2,0 cm

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não sei se todo mundo sabe mas eu mudei de user, então tchau twentymukepilots e oi Headfull

não sei nem como eu estou atualizando porque hoje eu definitivamente vomitei as minhas tripas e estou tremendo tanto que vocês podem me chamar de poltrona do Michael.

não, sério, to mal.

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Tinha tomado mais um comprimido depois do almoço e estava grogue. Aquela coisa era forte demais. Eu podia assistir TV, então passei a tarde jogado na minha poltrona no porão vendo aquele programa de adivinhar o preço e depois episódios de Friends e Mom na Warner, já que eu não podia ligar o notebook na televisão e usar a Netflix.

Aquilo era uma merda: o que eu ia fazer vendo TV se não podia conectar na Netflix já que eu não tinha permissão pra acessar a internet?

Até havia tentado ligar a cadeira e tocar uma, mas só fez doer mais ainda a minha bunda.

Tudo bem. Tudo bem. Um dia eu me vingaria do Luke.

Então eu vegetei lá a tarde inteira, brincando de adivinhar mentalmente o preço de cada móvel e de fantasiar como eu poderia me matar sem morrer e sem levantar da cadeira para fazer parar de doer.

Finalmente, a minha salvação passou pela porta com uma caixa de remédio e água. Quem diria que dar era tão difícil.

"Obrigado." Falei para a soberana quando ela me entregou as coisas e eu bebi.

"O jantar já está quase pronto. Você vai até lá ou quer que eu traga aqui?"

Táticas de filho doente: on.

I. Use voz manhosa.

"Pode ser aqui, mamãe?"

II. Faça uma carinha abatida e ainda assim fofa, tipo a do Gato de Botas. Ou a do Yoda.

Gato de Botas. Shrek. Shrek is love. Shrek is life. Droga, Michael, não ria agora.

"Claro, filhote."

III. Um sorrisinho com os olhos fechados que quer dizer "Você é a melhor mãe do mundo".

"Amo você." E então ela saiu, subindo as escadas enquanto eu comemorava por dentro por não ter que me levantar e sentar em algo duro, zapeando pelos canais.

Bem, não exatamente no que eu gostaria se não estivesse dolorido.

Meio episódio de The Blacklist depois e a propaganda de uma boate gay chamada 7/11¹ no canal vizinho, o barulho da porta arranhando contra o chão foi alto o suficiente para eu sair do meu transe.

Transe. He-he.

"Mamãe, o que a senhora fez de janta?" Perguntei sem tirar os olhos da tela, me sentindo a criancinha que eu havia sido o dia inteiro.

"Você gosta de usar a palavra 'mamãe'?" Questionou Luke, me fazendo dar um pulo no lugar. "E 'papai'?"

E eu não sabia aonde enfiar a minha cara. Rindo de nervoso, consegui soltar um "Para de ser nojento, garoto" e voltar a rir.

Em qualquer outra situação, eu faria piada. Mas não naquela. Não com Luke. Não mais.

Se ele me chamasse de princesa, as chances de eu pular no colo dele e pedir uma coroa eram grandes.

Mesmo que eu tivesse que rebolar para isso.

Eu me lembrava de uma época em que eu era mais macho e não tão carente.

"O maior truque do Diabo foi o de convencer a todos que ele não existe." Recitou Luke junto da propaganda e um clique aconteceu na minha mente, como um gatilho ativado por sua voz.

"Eu já ouvi isso antes..." Comentei, franzindo as sobrancelhas. E não havia sido na TV.

"Eu também tenho essas sensações as vezes. De que algumas coisas são déjà vus." Seu olhar ficou distante e ele sacudiu a cabeça, colocando a bandeja apoiada nos braços da poltrona. "Ahn... Bom apetite."

Olhei para o prato. Era sopa. Sopa. S o p a. Sopa! O que é pior que sopa?

Olhei bem para a cara do Luke, não querendo ser obrigado a colocar tudo aquilo para dentro do meu estômago. "Tem certeza de que você já comeu? Não quer um pouco daqui?" Bati com a colher na porcelana.

Ele deu um sorrisinho de canto e umedeceu os lábios antes de falar.

"Pra ser honesto, eu quero o que está embaixo da bandeja."

Respirei fundo e fechei os olhos por três segundos.

"Você é um pervertido."

"Olha quem fala! Você me comeu com os olhos no primeiro dia em que eu apareci aqui!"

"Você me encoxou no rancho!"

"Você deixou um estranho encoxar você em um rancho!"

"Você deu em cima da minha amiga e dê mim!"

"Eu estava tentando bancar o hétero e olha só aonde isso me levou!" Riu irônico e eu fiquei quieto, me retraindo.

Parecia que de repente eu havia perdido toda a vontade que quase não existia de comer e de olhar para o Luke. Eu não sabia se ele sabia que eu sabia o que havia acontecido com ele, mas eu me senti culpado. Foi por minha causa, por me olhar e por eu retribuir que a mãe dele fez o que fez.

O cara estava passando necessidades por minha culpa.

"Você tá bem?" Luke se aproximou de novo e correu um dedo pela minha bochecha, parando com a palma na testa.

Fiz uma careta e neguei, tirando a bandeja do meu colo e colocando na mesinha de centro. Sussurrei um "Desculpa" e andei o mais rápido possível até a escada.

Não doeu. No meu interior, eu sabia que boa parte daquela bunda dolorida era tudo coisa da minha cabeça e eu só queria minha mãe cuidando de mim de novo. Ou alguém fazendo isso.

Tinha me distanciado de receber carinho. De realmente sentir algo de verdade, sem levar tudo na brincadeira.

Eu não me orgulhava da pessoa que eu vinha sendo, despreocupado com tudo, mas também não via um motivo para mudar.

Até agora.

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rsrsrsreferenciasrsrsrsuccubusrsrsrsr

¹. seven eleven 7/11 @brxxklyns. boatos que elas se ligam.

era para ser maior mas fica para o próximo porque, é, nada bem aqui. só para não ficar sem att mesmo =]

Michael ficou sério nesses últimos parágrafos credo.

the lawnmower boy ❀ muke [c]Onde histórias criam vida. Descubra agora