Um amigo?

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Este capítulo foi uma provação para mim, então se estiver incoerente peço desculpas, mas não pude realmente revisar fiquei sem luz o dia todo.

Olhei para Eva mal escondendo meu desespero, para minha sorte ela agiu normalmente como a mãe pronta a acolher todos os medos de sua filha. Era nossa certeza que Samuel tinha plantado uma espiã em nossa casa para saber meus reais sentimentos por ele.

— Querida não se preocupe, você não vai ser escolhida por mais ninguém, irá se casar com Samuel e será muito feliz.

—Tomara que sim mamãe, eu não sei o que faria se não pudesse ficar ao lado de meu grande amor.

Senti nojo de mim mesma ao falar aquilo, nojo de como aquela frase saiu da minha boca, mas era necessário encenar.

Não precisava estar ali, nem rever Samuel ou enfrentar meu maior medo que era seus olhos, mas sem mim, os sombrios iriam ficar no escuro.

Só eu sabia do ocorrido no passado, então eu era a única que saberia o que procurar, quais rostos observar. Quem tivesse planejado tudo estava tranquilo achando que ninguém sabia que houve um plano de boicote porque não devia existir uma sobrevivente.

A desculpa do rei quando foi procurado sobre a encomenda é que cumpriu o acordo, as meninas foram levadas vivas ao templo, se aconteceu alguma coisa lá era problema da sacerdotisa e era ela que teria que prestar conta. Mas ela nunca mais foi vista depois daquele dia.

Então, depois de tentar pela lei do tratado e não ter conseguido nada aqui estávamos nós. Vou dar tudo de mim, tenho motivos maiores para querer que a raça sombria não suma. Eles merecem mais que os humanos, não tratam sua própria raça com desrespeito e nem mesmo os que eles tomam sob sua proteção, então eu dei a ideia e depois de muitos nãos e mais argumentos e discussões, acabaram aceitando minha ajuda.

Ainda acho que Samuel é precavido, por isso mandou as criadas e me sinto incomodada na presença delas. Não tinha como saber qual das três era a espiã, então via as três como inimigas e iria atuar sempre que o cheiro delas estivesse por perto.

Era uma situação enfadonha aquele mimo todo, óleo perfumado por todo o corpo, aparar e pintar cada unha, limpar a pele do rosto e busto com cremes. Deitei e fingi dormitar para ter paz, era cansativo ser quem não era o tempo todo. Voltei a lembrar do dia em que estava na banheira com Eva me esfregando...

Tinha acabado o banho. Ainda não conseguia perder o medo constante de ser surpreendida por um dos três irmãos. Eva me enxugava e parecia um pouco preocupada.

— Querida, quero que fique calma, mas você não é a mesma de antes, aliás, é você mesma, apenas está com um corpo diferente.

Eu não tinha entendido nada do que ela tinha dito. Entendi quando olhei o espelho. Não era uma menina que estava de frente a ele. A aparência era de uns vinte e quatro anos, o corpo esguio.

Os cabelos escuros e ondulados caíam livres pelos meus ombros. Meus olhos que até então eram castanhos cor de mel, agora era de um verde acastanhado tão claro que eu fiquei com medo de mim mesma.

Meus seios eram fartos e firmes e minha pele estava clarinha, sedosa e sensível depois de ter sido tão esfregada. A única coisa que destoava o corpo perfeito era o ferimento perto do meu umbigo ao lado direito, passei a mão pela mancha azulada em volta do corte quase sarado.

Eva colocou a mão em cima da minha. —Vai sumir essa mancha e apenas uma cicatriz ficará aí, essa cor é pela enfermidade, a mistura se concentrou, pois estava inflamando, vai ver, logo não terá mais essa cor.

Assenti para ela pelo espelho e passei a mão pelo meu rosto ainda estranhando tanta mudança. Não senti medo do que via ou como aconteceu. Estava apenas deslumbrada de que algo tão fantástico pudesse acontecer comigo depois de tudo o que tinha passado até ali.

Tratado dos Párias- Príncipe CaçadorOnde histórias criam vida. Descubra agora