Dei uma última olhada ao redor do meu quarto, sabendo que nunca mais seria o
mesmo. Claro, minha consoladora Flor de Lótus ainda estaria onde eu deixei no meu colchão,
meus móveis permaneceriam em seu devido lugar. Mas da próxima vez que eu entrasse por aquela
porta, eu seria apenas uma visitante.
Corri meus dedos sobre as imagens em torno do meu espelho, observando as imagens de
minha vida ao longo dos anos. Ontem, eu era uma menina andando de bicicleta, em poucas horas
eu estaria andando o resto da minha vida.
Isso não passa em apenas um piscar de olhos.
Papai tinha colocado todas as minhas coisas no carro horas antes: Os cartazes de filmes
que eu comprei no meu último dia em Totally Vídeos, o jogo de cama que eu tinha escolhido com
Lisa. O frigobar que o Bruce tinha me dado de formatura, o computador do pai, as sacolas e mais
sacolas de roupas, uma caixa dos meus livros favoritos. Eu estava em pé na calçada olhando para
tudo isso: Minha Vida Nova, amontoada em cada centímetro de reposição do nosso carro da
família.
A caminhonete de Trip encostou, e ele parecia tão abatido quando saiu e fez o seu caminho
em direção a mim. Nenhum beijo de olá, nenhum abraço. Apenas suas mãos atoladas em seus
bolsos quando ele ofereceu um aceno de cabeça e um formal — Bom dia. — para mim.
Nos velhos tempos eu teria surtado com a sua falta de emoção, especialmente
considerando como nós passamos a noite anterior. Mas eu sabia que ele estava sendo distante
puramente para se preservar. O que mais poderia esperá-lo fazer?
— Ei, uh, — ele começou, não sabendo bem o que dizer. — Você, uh, você está bem? —
referindo-se a minha quase hemorragia fatal na noite anterior.
Um pouco do meu embaraço tinha me deixado até então. Quero dizer, eu cheguei à
conclusão de que, se algo assim ia ter que acontecer um dia, independentemente, eu estou
contente que tinha acontecido com ele, em vez de um cara qualquer. — Eu estou bem. Um pouco
envergonhada, mas eu vou viver.
— Você sabe, essa foi uma primeira vez para mim também.
Eu olhei para ele, pronto para chamá-lo de mentiroso podre quando ele esclareceu: — Eu
nunca fui o primeiro de alguém antes.
Forcei uma risada e disse: — Bem, eu só posso imaginar que você nunca vai ser novamente
depois daquele show de horror.
Seus olhos encontraram os meus então, o olhar quebrado em seu rosto quase rasgouo
meu coração, a triste, triste constatação, de que os nossos minutos juntos estavam contados.
Depois de todos os meses adiando o inevitável, lá estávamos nós, deixados com apenas alguns
segundos para gastar um com o outro.
Ele se aproximou de mim, segurou minhas mãos e deu um beijo doce nos meus lábios. —