073 - Retorno a eles

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Os dias que se seguiram à visita a Max trouxeram uma mudança sutil, mas fundamental, para Chloe. A dor não desaparecera, tornara-se mais nítida, mais localizada, mas a paralisia que a acompanhava parecia ter se dissipado um pouco. Ver Max, tocar na fria realidade de seu estado, foi como abrir uma válvula de pressão, a culpa monstruosa e difusa começou a se transformar em uma tristeza profunda, mas manejável, e com essa tristeza veio um desejo, tímido como o primeiro broto após um inverno rigoroso.

Ela começou a falar um pouco mais, frases curtas, mas intencionais. Sobre o tempo. Sobre a comida insossa do hospital. Sobre as cores do céu ao entardecer. Steve respondia com normalidade, como se conversas triviais fossem a coisa mais comum do mundo entre eles, alimentando delicadamente essa frágil reconexão com o mundano.

Uma tarde, enquanto Steve desdobrava uma manta sobre suas pernas, ela olhou para suas mãos ocupadas e disse, sem preâmbulo:

- O Dustin... ele perguntou por mim?

Steve congelou por uma fração de segundo antes de continuar a arrumar a manta, mantendo os movimentos suaves, o nome de Dustin Henderson sempre provocava uma tempestade de emoções em Steve, um afeto protetor e quase paternal, uma irritação carinhosa e, agora, uma pontada aguda de preocupação. Dustin fora um dos pilares mais desafiantes nos ultimos meses, o garoto havia passado por muita coisa e mudado muito, mas ele amava Chloe. De uma maneira pura, desastrada e totalmente devotada que às vezes tirava o fôlego de Steve.

- Todo dia - Steve respondeu, sua voz suave - O garoto não parou... ele até tentou hackear o sistema do hospital semana passada para ter atualizações - um sorriso cansado tocou seus lábios - O segurança tá de olho nele

Um canto dos lábios de Chloe tremeu, um eco distante do sorriso que Steve tanto esperava ver, porque a imagem do Dustin, determinado e desastrado, tentando invadir um sistema por ela, era tão... ele.

Ela ficou em silêncio por um longo momento, seus dedos brincando com a borda da manta, e Steve se sentou, dando a ela tempo, porque sabia que as engrenagens em sua mente, ainda enferrujadas e danificadas, estavam trabalhando.

- Ele... ele sabe? - não precisou especificar. Sabe o que fizeram comigo? Sabe no que me tornei?

Steve sacudiu a cabeça

- Não os detalhes. Ninguém sabe. Só que você estava presa em algum lugar ruim. Que você passou por... coisas. Ele sabe o suficiente para se preocupar, não o suficiente para...- hesitou, buscando a palavra certa - ...para ver você diferente

Chloe fechou os olhos. A simples ideia de Dustin, seu Dustin, com seu sorriso, seu jeito animado, seu coração enorme exposto para o mundo, vendo-a com medo ou nojo era insuportável. Pior do que qualquer tortura da Base.

- E se ele... - a voz dela sumiu - E se ele me ver e... e perceber que eu não sou mais a mesma?

- Ele vai perceber - afirmou, sem rodeios - Ele não é idiota, Chloe. Ele vai ver que você mudou. Que você está machucada - se inclinou para frente, capturando seu olhar hesitante - Mas ele também vai ver você. A garota que ele ama. E isso é a única coisa que vai importar para ele

A palavra ama pairou no ar, carregada de um peso novo. Oito meses atrás, era um segredo doce entre eles, um sentimento adolescente nascido entre sessões de Dungeons & Dragons e fugas de criaturas do Mundo Invertido, agora, parecia uma promessa antiga e distante, testada pelo fogo do inferno.

Chloe respirou fundo, o ar tremendo em seus pulmões, a luta era visível em seu rosto: o desejo profundo de ver o rosto familiar, de se ancorar em um amor que existia antes da escuridão, contra o medo paralisante de contaminar esse amor com o que ela trouxera de lá.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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