Capítulo 30

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O que inicialmente pensei ser um desabafo, um discurso de autoafirmação e autoajuda cresceu de forma exponencial. Rapidamente meu nome estava nos trending tropics do Twitter, meus telefones berravam à espera de que eu os atendesse. Nem nos meus melhores presságios poderia calcular o poder que minhas palavras poderiam exercer sobre tanta gente.

Sentada à mesa com Luigi e toda equipe dele analisávamos gráficos e projeções de como meu discurso passou de justificativa para hino de empoderamento.

- Quando disse a você que todos a amariam quando te conhecessem você não acreditou né?

- Não digo amar, Luigi. Mas acho que agora eles me respeitam, respeitam minha história. Ele pega minha mão por debaixo da mesa e a aperta forte.

- Tenho muito orgulho de você. Olho para seus olhos e pisco lágrimas contidas. Meu objetivo tinha sido alcançado, e eu estava grata por mais aquele momento em minha existência.

Nas semanas que seguiram vi o nome de Melissa ser massacrado até ser definitivamente esquecido pela mídia. Infelizmente, o tipo de fama que ela tinha conseguido era efêmera demais. Fernando me ligara várias vezes neste meio tempo. Ela queria voltar para casa depois do fiasco que foi tê-los abandonados, porém driblar a mágoa e o orgulho do marido estavam mais difíceis que aparecer nas redes sociais. Ela tinha saído de casa e deixado a família em busca de um sucesso gratuito, sem trabalho ou esforço, às custas de mentiras e infelicidade alheia. Fernando tinha seus motivos, mas achei melhor que os dois resolvessem isso, já que o contato com minha irmã tinha exaurido de vez.

Gustavo foi outro que teve o destino que caçou. Sua obsessão por Luigi, e em consequência por mim, arruinou o que restava de seus clientes. Várias pessoas nos apoiaram e resolveram abrir mão dos serviços dele. Como confiar em um empresário que poderia te boicotar, mentir ou prejudicar? Não poderia sequer imaginar o que passava na cabeça dele em relação a nós, mas imagino que não seria coisa boa.

As malas jogadas na cama e a bagunça típica de quem não fazia ideia do que levar estava instaurada em nosso quarto. Claro que para Luigi não era problema, pois ele tinha seu personal stylist, e suas roupas estavam meticulosamente arrumadas para a temporada de 8 shows nos Estados Unidos para que gravasse seu novo DVD.

- Odeio escolher roupas. Disse frustrada jogando um vestido envelope preto dentro da mala gigante.

- Por mim você andaria nua. O problema estaria mais que resolvido. Começo a rir.

- Acho que não quero chamar mais atenção que você.

- Tem razão. Você nua causaria um estrago fenomenal. Ninguém conseguiria viver normalmente depois dessa visão tão perfeita.

- Engraçadinho. Mas acho que já tenho tudo que preciso por aqui. Ajuda com a bagunça?

- Claro.

Ele chegou ao lado da cama e varreu todas as coisas com seu braço, as jogando no chão. Olhei para ele na tentativa de fazer uma cara séria.

- Não era essa ajuda que eu queria.

- Era essa que eu estava pensando desde que vi você curvada sobre essa mala, me dando todo um espetáculo com essa bunda gostosa.

- Você não tem jeito.

E assim, sobre lençóis amarrotados e roupas espalhadas pelo chão nos amamos da melhor forma que fazíamos.

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A turnê foi um sucesso. Luigi cantava muito, tinha carisma, talento, e um coração tão belo quanto seu rosto e corpo. Todos os espetáculos tiveram casa lotada e quase morri de orgulho do seu primeiro trabalho, digamos que solo, sem interferências artísticas de Gustavo. Seu som mudou nesse último trabalho. O rock veio mais rasgado e romântico, ele estava em uma fase onde ele poderia ousar, sem se preocupar somente com o lado comercial. E suas músicas, em maioria autoral, demostravam bem o homem que ele se tornou. Voltamos para casa com a missão cumprida.

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