Sobre Abril

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Abril chegou turbulento para a turma. O semestre mal se iniciara e muitos já sentiam a pressão do curso batendo às portas. Vamos superar! era a frase que sempre se repetia dia após dia, seminário após seminário, prova após prova.

Catarina decidiu viajar com a madrinha para o interior, estava combinado há meses que todos iriam passar o feriado de Páscoa em família. Mas devido complicações no trabalho de uns e muitos casos de gripes de outros, apenas Catarina, sua madrinha, seu tio e alguns primos foram para a cidade próxima da fazenda dos avós da menina.

Desde a conversa com Fernanda, semanas antes, ela e Pedro estavam mais próximos que o possível, e realmente a menina tinha razão: ele tinha um novo sentimento por ela. Era mais que amizade e tudo estava sendo comprovado pelas mensagens dos dois a todo o momento.

"Estou com saudades. Volta logo."

Catarina leu a mensagem em seu celular antes de dormir. Tinha chegado no mesmo dia a casa de seus tios.

"Se você tivesse vindo, estaríamos na fazenda..."

"Não tinha como deixar a Pri só. Já te expliquei meu amor"

"Eu proibi a menina de vir contigo?"

"Tu sabe que eu quero ficar sozinho contigo..."

A conversa foi finalizada junto com a bateria do celular de Catarina. Ela ficou frustada, mas se levantasse a tia avó iria pegá-la acordada de madrugada, um crime para aquela senhorinha de pouco mais de 60 anos.

No dia seguinte, todos foram para a fazenda dos avós de Catarina, onde tinha apenas sinal de telefone fixo. Ela poderia ligar para a casa de Pedro, mas não queria ninguém ouvindo sua conversa, nem demonstrar apego com o garoto, mesmo sendo amigos tão próximos.

No domingo a noite, quando chegou em São Luís, ela apenas pensou em dormir após oito horas de viagem, que normalmente duram quatro, mas foram prolongadas pela grande enxurrada de carros voltando para a cidade. Quando retomou o sinal de seu celular não havia mensagens do rapaz, apenas uma de Isabel lhe desejando feliz páscoa. Não quis ligar o computador para não se frustar mais ainda, então apenas jantou e dormiu para encarar a faculdade no dia seguinte.

Levantou mais cedo que o costume, penteou os cabelos calmamente e tomou apenas um suco de laranja feito pela mãe na noite anterior. Pegou uma caixa de chocolate que tinha guardado no guarda-roupa dias antes de viajar e partiu para o carro. Dirigiu concentrada nas palavras que ia dizer horas depois no seminário de direito do trabalho. Aquela matéria chata e maçante e obrigatória que a fazia levantar mais cedo que o costume às segundas e terças-feiras. Chegou atrasada em relação ao professor, que já entrava em sala dez minutos antes do horário oficial das aulas. Estava nervosa, mas não quis transparecer para o professor, mas os amigos a conheciam bem.

– Amiga, calma! Desse jeito você não vai lembrar de tudo. - Thais alertou a menina.

– Não eu já sei de tudo. Meu nervosismo agora é outro. - Catarina ficou muda ao ver a porta se abrindo e passando por ela Pedro seguido de Jorge.

– Já vi tudo... - Thaís saiu de perto dela e foi sentar-se e esperar a hora da apresentação de seu grupo.

Pedro aproximou-se de Catarina e deu um beijo em seus cabelos.

– Finalmente minha branquinha voltou pra mim.

– Foi só alguns dias... - ela deu de ombros.

– Bom pessoal, já são sete e meia, vamos começar nossas apresentações. Grupo 1: Thaís, Jorge, João Pedro, Catarina e João Victor. Vocês têm vinte minutos a partir de... - o professor esperou o ponteiro de segundos terminar sua volta - Agora!

Às nove e meia as apresentações tiveram fim junto com o horário de direito do trabalho. Em seguida houve turbilhão de aulas de direito processual penal.

Quando finalmente tiveram sossego, Pedro e Catarina se sentaram em um dos bancos da praça principal do CCSO.

– Toma, não sabia o que comprar pra ti... - Catarina entregou uma caixa de bombons para o garoto.

– Não precisava disso. Eu não te comprei nada. - Pedro ficou um pouco envergonhado.

– Não se sinta pressionado. Eu nem posso comer chocolate mesmo, tanto faz. - Ela torceu o nariz.

– Eu acabei viajando... - Ele coçou a cabeça sem jeito.

– OI? - Ela gritou surpreendida.

– Meus primos me chamaram pra ir pra uma cachoeira que tem no lado leste do estado... Tinha a Pri, mas a mamãe apareceu e disse pra eu me divertir. - Ele encontrava as palavras para explicar à garota o ocorrido.

– Tá... - Sentia-se na voz de Catarina a chateação da mesma.

O telefone de Pedro vibrou e Catarina pode ver de quem era a mensagem, pois apareceu na tela do celular o nome Maria.

– Olha, fiquei com ela na viagem - ele mostrou o celular e rapidamente procurou uma foto dos dois juntos para mostrar para Catarina. - Linda né? Pena que ela mora longe

Catarina sentiu seu sangue ferver enquanto xingava o amigo de todos os palavrões possíveis e imagináveis. Se manteve calada, até a chegada de Jorge.

– E aí casal, bora almoçar?

– Vamos! - Catarina rapidamente pegou suas coisas e apressou o passo, ficando a frente dos dois rapazes.

– Que cobra picou ela? - Jorge perguntou para Pedro que se manteve grudado no celular respondendo aos sms de Maria.

No resto da manhã Catarina fingia que Pedro não existia, ignorava qualquer comentário dele, e principalmente tentava engolir o que ele falava sobre a viagem para as cachoeiras. Aquele era para ser o fim de semana deles. Já estava tudo combinado, até a mãe de Pedro sumir 24 horas antes da viagem, obrigando-o a ficar com a irmã de três anos. E então, por culpa do destino, ele passou o fim de semana com outra garota, a qual ele nem conhecia direito, mas já se dizia apaixonado.

Após a aula no turno da tarde, Catarina saiu em disparada para o estacionamento. Mas foi parada por uma mão forte que lhe segurou o antebraço.

– Eu te fiz alguma coisa? - Pedro pressionou-lhe sobre o carro.

– Não? - Catarina tentou fugir, mas ele foi mais forte. - Posso ir embora? - Mais uma vez houve silêncio. - É carona que você quer? Eu te dou, mas primeiro me solta.

– Por que tu tá me tratando tão mal? - Pedro continuava sobre a garota.

– Tu estás ficando louco? Não estou te tratando mal.

– Claro que está! No almoço tu faltou ter uma indigestão! - Ele começava a alterar o tom de voz.

– Tá bom! Tu sabe porque foi... - Ele se afastou sem acreditar no que ela estava falando.

– É sobre a Maria?

– E se for? - Ela entrou no carro. - Vai querer carona ou não?

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