo vir almoçar. Até logo.
-Até logo.- respondeu a família Fox.
Saí de casa e entrei no carro do "loirinho", quer dizer, do Edward.
-Bom dia.- disse Edward.
-Bom dia.- disse eu.
-Pronta para o treino?
-Sim.
Apesar de saber que algo não estava bem, Edward respeitou a minha privacidade e não fez perguntas. Chegamos à cabana, troquei de roupa e comecei a treinar.
-Acho que hoje já poderás dominar a velocidade e passar para a agilidade.- disse Edward.
-Claro, vamos começar.
Comecei a correr e não acertava em nada: batia contra árvores, escorregava em pedras, batia contra troncos de árvore caídos e até tropeçava nos meus próprios pés. Edward fez sinal para eu parar. Aproximei-me dele e ele disse:
-Está tudo bem?
-Sim.- disse eu.
-Então é normal piorares mais do que quando começaste? Vá lá, podes contar-me.
Sentei-me na varanda da cabana e Edward seguiu-me. Esperei que se sentasse, respirei fundo e disse:
-Encerraram a investigação da morte do meu irmão por falta de provas. Já libertaram o corpo e vou buscá-lo hoje.- deixei escorrer algumas lágrimas que limpei imediatamente. Depois continuei.- Estou a planear o funeral e está a ser muito mais difícil do que imaginei...
Não pude conter as lágrimas e desatei a chorar.
-Desculpa, não queria chorar.- disse eu.
-Não são mal. Chorar faz bem, é pior conter as lágrimas. As lágrimas que escorrem pelos olhos são a mágoa que já não nos cabe no coração.
Edward abraçou-me e eu continuei a chorar no seu ombro.
-Da minha irmã...- disse ele enquanto me abraçava.
Eu parei de o abraçar e disse:
-Da tua irmã o quê?
-Tu perguntaste-me de quem eram as roupas. Eram da minha irmã.- disse Edward.
-Eram?
-Ela morreu à dois anos, quando estávamos a caçar um vampiro. Foi mordida e não resistiu. Morreu nos meus braços.
-Lamento.
-Queres que eu vá contigo? Buscar o corpo do teu irmão?
-Não é preciso.
-Às vezes é melhor não estarmos sozinhos em momentos assim. Eu vou contigo...
-Obrigado.
-Agora anda.
-Aonde?
-Algo me diz que ainda não comeste.
Edward foi a dentro da cabana e trouxe um coelho vivo.
-Eu não vou beber dessa fofura...- disse eu.
-Preferes um rato?- disse ele a rir.
-Bolas! Odeio a minha vida.
Peguei no coelho e mordi-o no pescoço. Bebi e rapidamente disse:
-Que sabor horrível...
Comecei a sentir-me mal. Ainda com o coelho na mão, comecei a correr. Já estava bastante afastada quando comecei a vomitar. Sentei-me e, já mais bem disposta, enterrei o coelho. Regressei à cabana onde Edward se encontrava ainda sentado.
-Onde foste?- perguntou ele.
Não queria que ele soubesse que tinha vomitado o sangue de animal.
-Fui enterrar o meu alimento.- disse eu.
-Ok...
-Só vai dizer ok?
-Que queres que diga?
-Tens razão. A parte boa é que consegui correr sem tropeçar, cair, bater ou ferir nada.
Ele riu-se e eu, olhando para o chão, disse:
-Vamos?
Ele percebeu o que era e disse:
-Sim.
Fui buscar o corpo e, ainda o corpo estava na morgue, quando verifiquei se havia mordidelas no pescoço de Daniel. Não havia nada.
-Tu não disseste que ele tinha marcas no pescoço?- disse eu.
-Sim, porquê?- disse Edward.
-Eu não vejo nada.
Ele aproximou-se e também não viu nada.
-Estranho!- exclamou.
Levamos o corpo à agência funerária e, nos dias que se seguiram, não houve treino.
Dois dias depois, no funeral de Daniel (já no cemitério)
-Parece que vai chover...- ouvi a mãe de Sam dizer.
E ela tinha razão. Começou a chover e o caixão ainda estava aberto para a última homenagem. Quando a água caiu sobre o corpo de Daniel, reparei que as marcas do pescoço começaram a revelar-se. Sempre tinha sido John a matá-lo.
Eles enterraram Daniel e eu sussurrei a Edward, que estava a meu lado:
-Eu vi as marcas...
-Tens a certeza?- perguntou ele.
-Sim. Ele tinha uma espécie de base a cobri-las. Por isso não as vimos...Mas tenho a certeza.
-Que vamos dizer?
Contei a Edward o meu plano.
Fiquei ali até que todos fossem embora e depois fui para casa. Cheguei lá e dirigi-me ao quarto. Peguei numa mala e enchia com tudo o que era meu.
A família Fox, sem saber o que se passava, esperava pacientemente pela minha explicação. Já em frente da porta de saída, onde se encontrava toda a família, expliquei-lhes que queria apanhar o culpado pela morte do meu irmão e agradeci-lhes por todo o conforto. Saí para a rua e fui seguida por Sam.
-Não podes ir assim, o que vais fazer?- gritou Sam.
-Confias em mim? Algumas vez te desapontei?- disse eu.
Sam olhou para mim e disse:
-Sim, confio em ti. Mas quero que me digas uma coisa: sempre odiaste vinganças, porque a procuras agora?
Olhei para ela e disse...
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Dark Blood #wattys2016
Vampire"Bastou um dia...um dia mudou 16 anos da minha vida. Pensei que era um rapaz normal, mas não era. Agora, agora só me resta uma coisa: ser o monstro em que ele me transformou e conseguir a minha vingança" Trailer do livro: https://m.youtube.com/watc...