Capítulo 9

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Antes mesmo das 08 da manhã eu e minhas amigas já estávamos na estrada. Alugamos um carro e fomos silenciosas pela estrada quase vazia devido a hora do dia. Não sentia vontade de chorar, muito menos de me arrepender. Ter feito amor com Luigi serviu para eu ver que era possível várias coisas que eu tinha sonhado e que já tinha desistido.

Não foi só a presença dele em minha vida que fez com que eu decidisse o que faria daqui para frente. Foi acima de tudo uma libertação da mulher dependente do afeto e do cuidado de outra pessoa. Não precisava de ninguém para ser feliz, somente de mim mesma, dos meus atos, de ter coragem e assumir as rédeas da minha vida.

- Você quer falar alguma coisa pra gente Mari?

- Não. Estou bem. Flavia olhou para minha cara duvidando do que estava dizendo. - De verdade. Só queria mesmo agradecer a vocês. Obrigada por terem vindo comigo. Acho que sozinha não teria essa coragem toda.

- E como ficou sua história com ele? O que vocês conversaram? Resolveram o que vai ser daqui para frente?

- Nossa história ficou resolvida. Isso é tudo. Falei que estava comprometida em um relacionamento, tivemos um momento de ira, de lamento, de perda. Mas no final das contas valeu todo esse caminho.

- E o quanto você gosta dele?

- Gosto muito. De uma maneira que nunca gostei de ninguém. Todo amor que depositei antes em alguém era destrutivo para mim, o que no fundo não tinha nada a ver com amor real, era uma doença que só me atingia. Era uma carência doentia que me fazia ser qualquer coisa para ser amada. Com Pedro encontrei uma água morna, agradável, onde achei que seria o suficiente para me sossegar. Mas com Luigi foi uma coisa que mesmo se eu ficasse o dia todo tentando explicar, não saberia expressar nem a metade do que foi.

- E você está tranquila pegando essa estrada de volta? E o Pedro? Como vai ficar sua vida daqui por diante?

- Estou tranquila sim amiga. Antes de qualquer coisa, ou de me perder em outra história, tenho que definir minha relação com Pedro. E também quero me descobrir antes de afundar novamente em outro amor.

- E isso significa?

- Flavia, isso significa que tenho que zerar todos meus ponteiros. Tenho que ter coragem de enfrentar meus medos e traumas para, enfim, me libertar, me despertar para outra vida. Não posso usar o Luigi como causa da minha separação com Pedro, tenho que me separar porque meu relacionamento chegou em um ponto que eu procurei em outra pessoa o que eu não estava encontrando nele. E também não posso ficar com Luigi agora, porque ainda não estou emocionalmente preparada para uma relação com um homem como ele. Estou no limbo. No meio do caminho, mas consigo ver a reta final dessa corrida. Vocês me entendem?

- Acho que estou entendendo seu ponto.

- Estou aliviada por chegar nesse ponto de colisão, onde tudo vai mudar.

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Chegar em casa era respirar o velho cheiro de habitualidade. Era tudo muito fácil e cômodo em minha vida pragmática. Cada passo que dava rumo ao interior do apartamento renascia em mim a consolidação da certeza que aquela vida era rasa.

Liguei para Vera e marquei um horário para o final da tarde. Por mais que eu soubesse o que teria que fazer, precisava encontrar equilíbrio para realizá-lo.

- Então Marília o que te faz vir assim tão às pressas?

- Finalmente consegui ver o que sempre você me falou.

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