Catarina foi para casa pela primeira vez, em semanas, sozinha. Sozinha com seus pensamentos, tentando entender o que tinha acontecido, onde tinha errado, se o tinha magoado e como poderia pedir perdão por seu ato falho. Mas nada vinha a sua cabeça. Tinha tratado ele da melhor forma possível, e lhe deu toda a atenção quando necessária. Até pensar se mordeu sua boca entre um beijo e outro, ela pensou. Mas a resposta continuava sendo negativa.
Quando chegou em casa teve que esconder toda a tristeza da mãe, que não sabia de nada. E nem ia saber. Pôs um falso e gigantesco sorriso nos lábios e fingiu empolgação em tudo que a mãe falava durante o almoço. Para não transpirar a tristeza falava pouco e sorria para tudo que a mãe falava.
Nesse dia ela não estudou.Tentou ler alguns textos, mas nada entrava na sua cabeça. Sua atenção continuava sendo dele. Resolveu dormir, mas o sono lhe faltava. Quis chorar, mas era demais. Ele não valia as lágrimas dela. Não chorou porque não conseguiu. Catarina era fria demais para chorar por algo tão pequeno quanto mais um fora de um garoto. Já tinha levado tantos, por que choraria por só mais um?
Quando deu por si já se passava das seis da tarde e resolveu sair dessa nuvem de pensamentos ruins. Ligou o computador e fez login no msn, além de entrar no Orkut para ver se tinha algum recado novo. No Orkut, que carregou mais rápido, tinha apenas uns recados desnecessários de corrente, que ela fingiu ler e excluiu. Depois foi para o msn ver a lista de pessoas online.
– Desnecessário... Inútil... - Comentava olhando a lista. - Quem é tu? - Então parou. Clicou em um outro contato e encarou a barra de digitação piscando para ela. Olhava a foto do contato e se segurava para não bloqueá-lo. - Só vou descobrir se perguntar!
Então Catarina digitou:
caat. diz:
por que tu fez aquilo? por que tu me disse aquilo? não quero te forçar a nada. apenas quero entender.
Pedrão diz:
não sei. não faço ideia. só acho que não daria certo. é melhor nós continuarmos apenas amigos mesmo. somos tão diferentes.
caat diz:
saiba que eu quase chorei! por vergonha e por tristeza também. gosto muito de ti.
Pedrão diz:
não tem porque chorar. você vai encontrar alguém melhor.
caat diz:
não chorei, mas me segurei!
Ele não respondeu mais nada e ela resolveu fechar a janela e relaxar.
– Não acredito que estou fazendo isso... - Catarina conversava sozinha enquanto fazia um perfil fake no Orkut.
Era a única forma que tinha de relaxar. Web Novelas GFF, a maior comunidade de web novelas baseada nos personagens da novela Rebelde. Eram apenas contos fictícios de fãs da novela. Mas era o refúgio de Catarina. Há um ano ela lia duas webs, que não tinha terminado de ler. Quando achou uma delas a escritora já tinha finalizado e a outra estava entre os tópicos recém atualizados na página principal da comunidade. MVCC. Entrou e comentou:
"ooooi, gente! desculpa me intrometer na conversa de vocês, mas olha, ter Aracelly no nome é vergonhoso, quem é essa? eu teria raiva da minha mãe se fizesse isso comigo!"
Então a escritora com o nome Candy respondeu:
"sou eu a Aracelly. Fernanda Aracelly."
Catarina ficou sem reação, morreu de vergonha.
"ai, socorro! me desculpa. por favor, estou num péssimo dia!"
"tudo bem, Princess. posso te chamar assim ou você prefere de outra forma?"
"do jeito que você quiser, Candy"
***
Catarina madrugou em frente ao computador e por pouco não se atrasou para a faculdade. Quando chegou viu Jorge e Paulo na porta da sala. Ao passar por eles ouviu cantarem:
"Não vale mais chorar por ele, ele jamais te amou"
Por um segundo ela teve vontade de sair correndo e nunca mais voltar na UFMA. Mas o que era um garoto comparado com toda a faculdade dela? Fingiu que não era com ela e lhes ignorou. Suas amigas a recepcionaram com um abraço. Na verdade, a única que lhe abraçou fora Débora, pois as outras nem ligavam pelo acontecido. Levaram o caso como normal.
Vem almoçar aqui depois da aula. Vou te fazer companhia. Bel
Sorriu ao ler a mensagem da amiga, mas o sorriso se desfez quando Pedro chegou junto com o professor.
***
Chegou um pouco atrasada na casa de Isabel. Ao tocar a campainha foi recepcionada por um garoto que aparentava ter seus 20 e tantos anos sem camisa, com corpo malhado. Nunca tinha o visto por lá.
– Você é a Catarina? - Ele perguntou e ela meneou com a cabeça. - Isabel está no banho, pediu para você ir para o quarto dela.
– Obrigada. - Ele deu passagem para ela passar e ela foi em direção ao quarto da amiga. - I S A B E L ! - Ela silabou fechando a porta atrás de si.
– O que foi? - Ela disse enquanto saia do banheiro enrolada. - Você está feliz demais pra quem estava quase chorando ontem! Voltaram?
– Não. Mas quem é o ser que abriu a porta pra mim? - Ela pulou na cama da amiga.
– Ricardo? Meu tio... Por quê?
– E por que eu não o conhecia?
– Ah, ele sempre esteve ai, talvez tu que nunca o percebeu!
– Como eu não ia perceber um ser desses?
– Ele vive trancado no quarto trabalhando! - Deu de ombros enquanto procurava uma roupa no guarda-roupa.
– Eu quero ele! - Catarina estava decidida.
– Não... Você não quer.
– Sim, eu quero!
– Não tenta. Ele não gosta de garotas como você.
– Como eu como? Oferecida? É isso que você quis dizer? - Ela fingia raiva.
– Foi tu que disse... Eu estou calada!
Gargalharam e passaram a tarde juntas. Isabel fazia de tudo para não fazer Catarina se lembrar de Pedro.
***
Algumas semanas se passaram e, mesmo Pedro falando normalmente com Catarina, eles não voltaram, nem conversaram mais sobre o assunto mal acabado. Apenas mantiveram a amizade de colegas de turma.
Então o trote deles aconteceu. Com isso Catarina conheceu um garoto do terceiro período, seu veterano. Lucas era alto, magro e tão branco quanto ela. Ele foi a que mais a sujou e se aproximou dela por meio de Yasmin. No fim do dia, inclusive, Yasmin perguntou-lhe se ela queria ficar com ele.
– Não! Eu mal conheço. - Deu de ombros.
Enquanto nossa personagem chamava atenção no campus, Pedro mal parava em casa. Todo final de semana Paulo postava fotos e mais fotos em seu Orkut onde Pedro, Jorge e Raul estavam presentes. Entre os comentários nas rodas de conversa que Catarina ouvia, Pedro era o personagem principal pagando sempre de pinguço.
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Imprevisíveis
RomantikQuando tudo parece que vai dar certo uma última gota de água cai no balde e o faz transbordar. Estao bem num dia, no outro já se odeiam. Juram ódio eterno, mas morrem de medo de perder um ao outro. Eles se completam. Mas se atrapalham. Eles não v...