Capítulo 21

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Três dias haviam se passado desde a entrevista, e quando meu telefone tocou e visualizei o número já quase esquecido, respirei fundo antes de qualquer atitude. Após meses sem notícias de Pedro e da cena de ciúmes que Luigi teve ao saber do nosso encontro, resolvi deixar a vida correr com cada um para seu lado, todavia essa ligação repentina fez-me questionar o motivo dela, por isso, atendi.

- Alô?

- Oi Mari, é o Pedro. Tudo bem?

- Oi Pedro, tudo sim e com você?

A conversa estava engessada. Estava sem graça e sem assunto, mas compartilhávamos desse sentimento estranho.

- Queria conversar com você. Ele desembuchou após a introdução de praxe.

- Hum, conversar? Sobre o que?

- Sobre nós.

- Pedro, não existe um "nós" há algum tempo.

- Por favor, Mari. Acho que você me deve isso. Respostas. É a única coisa que peço a você.

Avaliei bem a situação antes de dar uma resposta a ele. Pedro, talvez, tenha certa razão ao exigir algo de mim. Mas depois de tanto tempo achei que ele já teria seguido a vida, como eu. Talvez essa conversa deveria ter existido sim em algum momento. Porém, não agora, onde para mim tudo estava resolvido, morto e sepultado.

- Pedro, até podemos conversar, mas acho inútil esse tipo de diálogo depois de todo esse tempo. Nossa história acabou. Segui minha vida e creio que você deveria fazer o mesmo.

- Mari, uma conversa. Por favor.

Isso era novo para mim. Realmente não sabia o que fazer, não tinha noção de qual seria a reação de Luigi e se deveria realmente ver Pedro no intuito de falar sobre o que aconteceu conosco. Algo me incomodava, mas minha eterna dificuldade em dizer "não" as pessoas decidiu por mim.

- Ok Pedro. Uma conversa para falar disso e, depois, nunca mais quero tocar nesse assunto com você, entendido?

- Obrigado Mari. Preciso disso.

Depois de marcarmos um almoço que aconteceria em poucos dias desliguei o telefone com o coração na mão. Luigi não iria gostar nem um pouco desse encontro, e não estava em meus planos o fazer escondido dele. Não faria com ele o que não gostaria que fizessem comigo.

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Minha nova rotina era, no mínimo, cansativa. Vivia de lá pra cá chocalhando dentro de jatinhos. Minhas roupas estavam divididas entre meu apartamento e a casa de Luigi, que tinha uma distância significativa da minha. E ao trabalhar para ele consegui vários clientes do meio artístico, o que me obrigava a enfrentar mais estradas que a rotina normal me exigia. E dentro desse universo estressante, ainda tinha que ter pique para ser uma namorada legal, porém essa era a melhor parte da minha vida e, ao contrário do resto, não dava trabalho algum para mim.

Luigi também vivia a beira da loucura com um itinerário mais ousado que o meu. Quando nos encontrávamos o sentimento era de explosão e exaustão ao mesmo tempo.

Cheguei a casa de Luigi no meio da tarde após um voo insano que fez 2 conexões cansativas. Mal entrei e recebi uma mensagem de Gustavo solicitando uma reunião a sós comigo para debatermos sobre alguns negócios. 

Menos de vinte minutos depois, Gustavo adentrou a sala de Luigi com todo seu ar de superioridade e olhos felinos sobre mim.

- Marília, preciso falar com você. Do jeito que está não dá pra ficar. Ele foi sentando no sofá e desferindo suas ordens sobre mim, que o observava sem entender o tom que estava sendo usado por ele.

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