O Primeiro Erro

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A noite chegou e os garotos continuavam na piscina. As meninas que já tinham mergulhado evitavam voltar por causa da temperatura da água que esfriava conforme ia ficando mais tarde. Esse era o caso de Catarina que estava deitada a beira da piscina recebendo e dando carinhos no amado.

***

Já se passava das oito da noite e apenas Paulo, Raul, Jorge, Pedro, Catarina, Yasmin, Larissa e Alyne estavam na casa de Jorge. Os meninos já tinham saído da piscina e estavam sentados no chão da área de lazer, que denunciava toda a farra que ocorrera algumas horas antes. Tinha pilhas de copos em cima das mesas sujas. Pratos descartáveis enchiam os cestos de lixo da cozinha. Garrafas, agora vazias, decoravam a bancada da área de lazer.

Ninguém se importava com o romance entre Pedro e Catarina, só reclamavam quando passavam muito tempo se beijando na frente deles, ignorando a presença deles por lá.

A cerveja já tinha acabado há horas e eles conversavam com uma única garrafa de vodca que sobrara pela metade.

– A conversa ta boa... - Catarina começou a se levantar. - A dor do parto é grande... Mas eu tenho que partir! - Ela disse já de pé.

– Vai não... - Paulo choramigou.

– Já tá tarde. Vocês moram por perto, eu não! - Catarina explicou-se.

– Ei Cat, - Paulo se levantou. - Tu pode me dar uma carona?

– Hm... Olha aí, Pedro. - Alyne comentou maliciosa. - Já quer roubar tuas caronas.

– Eu confio nele. - Pedro deu de ombros.

Com o desinteresse de Pedro, Catarina foi em direção a casa, onde sua bolsa estava, sob os cuidado da mãe de Jorge. Quando voltou o rapaz a esperava de pé na porta da casa que dava para a rua. Puxou-lhe para mais um beijo e fez Paulo esperar. Não se despediu, não disse que ligaria, apenas a observou entrar no carro e só entrou de novo em casa quando o carro tinha dobrado a rua que dava para a avenida principal.

***

Catarina chegou em casa e foi correndo pegar o telefone da sua casa para contar tudo à Isabel. Ela estava empolgada. Deitou em sua cama como uma adolescente apaixonada. Contou todos os detalhes para a amiga, que apenas escutava atentamente, e estava tão feliz quanto ela.

– Bel, ele é tão cheiroso, Bel... Não digo só hoje, mas em todos os dias. Sempre que ele entra no carro ou se senta perto de mim na sala eu deliro com o perfume dele. É um perfume amadeirado, e ao mesmo tempo forte. Não sei descrever, só sei que é bom!

– Pergunta pra ele o nome! - Isabel deu-lhe a dica.

– Já perguntei, mas ele não lembra. Sempre esquece de ver o nome quando sai às pressas de casa.

Era oficial: Catarina estava perdida de amores por Pedro. Pela primeira vez em muito tempo ela sonhava acordada com os planos que fazia com eles dois. Em breve ele lhe pediria em namoro, e então ela o apresentaria à sua família e logo ela conheceria a família dele também, e a tal famosa Priscilla, da qual ele falava incansavelmente.

Enquanto sonhava acordada percebeu que ainda não tinha tirado a roupa molhada que usava. Pulou da cama em direção a seu divã para recordar e tentar acreditar em tudo que tinha acontecido no dia. Pensava em quantas pessoas já tinham se sentido tão feliz quanto ela. Se todos no mundo sabiam o que é se sentir apaixonada, como ela estava se sentindo. E o melhor: era uma paixão recíproca.

***

Segunda-feira acordou radiante: iria ver seu amado, o garoto com quem tinha sonhado o final de semana inteiro. No domingo ele não ligou, nem mandou mensagem, assim como ela não o fez. Não queria parecer grudenta.

Chegou na UFMA radiante, todos falavam com ela sobre o churrasco e principalmente sobre o que tinha acontecido no churrasco. Estava boba, as amigas a rodeavam comemorando o acontecido. O professor de IED chegou antes de Pedro, como de costume. Ele chegou alguns minutos depois do início da aula e sorriu para Catarina, sentando-se no mesmo lugar de costume. O contato dos dois se resumiu a isso durante a manhã inteira. Às vezes ele virava e sorria para ela da mesma maneira de sempre: sorriso apaixonado, bobo e sonhador.

Ao fim da aula Pedro levantou-se para tirar algumas dúvidas com o professor e quando Catarina passou por ele pediu para que ela o esperasse no carro, pois queria conversar.

A garota não conseguia pensar em mais nada além do assunto que o rapaz queria conversar com ela. Por que ele não falava a ela no carro, durante o trajeto para sua casa? O que era tão importante que ela tinha que esperar para saber? Sua cabeça não parava a nenhum momento. Esperou por pouco menos que cinco minutos, mas tinha a sensação de ter esperado por cinco horas ou quem sabe mais.

Finalmente Pedro apareceu. Ele parecia despreocupado, como se nada tivesse acontecido. Como se tivesse, inclusive, esquecido que tinha pedido para Catarina esperar para conversar com ele.

Ele se aproximou dela. Ficaram a poucos metros de distância, longe para sentirem a respiração um do outro, mas perto o suficiente para, em qualquer movimento, suas mãos se tocarem.

– Eu não quero mais ficar contigo.

Eu não quero mais ficar contigo. Eu não quero mais ficar contigo. Eu não quero mais ficar contigo. Aquilo martelava na cabeça de Catarina. Ela tentava digerir cada palavra individualmente, mas era uma coisa impossível. Não entendia o que ele estava falando. Era alguma brincadeira e logo em seguida, com a reação dela ele iria rir e dizer que estava apenas brincando. Que não queria ficar mais com ela porque queria namorá-la. Mas não aconteceu. Ele não disse nada. Ele não fez nada. Apenas saiu quando ouviu o automático "Tá" de Catarina. Ela continuava sem entender. Entrou no carro automaticamente. Não percebeu quantas pessoas tinham presenciado a cena. Só tentava entender o que tinha acontecido. Aonde tinha errado. Porque ele tinha agido assim, tão repentinamente. Tão imprevisível.

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