Capítulo 3

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Acordei com o irritante toque do meu celular. 
Sabia que não deveria ter saído e nem me lembrava direito da hora que havia chegado em casa. Provavelmente tia Tabatha havia me dado um belo e longo sermão sobre bebidas. Porém eu não podia vir para Dakota e não falar com meus antigos amigos e festejar um pouco minha chegada nada desejada ou planejada.
É claro que eu não imaginei que meus avós me jogariam realmente para tia Tabatha. Apesar das ameaças, eu fui o famoso Tomé, precisei ver para crer e aqui estou eu, sendo obrigado a acordar cedo, muito mais cedo que um aluno comum. Massageei minhas têmporas e me ergui, desligando o alarme do celular. Milagrosamente Amberthy não havia invadido meu quarto e me cobrindo de reclamações por encher o saco da sua querida mãe, já que minha prima sentia prazer em tentar fazer eu me sentir mal por atrapalhar os planos de vida de minha tia. 
Tomei um banho rápido e desci as escadas, chegando à cozinha e observando minha tia que já estava sentada na mesa tomando café, usando seu uniforme de enfermeira e comendo suas panquecas como se aquela fosse a última refeição que faria na vida. Sua filha também estava lá, Amberthy me encarou com um típico olhar insatisfeito assim que eu cheguei.
— Bom dia. — Falei, sem muito interesse, pegando um pouco de café e me sentando, sentindo o olhar irritado da minha tia sobre mim. — Quer falar algo, tia Tabatha?
— Sabe que já falei tudo o que tinha para falar ontem, Dante. — Disse ela, com a boca meio cheia, bebendo um gole de café. — Apesar de ainda estar irritada, não vou brigar de novo com você, toma. —  Minha tia deu um suspiro e desfez a carranca mau humorada, jogando a chave da moto para mim. — Vai para escola e não faz eu me arrepender.
Amberthy revirou os olhos e eu sorri, guardando a chave no bolso e observando minha tia, que tinha uma grande semelhança com minha mãe, em vários aspectos. Porém empurrei toda e qualquer lembrança de Leona Montreal para o espaço mais profundo e inalcançável da minha mente, continuando a tomar meu café. 
Tabatha saiu primeiro com a filha, que insistia em chegar cedo demais para ter tempo de planejar qualquer coisa nerd com seus amigos ainda mais nerds que ela. Eu saí por último, tranquei bem  a casa e segui para a garagem, entrando no local e sorrindo ao observar a bela Harley preta e lustrosa da qual eu cuidava tão bem. Havia ganhado a moto dois anos atrás, o último presente que meu pai me deu e mesmo depois de todo esse tempo ela parecia que havia acabado de sair da loja. Montei na moto, girei a chave e o ronco do motor encheu a garagem. Manobrei e, instantes depois, eu estava pilotando, talvez um pouco acima do limite de velocidade, em direção ao Saints Louis School. Quando eu cheguei o estacionamento já estava cheio de adolescentes e alguns professores. Estacionei a moto e tirei meu capacete, observando aquele monte de alunos por alguns instantes.
Ajeitei minha mochila sobre o ombro e consertei a jaqueta que usava, a manhã estava fria, pensando bem tudo sempre era um pouco frio em Dakota. Sabia que o dia seria atípico, afinal eu era o aluno novo e isso era sempre desgastante. Caminhei para dentro do prédio de aulas, sentindo os olhares sobre mim, ouvia cochichos para todos os lados, estava caminhando com a expressão mais indiferente possível, decidido a encontrar meu armário. Porém, antes que eu continuasse minha busca, um pequeno burburinho chamou minha atenção.
Um grupo de garotas estava rodeando uma outra pessoa e disparavam perguntas emboladas que eu duvidava muito que alguém conseguisse entender. Me aproximei devagar, ouvindo os risos femininos, e não pude evitar um meio sorriso ao ouvir algo como “Ele é tão lindo”, num pequeno coro bem alinhado. Parei frente ao grupo que gargalhava, olhando para as garotas e vendo seus sorrisos cessarem pouco a pouco, dando lugar a expressões bobas e nervosas. 
