XXIX - Final (parte 1)

3.2K 329 9
                                    

Todos nós nos consideramos muito inteligentes, espertos. Algumas vezes até somos. Mas tem algumas coisas que demoramos para entender, as vezes demora cair a ficha. A maioria das vezes, quando somos "lentos" no raciocínio é porque envolvem emoções. Essa era umas das vezes.

Minha ficha não havia caído. Meu irmãozinho, meu caçula, partiu. Ele tinha uma vida inteira para viver, mas por força maior, foi privado. Ele partiu e eu não estava lá com ele. Eu queria poder dizer a ele mais uma vez, o quanto o amava.

Assim que soube de sua partida, queria que ele me levasse junto. Entrei em desespero, gritei, chorei, mas por sorte Matt estava ali, do meu lado. Se não fosse ele para me confortar e não sabia o que seria.

O dia amanheceu feio, nuvens carregadas de chuvas. Um dia propicio, pensei. Meu irmão seria enterrado naquele dia a tarde. Ainda não conseguia acreditar naquilo. Meu pai havia ido buscar minha mãe no hospital e depois iriam resolver a papelada para o velório e o enterro. Michele estava dopada, dei um calmante de minha mãe para ela se acalmar, ela chorava muito. Sei que minha mãe estava sendo muito forte.

Havia chegado a hora. Precisávamos nos despedir uma última vez. Ele estava lindo, com o rosto mais sereno. Sabia que para ele estava sendo difícil, dolorido e que agora ele teria descanso. Ele estava em um terno todo preto, com uma camisa branca e uma gravata. Ele parecia estar dormindo. Minha vontade era sacudir ele e acordá-lo, mas sabia que não iria conseguir.

O velório estava cheio, todos da minha família que puderam compareceram, seus amigos da outra cidade, os meus amigos mais chegados, que conviviam em casa, estava também Rafa, Veronica e Mônica do escritório. Rafa assim que chegou foi e me deu um abraço apertado, que transmitia todo seu sentimento. Todos nós trajávamos ternos pretos ou vestidos da mesma cor. Nos rostos, olhares vagos, olhos vermelhos de choro.

Na hora do enterro chovia forte, mas eu não me importava para a chuva. Estava enxercado àquela altura, mas não ligava. Só queria me despedir de Henrique. Todos foram embora, ficando apenas eu, Matt que não saiu do meu lado, Michele e meus pais. Ficamos ali, juntos, mas sem dizer uma palavra apenas olhando para o lugar onde Henrique fora enterrado e deixando algumas lágrimas rolarem.

Ainda chovia bastante, mas nós permanecemos lá. Matt me ofereceu o guarda-chuva várias vezes, mas eu recusava, queria deixar a chuva levar todo esse sentimento. Queria sentir a chuva me renovar. Todos nós estávamos com um botão de rosa branca em nossas mãos. Minha irmã foi a primeira a colocar, seguida de Matt, meus pais colocaram em seguida, falando que o amavam. Eu fui o último a colocar e disse:

- Não esquece que você prometeu cuidar de todos nós pirralho – abri um sorriso singelo, mas verdadeiro – eu te amo Henrique

Foi aí que aconteceu. Não sei dizer o que muito bem, pode ser que tenha sido uma coincidência, mas nos encheu de emoção e nos tomou um sorriso sincero e mais algumas lagrimas. Um pequeno raio de sol, ultrapassou aquelas nuvens carregadas e iluminou as rosas, deixadas em cima de seu leito. Nesse mesmo instante de iluminação, uma borboleta de asas azul e branca, pousou nas rosas.

Li uma vez, não lembro onde nem o que dizia direito, mas era relacionado a borboletas e espíritos. Como não sabia direito que significava, não comentei com ninguém. Mas aquele acontecimento, me deixou feliz. Me fez acreditar que Henrique estava bem e que estaria perto de nós.

Passamos o final de semana em luto. Não saímos, ficamos todos em casa. Matt não ficou comigo, estava com sua mãe, já que havia deixado ela muito sozinha esses dias. Fiquei um pouco perdido sem sua presença ali comigo, mas estava com minha família. Tínhamos que estar juntos para nos ajudar a enfrentar essa fase.

Até a eternidade! (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora