Capítulo 27

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Estava atualizando minhas leituras jogada na rede que balançava calmamente em minha sacada. A luz do sol invadia o ambiente esquentando meu corpo de uma forma gostosa, acolhedora. Sempre fui viciada em livros de romances, poesias, fantasias,  mas nunca coisas do tipo "fique rico" e esses modismos chatos que as pessoas postam nas redes sociais para se sentirem ícones e influenciadores.

A verdade é que nunca vi nenhuma dessas pessoas que leem esse tipo de livro ficarem realmente ricas como os autores supostamente são, ou felizes plenamente como muitos prometem, e isso me deixava meio cética. Ao analisar meu pensamento julgador, agradeço que ao menos as pessoas estavam lendo, e isso, num país como o nosso onde o hábito da leitura é tão raro, já é um avanço.

- Quem vê você assim, não imagina que está no meio de um furacão. Flávia se aproxima e se joga na rede fazendo-a balançar um pouco mais forte.

- E o que você sugere que eu faça? Me jogue daqui de cima? Já dei importância demais a isso. Chega de sofrer por coisas que eu não posso controlar.

- Credo! Ela faz o sinal da cruz e me abraça de lado. - Você é mais forte que eu imaginei, mais forte que todas as pessoas que eu conheço.

- No começo de toda essa história me senti péssima, sem chão, sem motivo para reagir. Foi só o susto inicial. Resolvi ligar o foda-se. Sei que Gustavo está por trás de toda trama bizarra de novela mexicana que virou essa narrativa, e realmente, não me importo mais. As pessoas que me conhecem e me amam estão comigo. Por que vou importar com o que o resto do mundo, que não faz ideia quem eu sou, está pensando a respeito da minha reputação?

- Nossa amiga. Você está certíssima. Dar motivos para o babaca, é como dar uma arma carregada a uma criança. Caso ele não tenha público, ele não tem espetáculo, e alimentar essa farsa só dá o ibope que ele precisa.

- Por mais que às vezes doa ver meu nome vinculado a tanta sujeira, vou procurar não me importar tanto com isso. Tenho mais vida para viver, mais sorrisos para dar e não são calúnias que vão me tirar dessa jornada.

- Isso mesmo Mari. Tem todo meu apoio.

- Mudando de assunto. Como está você e Bruno? Tenho sido péssima amiga, vendo só meu umbigo. Ela fez uma cara estranha, bem suspeita.

- Cheguei na fase.

- Sério? Não acredito! Você parecia tão feliz. Achei que ele seria o cara a passar de fase.

"A fase" era como Flávia definia o momento em que a empolgação causada por hormônios acabava e ela já perdia o interesse pela outra pessoa. Geralmente, "a fase" vinha após poucas semanas. Com Bruno, no entanto, demorou mais para chegar.

- Acho que sou estragada para essas coisas Marília. Aquele cretino me danificou para sempre. Meu corpo só é preparado para sexo suado e selvagem. O que vem além disso, ele rejeita brutalmente. Evolvo-a em uma baraço apertado, permitindo que ela se encaixe totalmente em meu colo.

- Você não é estragada para nada. O que aconteceu com Júnior foi ruim, lamentável, mas não deve ser motivo para você desistir. Você merece amar e ser amada em troca. Permita-se ir além do sexo. Sei que você tem medo de sofrer novamente, mas viver na defensiva não te exonera de sofrimento, pelo contrário, só te dá mais motivos para se sentir "danificada".

Júnior foi o grande amor de Flávia quando ela ainda tinha uns vinte e poucos anos, após o desfecho traumático ela nunca conseguiu manter qualquer relação mais profunda com ninguém.

- Não consigo confiar ou gostar de ninguém. Olho diretamente para seus olhos.

- Você ainda o ama? E fala a verdade, pelo menos uma vez na vida. Já vi você chafurdando na lama da decadência, bebendo e transando com caras que nem sabia o nome, tudo isso para se autoafirmar, para provar que o problema era ele, e que você era desajada. Quando tudo aconteceu você tinha motivos e pouca maturidade para agir assim, mas já se passou tempo demais para até hoje você se sabotar. Tenha mais fé em você e coragem.

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