Apesar de todas as garotas já estarem estáticas em seus lugares, uma delas ainda continuava de costas pra mim, vi uma outra cutucar a morena discretamente, então ela se virou, seu sorriso também se desfez lentamente, seus olhos castanhos capturaram os meus e eu a apreciei enquanto os olhos dela percorriam-me de cima a baixo. 
Tinha de admitir que, por algum motivo, a beleza dela me pareceu mais chamativa do que todas as outras, apesar de minha consciência frisar que ela parecia bastante comum fisicamente. Seus belos olhos castanhos se fixaram novamente nos meus e eu sorri uma vez mais.
— Bom dia meninas, alguma de vocês pode me ajudar com meu armário? — Perguntei num tom zombeteiro, vendo a morena de olhos castanhos, que agora eu notei ser muito baixa para alguém que já estava num dos dois últimos anos do ensino médio, foi empurrada para frente. — Temos uma voluntária? — A expressão meio boba deu lugar a um lampejo de insatisfação e irritação, o que me surpreendeu um pouco, afinal não estava acostumado com aquele tipo de reação, salvo minha tia Tabatha e sua filha.
— Infelizmente. —  Falou ela, sua voz era melodiosa e me causou um estranho arrepio na nuca — Vem comigo e tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.
Ela me surpreendia cada vez mais, quem diria que uma garota tão sorridente teria uma língua tão afiada? Caminhei ao lado dela enquanto seguíamos pelo grande corredor. A garota parecia um pouco aérea em sua tarefa e por um momento eu achei que ela tinha esquecido que estava me ajudando a encontrar meu armário. Tive a certeza que ela se distraiu por alguns instantes quando me encarou, piscando repetidas vezes e fazendo um bico discreto.
— Qual seu nome? — Perguntou em seguida, me fazendo sorrir novamente, vendo suas sobrancelhas se unirem, provavelmente imaginando que eu estava pensando besteira, e talvez eu estivesse mesmo. — Para encontrarmos seu armário. — Se justificou rapidamente. 
— Dante. — Respondi após alguns instantes, sorrindo levemente e recebendo um novo olhar irritado, acompanhado por passos rápidos.
A garota não demorou mais do que alguns minutos para encontrar meu armário. Talvez eu pudesse ter feito isso sozinho se andasse um pouco mais antes de falar com as garotas. Antes que eu tivesse tempo de agradecer, a esquentadinha de cabelos castanhos se virou, pronta para ir embora sem sequer se despedir, o que me instigou a provocá-la um pouco mais.
Ela me parecia estranhamente interessante e, apesar de não fazer meu tipo de forma alguma, era instigante. A ouvi protestar no instante em que segurei seu braço, a impedindo de seguir seu caminho, tocando a pele macia e quente da garota, observando suas feições surpresas mudarem rapidamente para uma nova expressão de irritação.
— Não acha injusto sair sem se apresentar? Onde está a receptividade que tanto falam dos cidadãos do estado de Minnesota? — Perguntei sarcasticamente, soltando seu braço no momento que ela o puxa com certa grosseria. —  Qual seu nome?
Por um momento duvidei que a garota fosse responder minha pergunta, seu olhar era um pouco perigoso e eu não conseguia pensar como alguém tão pequena conseguia se irritar com tanta facilidade e intensidade tão rápido.
— Aurora. — Falou, sem me dar tempo de falar mais nada, se virando e indo embora rapidamente.
Maneei a cabeça para os lados e suspirei, rindo comigo mesmo. O dia havia começado de forma interessante e, talvez, estar aqui não fosse tão ruim como eu imaginei que seria.

A conselheira Amorosa Onde histórias criam vida. Descubra agora