O bip constante do monitor cardíaco cortava o silêncio do quarto, um som que era ao mesmo tempo um alívio e uma acusação
Steve não dormia, muito pelo contrário, estava sentado ao lado da maca, curvado, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos cobrindo a boca e o nariz, como se pudesse conter o peso que esmagava seu peito. Seus olhos, vermelhos e fundos, fixavam-se em Chloe, como se pudesse protegê-la apenas com a força de sua presença.
Chloe ainda estava desacordada, ou talvez apenas perdida em um lugar onde ninguém podia alcançá-la, até que ela se mexeu: um movimento sutil, quase imperceptível, os dedos se contorcendo, as pálpebras tremendo, e então os olhos abriram-se lentamente, lutando contra a luz fraca do quarto que parecia queimar e por um instante, ela quis fechá-los, voltar ao vazio onde nada existia, mas a realidade a puxou de volta.
Não estava na cela.
Não havia correntes.
Seus pulsos, livres de algemas, estavam envoltos apenas em bandagens, mas isso não impediu o coração de disparar, o monitor acelerando em um bip frenético. Era outro teste? Outra simulação? A mente dela, condicionada pela Base, procurava armadilhas em cada sombra, cada som. "Você é nossa, bonequinha," a voz de Dylan ecoava, misturada ao riso cruel de Anthony: "Sempre vai ser."
- Chloe...? - a voz de Steve era baixa, hesitante, mas familiar, cortando o zumbido do pânico
Ela virou a cabeça com dificuldade, o pescoço rígido, a nuca latejando onde o chip fora arrancado, e lá estava ele: Steve, cabelo bagunçado, olheiras profundas, a expressão um misto de alívio e angústia. Seus olhos se encheram de lágrimas só de vê-la acordada, e ele se inclinou para frente, como se quisesse se aproximar, mas se conteve
- Ei... você tá me ouvindo?
O corpo dela travou, os olhos arregalados, a respiração falhando em tremores curtos. Era ele. Mas também podia não ser, porque a Base já a enganara antes, com rostos familiares, vozes falsas, promessas que terminavam em choques e água gelada. E Steve percebeu o pânico imediatamente, a mudança no ritmo do monitor confirmando o que seus olhos viam
- Tá tudo bem, tá tudo bem... - ele levantou as mãos, palmas abertas, como se tentasse acalmar um animal ferido - Eu não vou fazer nada, juro. Você tá em casa agora. Comigo
Ela olhou ao redor, os olhos saltando de canto a canto, analisando cada sombra, cada objeto, esperando o som de botas, o zumbido de eletrodos, o jato de água fria
- Não me toca! - gritou, a voz fina, trêmula, um eco da garota quebrada - Não me toca! - seus olhos eram selvagens, apavorados, como se visse Dylan com seu bastão elétrico ou Anthony rindo enquanto a afogava
Steve parou no mesmo instante, o coração rasgando
- Eu não vou... - ele engoliu em seco, a voz falhando - Juro, Chloe, eu só queria... segurar sua mão. Só isso - as lágrimas escorriam agora - Eu tô aqui. Tô aqui, Chlo. Não tem mais soldados, não tem mais experimentos. Você escapou. Tá livre!
Chloe não respondeu, seus olhos vidrados, não pareciam entender as palavras, porque livre era uma mentira que a Base usava, uma promessa que precedia a dor. "Você é nossa, bonequinha. Sempre vai ser," a voz de Anthony zumbia em sua mente, misturada ao som de choques elétricos e ao sufocamento da água. Ela quis falar, quis acreditar, mas a garganta apertava, a voz roubada pelas memórias do que fora forçada a fazer
- Eu juro - Steve continuou, a voz tremendo, mas firme - Não tem ninguém aqui. Só eu. Você tá num hospital, em casa. Eles não vão te tocar de novo. Nunca mais
Ela levou as mãos ao rosto, os dedos trêmulos tocando as cicatrizes, as bandagens, a pele que não parecia mais sua. O quarto branco, a maca, o irmão à sua frente, tudo parecia surreal, uma armadilha cruel
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Destiny - 𝙳𝚞𝚜𝚝𝚒𝚗 𝙷𝚎𝚗𝚍𝚎𝚛𝚜𝚘𝚗
FanfictionApós a morte de seu pai, Chloe Harrington retorna para Hawkins, acreditando que finalmente poderá recomeçar e encontrar paz. Mas a tranquilidade que imaginava se desfaz rapidamente quando estranhos acontecimentos começam a surgir, e os antigos boato...
