Capítilo 8

904 107 11
                                    



Sem respirar despejei toda a verdade na mesa antes mesmo de termos comido a entrada. Luigi me olhou com olhos arregalados e sua pele morena assumiu um tom pastel.

- Não se culpe por nada, e pode se sentir à vontade em me odiar por tê-lo envolvido nessa bagunça toda. Você poderia ter sido muito prejudicado pela minha história. Vim aqui hoje para esclarecer de uma vez por todas o porquê de não poder ficar com você. Não se engane achando que eu estou bem em te falar isso. Meu coração está sangrando em ver você assim tão perturbado. Ele se aproximou de mim de modo assustador.

- Você é casada? Não acredito. Você não usa aliança? Ou usa só na frente do seu marido para ele não perceber o que faz pelas suas costas? Como você ousou ter me enganado dessa forma? Eu estou apaixonado por você. Tudo isso foi uma mentira? Qual seu jogo Marília? Explica que ainda não estou entendendo nada.

Ele gritava em plenos pulmões toda sua raiva e frustração sobre mim. Senti tão pequena e culpada que não conseguia segurar as lágrimas que vinham em bicas dos meus olhos já borrados de rímel.

- Não uso aliança, e nunca usei uma antes. Nunca pensei em te prejudicar em nada. Deixei me envolver tanto quanto você e quando me dei conta já era tarde demais. Não foi minha intenção te magoar, estou envolvida e imersa nessa história como você. Por favor, me perdoe. Eu vim aqui hoje para falar isso olhando nos seus olhos para que possamos seguir nossas vidas. Não era justo você não saber do principal. O problema é comigo, nunca foi com você.

Chorávamos a mesma perda. O lamento era o mesmo e não já poderia suportar aquilo em meu peito. Dei uma última olhada para o rosto arrasado de Luigi e sai do quarto.

O quarto onde eu estava hospedada estava a poucos passos dali, porém minhas pernas vacilaram e sem vergonha de quem poderia ver minha frágil situação cai no chão com um estalo silencioso no carpete do corredor.

Lágrimas vinham sem controle e eu só percebi uma mão em minhas costas quando olhei diretamente nos olhos de Luigi agachado a minha frente. Eles estavam vermelhos como os meus, no entanto a raiva não estava ali me fitando como há minutos atrás.

Ele me levantou facilmente do chão, recolheu as coisas que caíram da bolsa e estavam por todo o corredor me conduzindo novamente para seu quarto. Não conseguia raciocinar, nem mesmo falar. O choro vinha alto e culpado. Ele me levou até a cama, aconchegando-me em seu colo e chorou comigo durante muito tempo afagando meus cabelos.

Quando já estávamos drenados de todo aquele sofrimento, e a pele estava ressecada pelas lágrimas que já tinham há muito ficado secas, nos olhamos nos olhos mais uma vez. Suas mãos continuaram em meus cabelos alisando-os da raiz até as pontas, como faz um pai consolando a filha que caiu de uma árvore.

- Eu queria me desculpar pela forma que falei com você. Estou realmente confuso. Em nenhum momento me senti usado ou como um prêmio por você. Não sei como é sua vida, seu casamento ou qualquer outra coisa, só sei que o pouco em que estive com você foi bom, muito mais que isso até. Com você me senti eu, sem máscaras ou estereótipos. Obrigado por ter me contado tudo, e por ter vindo até aqui por isso.

- Você não tem que se desculpar por nada. Você é uma pessoa linda por dentro e por fora, e eu nunca vou me esquecer de nenhum momento que compartilhei com você. Em especial deste, que só comprova como seu coração é imenso. Você não teria que estar me consolando agora. Você tinha que estar me odiando, querendo me ver pelas costas, e não é isso que eu vejo.

- Eu nunca poderia odiar ou deixar você sair assim daqui. Você é especial para mim Marília. De graça, sem esforço. Você conquistou esse lugar no meu coração.

O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora