Lembranças

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Olá amores, mais um pedacinho da história para vocês.Espero que gostem, então vamos lá ótima leitura

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E se por ventura meus pais estivessem sabendo agora estariam preocupados, mas seria com a possibilidade de ter que devolver o que receberam.

Eles eram os penúltimos, os procriadores. A casta que fornecia crianças em maior quantidade para a preparação da encomenda. Meninas para a sacerdotisa, que as encaminharia para seus destinos. Meninos para o monge, que os encaminharia para as funções, geralmente no exército.

A cada menina entregue, um ano de subsídios do império; a cada menino, um ano de isenção de impostos, e por cada gravidez confirmada, uma pensão extra e um ano de cesta de alimentos básicos.

Era um negócio lucrativo ter filhos. A penúltima casta sobrevivia fornecendo quantas crianças pudessem.

Sem nome... Era engraçado não termos nome, nenhum filho tinha. O meu variou, o primeiro que me lembrava foi Seis, depois esse era passado para o mais novo e eu ganharia um novo, Sete.

Meu último nome foi Próxima. Ganhei-o depois de me chamar Quatorze. Então eu sabia que tinha quinze anos. O nome Próxima correspondia ao limite onde meus pais podiam me nomear. A partir daí eu não teria um nome final até que meu senhor o desse. Também não poderia pedir um, ele me daria quando quisesse, ou eu merecesse.

Saí de meus pensamentos quando percebi Eva se aproximando. Me encolhi novamente, não queria ser rebelde, nem queria ofendê-la, mas era um medo irracional. Já tinha sentido o peso de sua mão e poderia sentir de novo, ou até pior, podia sentir o corte de seu chicote.

Meus pais me ensinaram e mostraram o que um senhor poderia fazer comigo, cresci ouvindo isso, mas ao contrário do que minha mente apavorada me dizia, ela me levantou com delicadeza e me guiou até uma pequena porta.

— Vai entrar alguns criados para me ajudar com o seu banho, ficará assustada com a movimentação, então entre aqui no vestíbulo que logo virei buscá-la.

Ela fechou a porta e fiquei ali no escuro. O minúsculo cômodo tinha um cheiro agradável de roupa limpa, não tinha espaço para eu me deitar, somente se encolhesse as pernas, não importava, eu me sentia bem ali dentro. Me sentia... Protegida.

Novamente a porta foi aberta e Eva me tirou dali. Era involuntário, meu coração disparou assim que a porta abriu, mas não resisti dessa vez.

Eva me levou para outro cômodo do quarto e ali tinha uma banheira no meio, muitas coisas para higiene em cima de uma mesa polida em um canto e um pano imenso cobrindo um espelho em cima da mesa.

Me deixou olhar tudo em silêncio e então segurou minha mão.

— Me desculpe pelo tapa. Não era punição nem nada disso, era somente para acalmar sua histeria, aquele sangue todo que viu é uma coisa normal e vai ter que conviver com ele todos os meses.

Então entendi que era meu ciclo, apenas não entendia como ele tinha chegado assim tão estranhamente e porque era tanto sangue.

Ela continuou. — Está entendendo o que digo?

Afirmei silenciosa. Eram conversas tão normais entre os da minha casta que não tinha como não participar e entender. Minha mãe esperava o ciclo como uma dádiva quando estava grávida e como um castigo quando não estava.

Se não estivesse grávida teria que tentar engravidar o mais rápido possível; e se estivesse, queria que nascesse logo para engravidar de novo, e se demorasse mais de dois meses então ela começava a receber clientes.

Tratado dos Párias- Príncipe CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora