Capítulo 18

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Isabella gritou e gritou. Os olhos vermelhos sumiram quando ela olhou para o canto negro. Ela estava sozinha naquele lugar. Um medo indescritível passava por cada junta de seu corpo. Ela parou. Respirou forte, tentando não morrer enquanto fazia esse trabalho tão simples. Então pegou na maçaneta da porta e abriu.

          Isabella não estava na cozinha. Suas pernas estremeceram ao perceber que estava num quarto fechado. As paredes eram negras, sujas de sangue. Ela ficou imóvel, mas olhou para trás. O quartinho ainda estava lá com a sua penumbra.

          Isabella não entendeu o que estava passando por sua cabeça. Mil coisas a rodeavam. Um medo, uma angústia, uma curiosidade, entre várias coisas. Ela respirava baixinho, como se fosse acordar alguém se respirasse mais alto. Seu coração parecia um tambor batendo acelerado dentro do peito.

           ᅳ Isso não é real ᅳ ela disse para si mesma em pensamento. ᅳ Isso não é real.

          Mas parecia muito real. Isabella sentiu na pele o ar úmido da sala. Continuou parada ao pé da porta. Então um impulso a fez caminhar até o meio da sala. Ela parou bem no meio. Um luz branca acendeu à cima de sua cabeça. Ela olhou para o lado, para o outro. A porta sumira. Ela estava trancada ali, sem ninguém. Sozinha.

          Uma lágrima desceu pelo rosto de Isabella ao perceber a real da sua situação. Estava ali, parada no meio de uma sala que apareceu do nada, sozinha, sem nada, totalmente impotente a qualquer coisa. Ela soltou um soluço, que ecoou pela sala, entrando em seus ouvidos. Então ela começou a ouvir gritos de pessoas. Gritos altos, baixos, agudos, finos, grossos. Vários gritos de dor. Isabella colocou a mão na cabeça para aquela tortura passar, mas os gritos continuaram.

          ᅳ Para com isso ᅳ Isabella gritou alto. Os gritos cessaram, trazendo o silêncio predominante.

          Ela olhou para o chão, os olhos marejados com tal tortura. Ela sentiu uma leve dor de cabeça, mas logo passou. Então ouviu-se passos. Pequenos pés emergiram da escuridão. Cada pé aparecendo do nada. Os pés eram visíveis, mas o corpo ficava escondido com a penumbra da sala. Olhou para o outro lado. Os pés tomaram todo o quarto. Vários pés e pernas. Grandes e pequenos. Descalços e calçados. De todos os tipos.

          Isabella sentiu o corpo gelar. Sussurros invadiram a sala, dizendo coisas que ela não entendia. Alguns gritavam, outros pediam socorro, e outros Isabella não entendeu.

          Então, pessoas emergiram do nada, tomando forma de pessoas para cada pé que apareceu. Isabella ficou rígida. As pessoas eram criança, adultos, velhos. Várias pessoas.

          Então, no meio daquele monte de gente com olhos arregalados fixo para Isabella, ela viu rostos familiares. Ela arregalou os olhos ao perceber Wendy no meio de umas crianças, porém ela estava pálida. Uma expressão de tristeza e medo. Usava um vestido negro, como todas ali. Ela olhou para outro lado. Viu Nicole, depois avistou Bia. Todos usavam vestidos negros. Os homens estavam em um calção e camisa preta. Os olhos eram negros e brancos.

          ᅳ Nos ajude ᅳ disse uma voz fina e sauve. Isabella olhou para trás para olhar de onde a voz vinha. Era Yasmim. Ela olhava Isabella com os olhos tristes.

          ᅳ Estamos sofrendo ᅳ disse uma outra voz ao lado. Ela olhou e viu um menino.

          ᅳ Nossa alma está queimando ᅳ disse uma voz rouca. Ela sabia de quem era aquela voz. Nicole estava à frente de uma mulher de meia idade.

          ᅳ Por favor, nos ajude. Estamos sofrendo. ᅳ Isabella não conheceu esta voz. Outra voz soou dizendo a mesma coisa. E mais outra, e outra e mais vozes começaram a falar ao mesmo tempo, fazendo a cabeça de Isa doer com a barulheira.

          ᅳ Calem-se! ᅳ Ela gritou, olhando com uma certa angústia para cada pessoa ali, se fossem realmente pessoas. ᅳ Quem são vocês?

           ᅳ Meu nome é Lucas ᅳ disse um menino num canto.

          ᅳ O meu é Letícia ᅳ disse uma mulher de olhos puxados.

          ᅳ João.

          ᅳ Cláudia.

          ᅳ Vânia ᅳ disse uma mulher já idosa.

          ᅳ OK ᅳ disse Isabella. ᅳ Como posso ajudar vocês?

          ᅳ Ele quer matar você ᅳ disse uma mulher próxima de Wendy.

          ᅳ Não confie na Tay. ᅳ Isabella gelou ao ouvir a voz de Wendy. Ela procurou pela amiga, mas não viu ela.

          ᅳ Wendy, cadê você? ᅳ perguntou Isabella apreensiva.

          ᅳ Estamos no inferno ᅳ disse um homem alto. ᅳ Estamos sofrendo.

          ᅳ Como assim?

          ᅳ Não podemos falar ᅳ disse Yasmim. Isabella olhou para ela.

          Então todos começaram a gritar. Era horrível os gritos de tanta pessoas numa sala fechada. Gritos de sofrimento, dor.

          ᅳ Parem! Calem a boca! ᅳ Isabella gritou, mas eles não pararam. Mais gritos.

          Isabella caiu no chão. Os olhos fechados. A mão posta no ouvido para abafar os gritos, então tudo parou. Um silêncio repentino. Ela sentiu a luz entrar por seus olhos quando os abriu e sentiu o calor tocar sua pele. Ela estava na cozinha novamente. Ela levantou devagar. Caminhou até a porta que dava para a sala. Sua cabeça estava tonta. Era impossível para ela aquilo acontecer, então ela deduziu que fora apenas um sonho, um sonho muito estranho.

          Isabella caminhou até o sofá e sentou-se de uma vez. Olhou para porta e depois para as mãos; estas estavam trêmulas. Todo o corpo de Isabella estava trêmulo. Então a luz deixou seus olhos e ela caiu num sono que se chamava desmaio.

(Estou segurando um menino neste exato momento 17/08/2015 às 11:51

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