O Despertar

Capítulo 14

Depois de Luigi me mimar por uma boa parte do dia, despedimos sob os olhos zangados de Gustavo. O homem poderia me matar a qualquer minuto. Meu tão esperado fim de semana tinha se tornado um fiasco. Minhas pernas estavam pesadas enquanto caminhava pelo portão de embarque. O jatinho estava fora de questão para mim hoje, Gustavo achava que era um jeito de me punir, mas agradeci internamente por não ter atenção exclusiva dirigida a mim. Minha desolação era percebida por todos que passavam com olhar de pena por mim.

A aeromoça, ao perceber meus olhos inchados e vermelhos, gentilmente ofereceu um copo de água mesmo antes do embarque. Comovida pelo sorriso gentil da moça morena com dentes tão brancos eu aceitei e tomei uma aspirina resgatada da minha bolsa.

Olhando a confusão de luzes do alto do avião ficando para trás, me senti melhor. Estava afastando dos holofotes, mas a lembrança de que tinha deixado meu coração sob as luzes de um mundo tão atípico, esmagava minha alma já retalhada. Essa era a vida que ele poderia me oferecer, se eu quisesse. E não, desistir dele não era opção. Mas eu precisava me acostumar com isso.

Começar a semana com sua cara chorosa nas páginas de fofoca da internet não era como eu desejei ver meu dia começar. Entre as manchetes sensacionalistas, a história era quase a mesma: Luigi me traiu com a tal Gabi, que já tinha sido seu afair; Os flagrei em momentos íntimos, e tudo se acabou. Ótimo, agora eu era a traída. Sabia que tinha muita gente no corredor da emissora quando Luigi me alcançou, só não tinha noção do quanto eles eram rápidos em ter capturado aquele meu momento. Fechei com força meu laptop,  e imediatamente meu celular piscou com uma nova mensagem.

"como previsto, ele viu o lixo que você é."

Minha irmã fazia tudo ficar pior. Nunca entenderia esse ódio cruel que ela sentia por mim. Ela ao menos teve uma mãe por alguns anos, eu não tive nada. Fui, talvez, mais vítima que ela. Com lágrimas nos olhos me arrumei para trabalhar.

Mal sentei em minha mesa e o telefone tocou. Com medo de quem poderia ser espiei para ver o rosto perfeito do Luigi rindo para mim através do aparelho. Sorrindo, empurrei a dor em meu peito e atendi ao telefone.

- Bom dia. Fiz minha voz soar tão alegre quanto conseguia.

- Bom dia. Seu tom era de dúvida.

- Como foi o show ontem? Arrasou como sempre? Olhando o visor do relógio vi que ele não devia ter dormido muto. Era sua segunda noite não dormindo bem. Ele definitivamente teria que descansar.

- O show? Foi bem. Na verdade, eu quero saber de você. Como você está?

Sua preocupação comigo era genuína e lágrimas picaram meus olhos com tamanho carinho.

- Meu querido, estou tão bem quanto deveria estar. Não se preocupe comigo. Você deveria estar dormindo uma hora dessas.

- É que Gustavo me mostrou algumas coisas na rede hoje e me perguntei se você também não tinha visto. Já tive uma amostra de como você ficou da ultima vez que viu sua imagem online.

Lembrei da massa de corpo mole esparramada no piso do banheiro. Era esse o medo dele, de me ver quebrada novamente.

- Sim, também vi. Mas dessa vez eu me comportei. Disse entre um riso fraco.

- Queria estar ai com você agora. Ele falou com tom cansado.

- Tudo que eu queria também. Mas temos que jogar com o que temos, não é mesmo?

Ele riu do meu jeito.

- Sim senhora, vamos jogar seu jogo, com suas regras e minhas trapaças. Ele jogou isso em mim.