Capítulo 24

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Não me xinguem no final...

Muitos dizem que a sorte é para todos, mas muitos não sabem que a sorte não existe, o que existe é apenas o destino.

A vontade de Helena era sair dali, o mais rápido que pudesse, levando consigo Isabella. Salvar ao menos a própria pele seria ótimo. Elas tomaram o caminho da estrada. O carro continuava no mesmo lugar com os pneus furados quando elas passaram.

O cansaço era o pior inimigo de Helena naquele momento. A exaustão tomava conta de cada músculo e cada célula. Ela nem sabia como ainda conseguia caminhar, mas seguia firme, determinada a sair dali. Não se incomodava com seus pés doendo, o corpo todo dolorido, ela só queria se afastar o mais rápido daquela casa, daquele canto de morte.

Um pensamento de culpa pesou na sua mente. Se ela não tivesse tido a má ideia de resgatar Becky, talvez Camila não estivesse morta. Talvez se elas nem tivessem ido àquele lugar...

Os olhos dela rapidamente deixaram gotas de lágrimas vazarem. As lágrimas desceram sem prévio aviso, simplesmente chegaram molhando seus olhos.

ᅳ Você está bem, Lena?

Isabella não demonstrava nenhum receio, mas só ela sabia o que se passava por seu psicológico.

ᅳ Sim. Estou bem. ᅳ Helena disfarçou. Passou as costas da mão nos olhos, enxugando-os. Não queria se mostrar fraca num momento daquele. Precisava se mostrar firme, forte, determinada a lutar até o fim.

O caminho seguia sempre reto. Isabella olhou para trás. A casa já estava longe. Elas caminharam rápidas, com uma vontade sobrenatural de nunca parar enquanto não achassem alguém normal por aquelas redondezas.

A noite não estava tão escura. O tempo estava pálido, como se tivessem-no pintado de cinza. O amanhecer não estava tão longe, mas nem tão perto. Faltavam ainda algumas horas para o sol aparecer. O ar estava frio. Um vento gélido acoitava os cabelos de Isabella.

- O que faremos quando chegarmos em casa? - indagou Isa. Helena estava tão absorta na estrada que não percebeu. O silêncio veio em forma de resposta.

Caminhar e caminhar. Elas já deviam ter avançado quase um quilômetro. Os pés de ambas ardiam, mas elas não se importavam. Continuaram caminhando como tinham feito até então. A estrada engolindo as poucas forças que lhe restavam.

Aquela noite não sairia da mente de Helena. Nunca. Tampouco de Isabella. Sentiam medo, medo de que pudessem ser mortas até enquanto caminhassem. Viram as próprias amigas serem mortas. Viram coisas que nunca tinham visto. Viram o inacreditável.

A angústia que predominava no semblante de Isabella iria demorar para se dispersar. Aquele medo de olhar para os lados não iria embora tão cedo. Tinha medo que alguma faca pudesse voar e acertar seu crânio; que alguma coisa invisível puxasse seu pé; medo que Helena corresse e a deixasse ali sozinha.

Isabella parou subitamente. Ficou imóvel no lugar. O olhar rígido como uma pedra. Helena percebeu que a amiga tinha parado.

ᅳ O que houve agora, Isa?

ᅳ Estou com medo, Helena! ᅳ Sua voz saiu trêmula. Sua mão também tremia.

ᅳ Não sinta. Estou aqui contigo. Não deixarei que nada te aconteça.

ᅳ Pega na minha mão. ᅳ Isabella estendeu a mão no ar e ficou esperando que a segurasse.

ᅳ Agora venha. Vamos juntas sair deste lugar.

Elas caminharam por mais alguns minutos, então avistaram o velho posto de gasolina. O posto onde aquele velho morava.

ᅳ Olha ᅳ disse Isa. ᅳ Vamos pedir ajuda àquele velho do posto.

Helena gelou. Rapidamente uma memória veio à sua mente. Lembrou do que Nicole dissera.

ᅳ Não! ᅳ disse. ᅳ Vamos sair daqui. Rápido!

ᅳ Mas porque?

ᅳ Não discuta, Isa. Vamos! ᅳ Helena virou para entrar na floresta, segurando o braço da amiga e puxou-a.

Entraram e correram o mais rápido que puderam. O vento batia forte contra sua pele enquanto Helena puxava Isa. Os galhos arranhando os braços e pernas de ambas. Suas vidas agora se resumiam em correr, se afastar do que tanto lhes causavam medo. Por mais exausta que Isabella estivesse, ela conseguiu correr rápido, veloz. Helena sabia que corria risco se a tivessem visto. Aquele velho era mal, era sujo, não deveria nem ter uma alma. Pararam alguns metros depois. Estava escuro. Isa ofegava, Helena também. Elas não tinham para onde ir. Não sabiam como fugir dali. Se passassem pelo posto seriam pegas. Estavam na mão do destino.

ᅳ Mas porque fugimos? ᅳ disse Isa recompondo-se depois de alguns minutos.

ᅳ Você não lembra o que a Nicole disse? ᅳ Helena olhou para os lados. Nada se mexia, nenhum animal sequer.

ᅳ Sim. Lembrei! ᅳ Isabella olhou para todos os lados. Nenhum sinal de alguém ou alguma coisa. ᅳ Mas então, o que faremos agora?

ᅳ Nada!

Helena quase teve um infarto ao ouvir uma voz rouca já conhecida. Isa caiu rapidamente no chão com o susto que levou. Olharam para trás. Jackson estava bem atrás delas com um sorriso estampado no rosto.

ᅳ O que você quer? ᅳ indagou Helena. Sua voz trêmula quase não saiu.

ᅳ Eu quero você ᅳ ele disse. Pegou Helena rapidamente pelo pescoço e a ergueu no ar. Helena se sacudiu na tentativa de se soltar, mas Jackson era mais forte. Ela ficou sem ar em poucos segundos. Sua face estava sem cor, seus olhos opacos. A dor que a pressão causava estava deixando-a tonta. Sua cabeça rodava com o aperto em seu pescoço.

ᅳ Me solta! ᅳ ela disse enquanto se debatia inutilmente. ᅳ Corre Isa! ᅳ conseguiu dizer lentamente.

Isabella não esperou Helena dizer duas vezes. Levantou e saiu sem rumo, sem saber para onde ir, apenas correu.

Helena já não sabia como respirar, nem sabia como ainda estava viva, só sabia que a vida estava se esvaindo aos poucos. Ela olhou nos olhos deles atentamente, sem piscar. Seus olhos pediam por súplica, enquanto os deles brilhavam. Ela o fitou mais uma vez pedindo por piedade num silêncio tenebroso, então os fechou, entregando-se à morte por inteira. Seu corpo caiu nos braços da morte tão rapidamente quanto uma chuva cai.

Jackson a soltou jogando-a bruscamente. Ela caiu inerte no chão. Não se mexeu; estava morta. Ele olhou para o corpo no chão. Nenhum sinal de vida. Agachou-se lentamente e acariciou o rosto dela com a mão.

ᅳ Você é tão linda ᅳ disse passando a mão pelo corpo todo. ᅳ Pena que tive de fazer isso com você.

Ele abaixou a cabeça vagarosamente e pousou um beijo na bochecha de Helena. Ele sorriu, então olhou para onde Isabella tinha fugido.

ᅳ Estou indo, coisinha linda.

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