Capítulo 5

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No fim da tarde daquele dia incrivelmente longo, o porteiro interfona para dizer que tinha uma encomenda em meu nome e que eu a buscasse. Arrastei até a portaria para encontrar o mais lindo arranjo de orquídeas que já tinha visto. As flores que adornavam as hastes altas eram de uma cor que variava entre o vermelho forte e o vinho. Seu centro era todo manchado de uma cor mais forte que as pétalas, misturada com champanhe e uma pequena gema amarela conferia mais beleza àquela flor tão delicada e exótica.

No arranjo um cartão estava fixado. Com as mãos trêmulas e mais lágrimas nos olhos entrei em casa para ler o que dizia aquela carta.

"Marília,

Como tentar te explicar o que aconteceu comigo há alguns meses? Era mais um show, mais uma noite, mais uma apresentação para tirar fotos com fãs. Foi então que algo me atraiu para grandes olhos que estavam fixos em mim em um canto da sala. Olhos assustados e curiosos. Naquele momento senti uma vibração estranha, que nunca tinha sentido antes com nenhuma pessoa. A vontade de falar com você foi instantânea, porém não quis o destino que nos encontrássemos naquele momento. Talvez fosse melhor assim. Por meios tortos e caminhos que nunca imaginei, consegui, enfim, falar com você.  Conheci você e você me descobriu. Mostrei-me como sou e fiz você rir comigo. E você? me fez sentir leve, com vontade de voltar para casa.

Mil planos fiz para te encontrar esse fim de semana. E confesso que cada segundo ao seu lado compensou tudo. Você, com seu olhos tímidos, não tem noção da mulher encantadora, atraente e linda que é. Talvez seja essa sua mágica, seu encanto. Esse jeito despretensioso esconde uma mulher maravilhosa, que faz querer te colocar no colo e falar no seu ouvido tudo aquilo que você não acredita. Você é linda Mari. Nosso beijo foi como eu esperava. Perfeito, puro, carregado de emoção, porém não foi o suficiente para que você não fugisse de mim. Você se assustou e eu compreendo, pois também estou assustado com o tamanho da vontade que estou de ficar com você.

Quero que você pense com carinho em tudo que podemos viver. Fale comigo. Estou disposto a qualquer coisa para ter você em meus lábios, no meu corpo, impregnando tudo com seu espírito lindo.

Luigi"

Ao terminar de ler as linhas, as lágrimas que derramavam sobre o papel já estavam nublando minha visão. Tinha que contar para ele a profundidade do meu relacionamento com Pedro. Não teria mais como continuar a bancar a amiga, sabendo que ambos estavam envolvidos além disso.

Quando Pedro chegou do seu maravilhoso fim de semana me encontrou com olhos inchados em meio a um amontoado de cobertas, um chocolate quente nas mãos e uma falsa enxaqueca para diminuir o interrogatório.

Peguei meu telefone na segunda-feira de manhã para encontrá-lo cheio de ligações e mensagens, tanto de Luigi quanto de Flávia. Achei melhor falar com Flávia e empurrei o desejo de responder a Luigi para um lugar muito escuro e distante em minha mente.

- Desembucha tudo Mari. Você quase me matou de preocupação e curiosidade. Sabe o que isso significa? Comi toda minha geladeira ontem. Você me deve isso.

- Desculpa Flávia, mas estava sem condições de falar ontem. Para falar a verdade, hoje também não estou melhor. Estou mal Flavinha. Sabe aquele sonho encantado que eu sempre tive que um dia encontraria um príncipe? Pois é. É disso que eu estou falando. Ele é um príncipe e eu? Sou uma traidora que não merece nada disso. Bufo toda minha frustração.

- Calma ai, Mari. Você transou com ele? Por que se for isso, não se sinta assim. Você é humana.

- Não. Claro que não transei com ele. Estive fora de mim, mas não a esse ponto.

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