Suspirei e finalmente me larguei, o corpo dobrado por cima do encosto do sofá, derrotado. Na minha cabeça, enquanto eu ainda não tivesse colocado os olhos naquela maldita lista, eu não teria de cumpri-la. Mas não era bem assim; quando minha mãe voltasse e visse que eu não havia feito nada, eu provavelmente ficaria de castigo para o resto da vida.
Por isso, fiz o maior esforço do mundo para levantar e me arrastar até a cozinha. Eu estava de meias, o que tornou a tarefa mais fácil e até divertida, já que o chão era de assoalho. Depois de deslizar quatro vezes por todo o corredor, me dei conta de que a meia era branca e de que o chão estava sujo. Merda.
Ou eu teria de lavá-la ou aguentar uma Karen raivosa gritando que não era minha empregada e que iria esfregar elas no meu nariz até sair a sujeira. Decidi ficar com a primeira opção por questões estéticas.
Fui até o alçapão na sala, o qual dava acesso ao porão. Antigamente, essa portinha no chão não existia, sendo apenas as escadas. Porém, uma vez eu havia deslizado de meias por toda a sala e não conseguido parar quando cheguei naquele buraco. O resultado fora um Michael arrebentado e chorando na escuridão do porão na noite de Natal.
O puxei e entrei, não precisando acender nenhuma lâmpada já que haviam janelinhas próximas ao teto que deixavam a luz do sol entrar. Ele era dividido em duas partes, sendo a área de serviço mais ou menos 1/3 dele e o resto uma espécie de sala especial para assistir jogos e filmes.
Um barzinho ficava na parede oposta à televisão gigante, com namoradeiras e estofados enormes. Eu nunca soube a diferença entre essa tal de namoradeira e um sofá normal. Haviam também duas poltronas do papai, sendo uma minha e outra de Daryl. Eu tinha conquistado a minha no meu aniversário de doze anos, já que de acordo com o meu pai eu já era um homenzinho. Uh, claro, um homenzinho que também gostava de homenzinhos.
Mas eu não disse isso a ele por medo de que eu não ganhasse a bendita poltrona que até tremia no modo "massagem". Digamos que eu a aproveitei de várias maneiras durante algumas madrugadas em que me deixaram ali sozinho. Eu era um garoto cheio de hormônios que ficava excitado com qualquer coisa, então uma poltrona que tremia e vibrava era o meu sonho. Tá, eu ainda sou desse jeito.
Andei na ponta do pé até a lavação, com medo de sujar ainda mais as meias, mas sem querer andar descalço. Coloquei elas em uma bacia com branqueador e deixei ali de molho, pegando um chinelo. Eu moeria meus dedos depois esfregando aquilo.
Agarrei o kit limpeza da minha mãe - que nada mais era que um balde com uma porrada de produtos - e olhei lá dentro. Detergente, desengordurante, alguns vidros coloridos com várias flores nos rótulos que eu não fazia a mínima ideia de para que serviam, panos, esponjas estranhas e alguns cabos esquisitos. Aquilo iria com toda certeza me deixar muito puto da cara por não saber como usar.
Peguei em um canto também uma vassoura e algo que parecia um rodo com uma alavanca. Se estava lá e estava gasto, era porque deveria ser útil. Subi cambaleando as escadas e fui até a cozinha.
Larguei tudo no chão e peguei o post-it na geladeira e, conforme eu ia lendo, ia também sendo consumido pela preguiça. Haviam mais de quatro coisas na lista. A letra caprichada da minha mãe me fazia ter vontade de vomitar. Ela poderia estar usando aquela maravilha para algo útil, mas não. Estava lá decretando minha sentença.
Lista de tarefas domésticas:
• Organizar a cozinha
• Limpar os banheiros (inclusive as banheiras)
• Organizar os livros (por ordem alfabética)
• Limpar os guarda-roupas (colocar em uma sacola o que não serve mais e deixar na área de serviço)
• Fazer uma faxina completa no porão
• Limpar a piscina
• Limpar o ranchinho
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the lawnmower boy ❀ muke [c]
FanfictionPara Michael, um viciado em tecnologia, ficar sem celular e arrumar a casa no início do verão parecia ser a forma perfeita para pagar seus pecados; até ver quem ele teria de ajudar a cortar a grama. barakout, 2015 © [finalizada 23/10/2016] aviso:...